A União Europeia anunciou um aporte emergencial de €5,5 milhões (cerca de R$30 milhões) para manter as atividades da Rádio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL), emissora internacional vítima dos cortes de verbas públicas para a imprensa determinado por decreto de Donald Trump.
A medida visa garantir a continuidade da operação jornalística em países onde a liberdade de imprensa é severamente limitada. A decisão foi oficializada pela chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, que descreveu o apoio como uma “rede de segurança de curto prazo para um veículo que cumpre papel estratégico na promoção do jornalismo independente”.
Além da ajuda do bloco europeu, a Suécia também confirmou uma contribuição de SEK 20 milhões (cerca de R$9,2 milhões), reforçando o apoio internacional à emissora — fundada durante a Guerra Fria e sediada em Praga.
Cortes de verbas por Trump afetou órgãos de imprensa com alcance global
A crise financeira da Rádio Free Europe começou após a decisão do ex-presidente dos EUA de suspender repasses de US$75 milhões (cerca de R$382 milhões), mesmo após aprovação prévia pelo Congresso. O corte foi justificado por suposto viés ideológico na cobertura da emissora.
A medida teve forte repercussão entre organizações ligadas à liberdade de imprensa, que alertaram para o risco de colapso de um dos principais veículos jornalísticos com presença em regiões como Irã, Afeganistão e países da ex-União Soviética.
Para evitar o encerramento imediato das operações, a RFE/RL entrou com uma ação judicial e conseguiu a liberação parcial de US$12 milhões (aproximadamente R$61 milhões). No entanto, o restante dos fundos segue bloqueado.
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União Europeia assume papel de protetora do jornalismo internacional
Com a interrupção dos repasses americanos, a União Europeia decidiu intervir para preservar a operação. A ajuda foi articulada com os ministros das Relações Exteriores dos países membros e representa um gesto político diante da crise gerada por Trump.
O governo da República Tcheca, que abriga a sede da emissora, lidera as articulações diplomáticas por apoio estrutural. Segundo as autoridades, a RFE/RL é essencial para garantir acesso à informação confiável em países autoritários, especialmente no Leste Europeu e no Oriente Médio.
O episódio reacende o debate sobre financiamento da mídia e o impacto de decisões políticas no ecossistema global da informação.
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Emissora segue sendo símbolo de resistência jornalística
A Rádio Free Europe foi criada nos anos 1950 para combater a propaganda soviética. Ao longo das décadas, consolidou-se como uma das principais fontes de informação para populações privadas de liberdade de expressão.
Atualmente, transmite em 27 idiomas para 23 países, e mantém operação ativa em regiões onde a imprensa local sofre com censura, perseguição e violência. A crise recente colocou em xeque a sustentabilidade de sua atuação.
O episódio coloca Trump novamente no centro das críticas sobre interferência política na imprensa, virando tema central nos debates sobre o futuro da liberdade de expressão e os efeitos do autoritarismo sobre a mídia e o direito do público à informação.
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