Londres — Após a morte do Papa Francisco, nesta segunda-feira (21), as redes sociais do Vaticano passaram por ajustes para refletir a vacância do cargo de líder da Igreja Católica.
No X (antigo Twitter), o perfil oficial @Pontifex, que acumula aproximadamente 50 milhões de seguidores em nove idiomas, foi renomeado para Apostolica Sedes Vacans, frase em latim indicando que o cargo está temporariamente sem ocupante, e nada mais foi postado desde 20 de abril.
No Instagram, a conta @franciscus, seguida por cerca de 10 milhões de pessoas, manteve seu nome, permitindo que o legado digital do Papa permanecesse acessível até a escolha do novo pontífice. Não foram postados novos conteúdos em vídeo após mensagem de Páscoa. A notícia da morte apareceu em um storie levando ao comunicado oficial.
A ausência no Facebook e os motivos por trás da decisão
O Papa Francisco não tinha uma conta pessoal no Facebook, mas o Vaticano mantinha perfis oficiais que compartilhavam suas mensagens e atividades.
O motivo, de acordo com uma entrevista do arcebispo responsável pela comunicação da Santa Sé, Claudio Maria Celli, ao ser questionado sobre isso em 2024, era o nível de abuso recebido na rede social.
Como funciona a transição nas redes sociais após a morte do Papa?
A transição das redes sociais de um Papa para outro é algo relativamente novo, sem regras seculares como as que regem a escolha do novo ocupante do chamado “trono de São Pedro”.
A conta no então Twitter foi aberta no papado do antecessor de Francisco, Bento XVI, em 2012, em uma época em que as mídias digitais ainda estavam longe do alcance atual.
O momento em que seu sucessor assumiu a liderança da Igreja Católica, em 2013, coincidiu com a arrancada das mídias digitais como fonte de informação, entretenimento e também desinformação e discursos de ódio— dos quais nem o popular e admirado Francisco ficou imune.
Leia também | Papa Francisco volta a bater nas redes sociais: ‘relações humanas reduzidas a meros algoritmos’
Francisco e as redes sociais: estratégia e espiritualidade
Durante seus 12 anos no posto, o Papa soube utilizar as mídias digitais com maestria. Sua abordagem foi estratégica, combinando mensagens espirituais com uma comunicação moderna e acessível.
O conjunto de contas no X, uma delas em latim, tornou-se um dos maiores entre os líderes mundiais. As postagens são feitas em português, inglês, espanhol, francês, alemão, italiano, polaco, árabe e latim. O inglês e o espanhol são os líderes em visualizações.
O Instagram @franciscus consolidou-se como um espaço para imagens e vídeos marcantes das celebrações e encontros do pontífice com personalidades, visitas de autoridades e viagens internacionais.
Mensagens, hashtags e alcance global nas plataformas
Os conteúdos publicados eram cuidadosamente escolhidos para amplificar sua mensagem de fé, solidariedade e justiça social. No X, os posts eram predominantemente mensagens curtas de reflexão espiritual, muitas vezes acompanhadas de hashtags temáticas.
O Papa Francisco frequentemente usava o X para compartilhar frases inspiradoras como:
“A misericórdia de Deus é infinita e nos chama a sermos misericordiosos uns com os outros.”
No Instagram, suas postagens incluíam fotos e vídeos de celebrações religiosas, como a missa do Domingo de Páscoa, que frequentemente recebiam centenas de milhares de curtidas. Há posts com mais de 2 milhões de visualizações.
O Vaticano não informou como ficam as redes após a escolha do novo Papa, uma decisão que deverá passar pelo eleito para suceder Francisco.
Críticas, desinformação e os limites das redes sociais no radar do Papa
Apesar de sua popularidade, Francisco sempre alertou sobre os riscos das redes sociais, como a desinformação e o isolamento digital.
Em 2019, ele destacou que, embora as redes conectem as pessoas, também podem reforçar o autoisolamento e serem usadas para manipular dados pessoais.
Em 2023, o Vaticano publicou um guia para cristãos sobre o uso responsável das redes sociais, inspirado na parábola do Bom Samaritano.
Memes icônicos e o Papa pop: entre o humor e a fé
Ao longo dos anos, o Papa Francisco foi alvo de memes criativos e, ao mesmo tempo, de críticas e fake news que levantaram debates sobre ética e desinformação.
Um dos mais emblemáticos surgiu em 2023, quando uma imagem gerada por inteligência artificial o retratou usando um casaco branco estilo “puffer” da marca Balenciaga, lembrando vagamente a vestimenta papal.
Criada por Pablo Xavier, um trabalhador da construção civil de Chicago, a imagem viralizou rapidamente, confundindo muitos usuários que acreditaram ser real.
Essa criação foi parte de uma série que também incluía o Papa usando óculos estilosos e roupas de grife, transformando-o em um ícone fictício da moda.
Fake news, IA e o desafio da manipulação digital
Apesar do tom leve dos memes, o Papa Francisco também enfrentou o lado sombrio das redes sociais.
Fake news atribuíram a ele declarações falsas, como mudanças radicais na doutrina da Igreja Católica ou frases controversas que nunca foram ditas.
Além disso, rumores sobre sua saúde e até sua morte circularam antes de seu falecimento oficial, alimentando a desinformação.
Essas polêmicas levantaram questões sobre os limites éticos do uso de tecnologias como inteligência artificial para manipular imagens e criar narrativas falsas.
Especialistas alertam para o impacto dessas práticas na percepção pública de figuras importantes e na disseminação de desinformação.
O legado do Papa nas redes sociais após a morte: entre os altares e os algoritmos
O Papa Francisco deixa um legado que transcende a religião, marcando presença tanto nos altares quanto nos feeds das redes sociais.
Seus memes e polêmicas refletem o poder das plataformas digitais em moldar a imagem de líderes globais, ao mesmo tempo que destacam a necessidade de responsabilidade e discernimento na era da informação.
Agora, com a transição do papado, fica a expectativa de como o próximo líder da Igreja Católica utilizará as redes sociais. Manterá o mesmo estilo acessível de Francisco ou buscará uma abordagem diferente?
O que é certo é que o impacto digital do Papa Francisco deixou um precedente para a evangelização na era das mídias sociais, mostrando como a tecnologia pode ser usada para propagar mensagens de fé e união.
Leia também | Papa Francisco deixa legado de transparência na relação com a mídia e ‘evangelização’ sobre riscos das redes sociais