50 anos do fim da Guerra do Vietnã: a história por trás da icônica foto ‘Napalm Girl’

Nick Út e Phan Thi Kim Phúc se encontraram quando a imagem que definiu a guerra completou o 50º aniversário

Foto Napalm Girl Nick Út Guerra do VietnãO fotógrafo vietnamita Nick Út e a foto Napalm Girl (reprodução Instagram)

Londres – Nas comemorações pelos 50 anos do fim da Guerra do Vietnã, neste 30 de abril, é impossível ignorar o poder das imagens que marcaram o conflito, com destaque para a “Napalm Girl”, capturada pelo fotógrafo vietnamita Nick Út em 1972.

A imagem retrata Phan Thi Kim Phúc, então uma menina de nove anos, correndo nua e em agonia após um ataque de napalm. Ela se tornou um símbolo das atrocidades da guerra e um marco do fotojornalismo, ganhando o Prêmio Pulitzer.

Recentemente, a foto foi alvo de uma polêmica levantada pelo documentário The Stringer, exibido no Festival de Sundance em janeiro deste ano. O filme questiona a autoria da imagem, alegando que outro fotógrafo, Nguyen Thanh Nghe, poderia ser o verdadeiro autor.

No entanto, a Associated Press, para quem Nick Út trabalhava, reafirmou-o como o legítimo fotógrafo após uma investigação independente, e Kim Phúc também defendeu Út, destacando sua importância não só como fotógrafo, mas como a pessoa que salvou sua vida ao levá-la ao hospital.

Lembrando a foto Napalm Girl 50 anos depois

Em 2022, quando a foto completou 50 anos, ela se encontrou com Út em um evento comemorativo no museu Fotografiska New York para falar sobre fotografia e guerra.

Phan Thi Kim Phúc, a Napalm Girl, e o fotógrafo Nick Ut, em encontro sobre a foto icônica da Guerra do Vietnã
Phan Thi Kim Phúc e Nick Ut se reencontraram em evento sobre os 50 anos da icônica foto na guerra do Vietnã (Foto: Reprodução/Instagram/
Fotografiska New York)

Apesar de a foto de Phan Thi Kim Phúc ser conhecida “Napalm Girl”, apelido surgido pela forte comoção que sua imagem causou em todo o mundo, o verdadeiro título dela é “Accidental Napalm”.

Em artigo para o Washington Post, quando a foto fez 50 anos, Nick Tú contou que, no dia 7 de junho de 1972, soube que estavam ocorrendo combates em Trang Bang, uma pequena vila a cerca de 48 quilômetros de Saigon. A região havia sido ocupada pelas forças norte-vietnamitas.

“Acabei chegando a uma vila destruída por dias de ataques aéreos. 

Os moradores estavam tão cansados ​​das constantes batalhas que fugiram de sua aldeia para buscar refúgio nas ruas, debaixo de pontes ou onde quer que pudessem encontrar um momento de calma.

Ao meio-dia, eu tinha as fotos que eu achava que precisava. Eu estava me preparando para sair quando vi um soldado sul-vietnamita lançar uma bomba de fumaça amarela, que servia como sinal de alvo, perto de um grupo de prédios.

Peguei minha câmera e alguns segundos depois capturei a imagem de um avião lançando quatro bombas de napalm na vila.”

Uma garotinha fugindo do mortífero napalm na Guerra do Vietnã

Ele lembra que, ao se aproximar do local bombardeado, viu pessoas fugindo do napalm — uma bomba incendiária feita com líquidos inflamáveis à base de gasolina gelificada.

Foi nesse momento que ele ouviu uma garotinha gritando: “Nong qua! Nong qua!”; “Muito quente! Muito quente!”.

“Olhei pelo meu visor [da câmera] Leica e vi uma jovem que havia tirado suas roupas em chamas e estava correndo em minha direção. Comecei a tirar fotos dela.”

O fotógrafo ajudou Kim Phúc e as outras crianças que aparecem nas imagens — irmão, primos e vizinhos da menina — levando todas na van da AP para o hospital mais próximo.

Chari Larsson, professora sênior de História da Arte na Griffith University, na Austrália, detalha em artigo para o site de divulgação científica The Conversation como a foto atrai e comove espectadores 50 anos depois.

Fotógrafo Nick Út e Phan Thi Kim Phúc, retratada na icônica foto da Guerra do Vietnã Napalm Girl
Fotógrafo Nick Út e Phan Thi Kim Phúc, retratada na icônica foto da Guerra do Vietnã Napalm Girl (Reprodução Instagram Nick Út)

“No primeiro plano à esquerda, há um menino gritando de terror. À direita, de mãos dadas, mais duas crianças correm.

O olhar do espectador move-se inquieto pela fotografia, em busca de detalhes. Um fotógrafo recarrega o filme em sua câmera.

Soldados estão andando casualmente atrás das crianças, aparentemente indiferentes à sua angústia. A justaposição é marcante e eleva o registro emocional da fotografia: espera-se que os soldados ajudem e prestem assistência.

A imagem tem uma textura granulada muito diferente da suavidade da fotografia digital contemporânea. A profundidade de campo é truncada devido à tela de fumaça ondulante. Sem horizonte para oferecer descanso, o olhar do espectador é forçado a voltar para a menina.”

‘Napalm Girl’ quase não foi publicada em jornais

Larsson explica que inicialmente a fotografia de Nick Út foi rejeitada pela AP por causa da nudez da menina. Na época, a nudez frontal era considerada uma violação do decoro.

Mas a decisão foi anulada por Horst Faas, editor-chefe de fotografia da agência no Vietnã, e a imagem foi reproduzida por jornais de todo o mundo.

Conhecida informalmente como “Napalm Girl”, aos poucos a história em torno da menina e das demais crianças da icônica foto começaram a surgir.

No artigo para o Washington Post, o fotógrafo conta que Phan Thi havia sofrido queimaduras de terceiro grau em 30% do corpo.

“Uma vez estável, ela foi transferida de Cu Chi para o hospital infantil em Saigon e, depois para uma unidade de queimados.

Mas seus ferimentos não foram os únicos feridos que Kim Phuc sofreu no ataque. Ela perdeu dois sobrinhos e um de seus irmãos também ficou gravemente ferido.”

O fotojornalista conta ainda que o hospital se recusou a admiti-la por causa da quantidade de soldados que estavam chegando.

“Eu sabia que ela morreria se não recebesse ajuda imediata. Mostrei a eles meu crachá de imprensa e disse: ‘Se uma dessas crianças morrer, vou garantir que o mundo inteiro saiba’.

Então eles levaram Kim Phuc para dentro. Nunca me arrependi da minha decisão.”

O Vietnã e a fotografia de guerra 

A professora Chari Larsson destaca que a guerra no Vietnã foi a primeira a ser televisionada. Equipes de televisão documentaram a fuga da jovem Kim Phuc, mas a imagem estática de Út alcançou notoriedade e se incorporou na memória coletiva.

“A fotografia teve um impacto imediato e generalizado. Ela apareceu em jornais e revistas influentes, incluindo Life e Newsweek.

Seu lugar na história do fotojornalismo foi garantido quando ganhou o Prêmio Pulitzer de Spot News Photography e o World Press Photo em 1973.”

Redação MediaTalks
Gostou do nosso conteúdo? Compartilhe nas redes sociais. E inscreva-se gratuitamente para receber MediaTalks em seu email, com notícias internacionais sobre jornalismo, plataformas digitais, informação e desinformação.
error: O conteúdo é protegido.