Uma coalizão de 58 ONGs de liberdade de imprensa e direitos humanos, liderada pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), está exigindo da China a libertação imediata da jornalista chinesa Zhang Zhan neste 14 de maio, data que marca cinco anos desde que foi presa pela primeira vez.
“Sua saúde se deteriorou severamente devido às greves de fome intermitentes em protesto contra sua detenção arbitrária — ela deve ser libertada imediatamente”, afirma a RSF.
Advogada que se tornou jornalista cidadã, Zhang Zhan foi presa em 14 de maio de 2020 por cobrir os estágios iniciais do surto de COVID-19 em Wuhan, cidade onde a pandemia começou.
A repressão foi uma retaliação por mais de 100 vídeos que ela publicou nas redes sociais.
Em dezembro daquele ano, foi condenada a quatro anos de prisão por um tribunal de Xangai sob a acusação de “provocar brigas e causar problemas” — uma fórmula jurídica vaga, usada com frequência pelo regime chinês para silenciar críticos.
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Jornalista presa novamente pela China após retomar reportagens em 2024
Após cumprir integralmente a pena, Zhang foi detida novamente em 28 de agosto de 2024, apenas três meses após sua libertação, enquanto viajava para sua cidade natal, na província de Shaanxi, noroeste da China.
Nas semanas anteriores à nova prisão, ela havia retomado suas reportagens, desta vez focadas no assédio a ativistas chineses nas redes sociais.
À espera de um novo julgamento e sob risco de mais 5 anos de prisão
Agora, Zhang está sendo processada pela segunda vez por denunciar violações de direitos humanos.
Segundo a RSF, um novo julgamento é iminente, embora a data da audiência ainda não tenha sido divulgada.
Enquanto isso, ela permanece detida no Centro de Detenção de Pudong, em Xangai, e pode enfrentar até mais cinco anos de prisão.
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Greves de fome, hospitalizações e alimentação forçada
A carta foi assinada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa além da RSF, incluindo nomes de peso como Amnesty International, Human Rights Watch, ARTICLE 19, PEN International, o Commitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) e a International Federation for Human Rights (FIDH).
O apelo conjunto reforça a gravidade da situação de Zhang Zhan e exige sua libertação imediata, o fim do assédio contra ela e o respeito aos compromissos internacionais da China em matéria de direitos humanos
A coalizão internacional expressa forte preocupação com a saúde da jornalista, pois ela continua a realizar greves de fome em protesto.
Zhang já foi hospitalizada duas vezes em 2021 por desnutrição severa.
Em janeiro de 2025, voltou a protestar com uma nova greve de fome, sendo alimentada à força por tubo gástrico — prática que, segundo tratados internacionais, pode constituir tortura.
RSF denuncia perseguição e apela à comunidade internacional
“A RSF e uma coalizão de ONGs internacionais estão soando o alarme sobre a detenção prolongada e arbitrária de Zhang Zhan, punida severamente por reportar temas de interesse público durante cinco anos”, disse Antoine Bernard, diretor de Defesa e Assistência da RSF.
“Sua saúde continua a se agravar. O regime chinês deve pôr fim a esse sofrimento, libertá-la sem demora e permitir que receba cuidados médicos adequados e independentes.
Apelamos à comunidade internacional que se junte a nós para pressionar o regime chinês a libertar Zhang Zhan e os outros 124 jornalistas atualmente detidos na China.”
China segue líder em repressão à imprensa
A China é hoje o maior cárcere de jornalistas no mundo, com pelo menos 125 profissionais da mídia presos.
O país ocupa a 178ª posição entre 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa da RSF de 2025.
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