A presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou que seu governo entrou com uma ação judicial contra o Google após a empresa modificar o nome do Golfo do México para “Golfo da América” em sua plataforma de mapas para os usuários dos EUA, seguindo um decreto do presidente Donald Trump que determinou a nova nomenclatura. 

O decreto foi assinado pelo presidente dos EUA em 20 de janeiro de 2025, primeiro dia de seu segundo mandato. A medida determina oficialmente a nova nomenclatura nos sistemas e documentos do governo americano.

Segundo Sheinbaum, o governo mexicano obteve uma resolução favorável no Superior Tribunal de Justiça da Cidade do México, reconhecendo a legitimidade da nomenclatura histórica.

Golfo do México no Google: uma batalha contra Trump

Durante sua coletiva matinal, conhecida como La Mañanera, transmitida em rede nacional do Palácio Nacional nesta sexta-feira (9), a presidente foi categórica:

“Para o México e para o mundo, o nome continua sendo Golfo do México, independentemente das decisões unilaterais do governo norte-americano.”

Ela argumentou que a tentativa de renomeação fere a soberania nacional e ignora acordos internacionais, já que parte da plataforma continental do golfo pertence ao território mexicano e está sujeita a tratados multilaterais.

Notificações ignoradas pelo Google, segundo o México  

O governo do México disse ter enviado notificações formais ao Google, solicitando a reversão da mudança antes de judicializar a questão. Sem retorno da empresa, o caso foi levado a instâncias internacionais.

A ação também discute a responsabilidade das plataformas digitais e o direito à informação, questionando até que ponto gigantes da tecnologia podem redefinir termos geográficos com implicações diplomáticas.

Apple adota mesma nomenclatura

O embate não se restringe ao Google. A Apple atualizou seus mapas nos Estados Unidos para também adotar o nome “Golfo da América”, apoiando-se em um projeto de lei aprovado pela Câmara dos Representantes norte-americana.

Especialistas enxergam a mudança como um gesto simbólico de afirmação territorial, com forte carga política e diplomática.

Em resposta, o governo mexicano informou que está acionando organismos internacionais como a ONU e a OEA.

Sheinbaum ironiza Trump: “América Mexicana?”

Durante a coletiva sobre o processo contra o Google, a presidente do México fez uma crítica sarcástica à medida de Trump:

“Se é para reescrever mapas, então chamemos os Estados Unidos de América Mexicana.

Afinal, há documentos do século XVII que mostram boa parte do território americano como pertencente à Nova Espanha.”

A referência histórica reacende o debate sobre colonialismo e territorialidade.

Liberdade de imprensa: Trump vs Associated Press

A tensão gerada pela mudança do nome do Golfo teve efeitos também no campo da liberdade de imprensa.

A Associated Press (AP) se recusou a utilizar a nova nomenclatura. Em resposta, o governo Trump baniu seus jornalistas de coletivas e eventos oficiais da Casa Branca.

A agência processou a administração Trump, argumentando que a exclusão fere a Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

Um juiz federal deu ganho de causa à AP e determinou a revogação imediata da proibição, mas o governo Trump tentou resistir a cumprir a ordem. 

Google e Apple permanecem em silêncio

Nem Google nem a Apple se manifestaram oficialmente sobre o episódio. A pressão internacional cresce, especialmente diante da repercussão política e diplomática da mudança.