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Trump ganha round em batalha para fechar Voice of America: tribunal cancela recontratação de funcionários

Fachada da agência de notícias Voice of America, em Washington DC, cujo fechamento foi determinado por Donald Trump

Prédio da Voice of America, em Washington, D.C. (foto: Reprodução/YouTube)

A disputa entre política e imprensa pública nos EUA ganhou novo capítulo após uma importante decisão judicial favorável ao governo de Donald Trump em sua tentativa de fechar de vez a rede de notícias Voice of America (VoA).

O Tribunal de Apelações do Distrito de Columbia, que julga casos relativos ao governo federal, revogou neste sábado (3) uma decisão judicial anterior que obrigava a recontratação de funcionários da emissora, gerando incerteza sobre o futuro da empresa de mídia estatal americana.

A decisão partiu de um painel com três juízes, com maioria formada por Neomi Rao e Gregory Katsas, indicados pelo ex-presidente Donald Trump, que votaram contra a reintegração.

Por que a decisão judicial contrária a Trump foi revogada

O processo foi aberto no dia 21 de março por funcionários da VoA e por organizações como Repórteres Sem Fronteiras (RSF), American Federation of Government Employees (AFGE), American Foreign Service Association (AFSA) e o sindicato de jornalismo  The Newsguild-CWA.

Na sentença anterior, de 22 de abril, o juiz Royce Lamberth, do Tribunal do Distrito de Columbia, havia determinado a reintegração de mais de 1,3 profissionais e a liberação temporária de verbas, sob o argumento de que a ordem de Trump contraria a Primeira Emenda da Constituição e que a missão da Voice of America de fornecer notícias precisas e objetivas globalmente é essencial para combater a desinformação e promover a liberdade de imprensa no mundo. 

No entanto, o Tribunal de Apelações considerou que o juiz distrital original havia ultrapassado sua jurisdição ao intervir nas ações da Agência de Mídia Global dos EUA (USAGM).

A juíza Cornelia Pillard, indicada por Barack Obama, foi a única a discordar, destacando que a revogação compromete o papel informativo da VOA e prejudica outras emissoras como a Radio Free Europe/Radio Liberty, também financiadas pelo governo.

Kari Lake comemora vitória judicial do governo Trump contra Voice of America 

Kari Lake, ex-candidata a governadora do Arizona e atual assessora sênior da USAGM, celebrou a decisão que revogou a sentença de 22 de abril. 

Em publicação na rede X (ex-Twitter), ela declarou que a nova sentença foi uma “grande vitória para o presidente Trump e para o Artigo II da Constituição”.

Lake também criticou o juiz distrital que havia ordenado a recontratação, dizendo que ele “não poderá administrar a agência como parecia querer”.

O papel estratégico da Voice of America

A Voice of America, fundada em 1942, é uma emissora pública voltada para audiências internacionais, especialmente em países onde a liberdade de imprensa é limitada.

Ao longo das décadas, se consolidou como fonte confiável de notícias globais, com mais de mil funcionários e noticiário em dezenas de idiomas.

Sob o governo Trump, no entanto, a VoA e outras emissoras associadas enfrentaram reestruturações administrativas. Em março, uma ordem executiva dissolveu a liderança da USAGM e promoveu mudanças profundas na gestão das redes estatais.

A decisão foi tomada no âmbito dos cortes de verbas realizados pelo departamento de eficiência governamental (DOGE, na sigla em inglês), liderado pelo bilionário Elon Musk. 

Donald Trump justificou o ato como parte de um esforço para reduzir o que ele chamou de “propaganda antiamericana” financiada pelos contribuintes. Ele descreveu a VoA como a “Voz da América Radical”.

Elon Musk apoiou a decisão, chamando a Voice of America de “um grupo de pessoas radicais de esquerda queimando dinheiro dos contribuintes”.

Futuro incerto para os funcionários e a agência

Com mais de mil profissionais ainda aguardando uma definição sobre seus empregos, a decisão judicial amplia a incerteza sobre o funcionamento da VoA e das demais emissoras públicas.

Especialistas alertam para o risco de politização da cobertura jornalística em um ambiente onde mudanças administrativas refletem diretamente na linha editorial.

Ao mesmo tempo em que tenta fechar as redes vistas como inimigas e investe contra empresas de mídia privadas, na semana passada a Casa Branca lançou um site chamado Wire, que agrega notícias favoráveis ao governo de Donald Trump.

O portal reúne matérias publicadas por veículos de direita e também inclui conteúdos produzidos pelo próprio governo.

Segundo um funcionário da Casa Branca, o objetivo do site é oferecer aos apoiadores de Trump um espaço centralizado para acessar e compartilhar notícias alinhadas à visão de sua administração. 

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