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Trump, 100 dias: os ataques à imprensa em 10 números, segundo a Repórteres Sem Fronteiras

Donald Trump com bandeiras dos EUA ao fundo

Em seus primeiros 100 dias na presidência dos Estados Unidos, Donald Trump foi muito além de sua já conhecida animosidade contra jornalistas e veículos de imprensa considerados por ele “inimigos do povo”, surpreendendo até os pessimistas com ataques ainda mais violentos e extensos contra a liberdade de imprensa. 

A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicou um levantamento com 10 números impactantes que ilustram o que chamou de “ataque inconstitucional do governo Trump à liberdade de imprensa e ao direito a informações confiáveis” nos EUA e no mundo.

Segundo a RSF, Trump atacou a credibilidade, independência e sustentabilidade da mídia tanto pessoalmente quanto no exercício do cargo.

A organização recorda que, durante a campanha presidencial, ele já despejava insultos contra jornalistas e ameaçava mobilizar o aparato estatal contra os meios de comunicação que criticavam suas ações.

“Nos primeiros 100 dias, ele mostrou que não estava blefando”, afirma a Repórteres Sem Fronteiras sobre os ataques do presidente à imprensa. 

Em 100 dias, os ataques da guerra de Trump contra a imprensa em 10 números

74 dias de banimento da Associated Press 

A Associated Press (AP) foi proibida de participar de eventos da Casa Branca como forma de retaliação pelo uso da denominação Golfo do México em reportagens, um exemplo de pressão indevida contra a imprensa.

Esta ação sinalizou aos demais veículos que reportagens críticas poderiam resultar em sanções políticas, aponta a Repórteres Sem Fronteiras. 

Apesar de um juiz federal decidir que o governo deve restabelecer o acesso da agência de notícias, a Casa Branca continuou a limitar o acesso da AP.

8.000+: Páginas governamentais apagadas

Segundo a RSF, páginas web oficiais sobre saúde, meio ambiente e segurança foram removidas de sites federais logo após a posse de Trump, dificultando o acesso a informações essenciais para a sociedade e a imprensa.

Essa remoção prejudicou a fiscalização pública e o trabalho jornalístico baseado em dados confiáveis.

64 Postagens ofensivas na Truth Social

Segundo levantamento da RSF, Trump utilizou sua rede Truth Social para atacar jornalistas em 64 ocasiões apenas nos primeiros meses de governo.

A perpetuação da hostilidade contribuiu para o aumento das ameaças reais contra profissionais da mídia.

4 Processos judiciais contra veículos de imprensa

A RSF observa que Trump entrou com processos judiciais contra quatro grandes veículos de mídia, em ações que configuram tentativas claras de intimidação.

Trump encerrou um processo contra a  ABC após acordo extrajudicial, e segue com ações contra a CBS, o The Des Moines Register, o grupo editorial Gannett e o Pulitzer Center por causa da cobertura que considerou tendenciosa.

As ações criam um ambiente de medo para o jornalismo investigativo e reduzem o espaço para críticas legítimas.

427 milhões: Audiência semanal mundial silenciada

A audiência semanal dos meios financiados pela USAGM (Agência dos EUA para Mídia Global), incluindo a Voice of America (VoA) e a Radio Free Europe / Radio Liberty foi interrompida por cortes e dispensa de seus profissionais. 

A RSF alerta que a ausência dessas fontes favorece regimes autoritários, como Rússia e China.

Ações judiciais movidas por funcionários das organizações de mídia, em conjunto c0m a RSF, resultaram em liminares determinando liberação temporária de recursos e readmissão dos demitidos, mas o mérito das causas ainda não foi julgado e haverá uma longa batalha judicial pela frente. 

3.500+: Jornalistas ameaçados de demissão

A RSF aponta que o plano de fechamento da USAGM ameaçou diretamente os empregos de milhares de profissionais da mídia, muitos dos quais são estrangeiros que podem enfrentar perseguições graves se deportados.

A segurança de jornalistas foi colocada em risco, além da liberdade de imprensa internacional.

180 Rádios públicas em risco

Conforme alerta a RSF, o corte proposto de US$ 1,1 bilhão à Corporation for Public Broadcasting colocaria em risco cerca de 180 rádios públicas, com impacto especialmente severo em comunidades rurais.

A diminuição do acesso à informação em regiões isoladas comprometeria serviços básicos e de emergência.

13 Indultos a agressores de jornalistas

De acordo com a Repórteres Sem Fronteiras, Trump perdoou 13 indivíduos envolvidos em atos violentos contra jornalistas durante a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. 

A atitude reforçou uma cultura de impunidade para a violência contra a imprensa.

6 Pressões políticas sobre a FCC

A RSF denuncia que a Casa Branca pressionou a FCC (Federal Communications Comission) a investigar empresas de mídia críticas ao governo, comprometendo a independência regulatória da comunicação no país.

Brendan Carr, coautor do manual do “Projeto 2025” e presidente da FCC,  abriu investigações e fez ameaças implícitas ou explicitas politicamente motivadas tendo como alvos a a CBS, a holding da ABC Disney, a holding da NBC Comcast, as emissoras públicas NPR e PBS e a estação de televisão da Califórnia KCBS.

Esse tipo de pressão ameaça a liberdade editorial e pode levar à autocensura.

US$ 1,60: o custo anual da mídia pública por cidadão

Segundo a RSF, mesmo com um custo irrisório — apenas US$ 1,60 por ano por cidadão —, Trump ameaçou eliminar totalmente o financiamento da mídia pública, colocando em risco sua sobrevivência.

O corte afetaria principalmente a programação educacional e os alertas de emergência em áreas carentes de serviços privados de comunicação.

Impacto global: o efeito Trump no mundo

A Repórteres Sem Fronteiras alerta que os ataques de Trump contra a imprensa nesses 100 dias  inspiram práticas semelhantes em outros países.

Governantes autoritários usam a retórica de Trump como justificativa para restringir ainda mais a liberdade de imprensa em seus territórios.

“O caos do dia-a-dia do ciclo de notícias políticas americanas pode dificultar o balanço completo das mudanças sísmicas que estão acontecendo. Mas quando você dá um passo para trás e olha para o quadro completo, o padrão de golpes para pressionar a liberdade é bastante claro”, disse Clayton Weimers Diretor Executivo da RSF América do Norte. 

“A RSF se recusa a aceitar esse ataque massivo à liberdade de imprensa como o novo normal. Continuaremos a denunciar esses ataques contra a imprensa e usaremos todos os meios à nossa disposição para lutar contra eles. Pedimos a todos os americanos que valorizam a liberdade de imprensa que façam o mesmo”, completou. 

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