Londres – O cantor Elton John tomou a dianteira na briga do setor cultural britânico contra um projeto que regulamentará do uso de obras artísticas por empresas de IA, ao declarar que irá processar o governo por entender que o mecanismo desrespeita os direitos autorais e pode destruir a indústria: “é criminoso”.
A proposta autoriza empresas de tecnologia a usarem obras protegidas para treinar sistemas de IA sem autorização prévia dos criadores, cabendo a eles notificar que não querem esse uso, o que o setor considera inviável na prática.
A declaração foi feita no influente programa político “Sunday with Laura Kuenssberg”, da BBC, exibido neste domingo (18). O cantor subiu o tom e disse que o Secretário de Tecnologia, Peter Kyle, é “um pouco idiota”.
Cantor diz que projeto de regulamentação da IA viola direitos autorais
A fala de Elton John colocou o tema em evidência e deu novo fôlego à mobilização de artistas britânicos, que já vinham protestando contra o avanço do projeto no Parlamento.
A proposta em debate — o Data (Use and Access) Bill — permitiria o uso de qualquer obra por sistemas de IA, a menos que o autor registre formalmente sua oposição.
A medida já havia sido duramente criticada por mais de 400 artistas, incluindo Paul McCartney, Dua Lipa e Ed Sheeran, que assinaram uma carta aberta publicada em abril pedindo mudanças urgentes.
Segundo o artista, a nova legislação representa uma ameaça direta aos profissionais da cultura.
“Se o projeto passar como está, estarão cometendo roubo em larga escala”, afirmou.
Elton John também se declarou “traído” pela decisão do governo e disse que os jovens artistas serão os mais prejudicados, pois não têm estrutura jurídica ou financeira para enfrentar gigantes da tecnologia.
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Câmara dos Lordes tenta barrar avanço da lei
Em resposta às críticas, a Câmara dos Lordes aprovou uma emenda que exigiria o consentimento prévio dos autores antes do uso de suas obras por IA.
No entanto, a emenda foi rejeitada pela Câmara dos Comuns, o que reacendeu o embate político.
O governo do primeiro-ministro Keir Starmer alega que a medida ajudará a impulsionar a economia e transformar o Reino Unido em polo global de desenvolvimento em inteligência artificial.
A expectativa é de crescimento de até £10 bilhões no setor, segundo estimativas internas.
Mas para Elton John e seus colegas, o argumento econômico não justifica a violação dos direitos autorais.
“Eles estão nos vendendo. É isso que estão fazendo”, afirmou o cantor na entrevista.
Justiça pode ser o próximo passo
Durante a conversa com Laura Kuenssberg, o músico foi categórico:
“Se essa lei for aprovada, vamos aos tribunais. Não vamos deixar que destruam décadas de conquistas dos artistas britânicos”.
No início do ano, Paul McCartney também criticou o governo pela ideia.
“Nós somos o povo, vocês são o governo. É suposto protegerem-nos. Esse é o seu trabalho.
Se vocês estiverem analisando um projeto de lei, certifiquem- se de proteger os pensadores criativos, os artistas criativos ou não os terá mais.”
Ele se referiu também ao risco para os jovens que desejam ser uma carreira cultural, garantindo seus empregos e a criação artística.
O caso reacende o debate sobre o equilíbrio entre inovação tecnológica e proteção aos direitos autorais — um tema cada vez mais presente em outras iniciativas, como a ação judicial movida por autores contra o uso de seus livros por IA generativa.
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