Londres – A perseguição à imprensa em Hong Kong, que segue cada vez mais intensa depois das manifestações de 2019 contra as mudanças introduzidas no território pela China, ganhou agora um novo capítulo com a intensificação de auditorias fiscais direcionadas a veículos e profissionais independentes.
Segundo a Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA), pelo menos oito meios de comunicação e cerca de 20 jornalistas e seus familiares estão sendo investigados pelo Departamento de Receita Interna (IRD) por supostas irregularidades tributárias.
A entidade alerta que as ações podem representar uma forma velada de perseguição política seguindo o mesmo modelo de repressão ao jornalismo independente adotado na China continental, sob o pretexto de controle tributário.
Auditorias fiscais atingem imprensa independente
As auditorias incluem acusações de evasão fiscal com base em dados incorretos, como registros de empresas inexistentes e rendimentos inflacionados.
A entidade que essas ações visam desestabilizar financeiramente os veículos e intimidar os profissionais, comprometendo a liberdade de imprensa na região.
Entre os veículos investigados estão o Hong Kong Free Press, InMedia, The Witness, ReNews e Boomhead. A HKJA também está sob auditoria, o que, segundo seus representantes, comprova o direcionamento das ações.
Tom Grundy, fundador do Hong Kong Free Press, declarou que a redação enfrenta uma auditoria retroativa de sete anos:
“A probabilidade de tantos veículos independentes serem escolhidos aleatoriamente é mínima. Isso compromete nossos recursos editoriais e a própria liberdade de atuação”, disse.
Segundo a HKJA, as autoridades utilizam registros empresariais inválidos e projeções de renda irreais para sustentar as investigações, afetando até mesmo familiares dos jornalistas envolvidos.
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Contexto político: a perseguição à imprensa em Hong Kong inspirada no modelo da China
Desde a imposição da Lei de Segurança Nacional por Pequim em 2020, Hong Kong vem registrando um aumento progressivo de ações contra a imprensa.
Jornais como o Apple Daily e o Stand News tiveram que fechar as portas, e vários profissionais enfrentam processos judiciais.
A classificação de Hong Kong no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa caiu para a 140ª posição, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras.
Em nota, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) condenou as auditorias:
“As autoridades estão recorrendo a mecanismos estatais para sufocar financeiramente o jornalismo independente”, disse a organização.
A HKJA pediu a suspensão imediata das auditorias e exigiu transparência por parte do governo.
A situação é vista como mais um capítulo na deterioração da autonomia política e da liberdade de expressão na região
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