Em mais um movimento do governo Trump contra a imprensa, o Pentágono publicou nesta sexta-feira (23) um memorando interno em que restringe o trabalho e a circulação de jornalistas credenciados para cobrir as atividades no prédio que sedia a área de Defesa dos EUA.
As regras incluem escoltas obrigatórias, limitam a circulação em áreas comuns e impõem crachás com sinalização visível. A decisão provocou reações de entidades jornalísticas e reforça a postura cada vez mais hostil da administração Trump em relação à mídia.
A justificativa é conter vazamentos de informações sensíveis – o que é quase uma ironia considerando que o Secretário de Defesa, Peter Hegseth, envolveu-se recentemente em uma controvérsia por ter incluído inadvertidamente um jornalista em um grupo do Telegram que discutia ataques ao Iêmen.
Pentágono sob nova diretriz: Trump restringe acesso de jornalistas
De acordo com as diretrizes implementadas por Hegseth, repórteres passam agora a ser escoltados por funcionários militares mesmo em áreas antes consideradas livres, como salas de imprensa e corredores.
As mudanças exigem que os jornalistas assinem acordos de confidencialidade e portem crachás especiais com a identificação “PRESS” em destaque.
A alegação oficial é de que as regras evitam o vazamento de dados sensíveis e protegem a segurança nacional.
Mas a Associação de Imprensa do Pentágono contestou as medidas, afirmando que elas comprometem décadas de tradição democrática e dificultam a fiscalização pública sobre os assuntos militares.
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Hegseth já se envolveu em escândalo por vazamentos
O nome de Pete Hegseth já havia ganhado destaque semanas antes, quando veio à tona o episódio conhecido como “SignalGate”.
O então secretário de Defesa foi acusado de compartilhar informações sensíveis sobre ataques aéreos no Iêmen em grupos de mensagens no aplicativo Signal, incluindo familiares e — por engano — um jornalista.
Embora Hegseth tenha negado que os dados fossem sigilosos, a autenticidade das mensagens foi confirmada por fontes oficiais. A situação gerou uma investigação no Congresso e repercussão na mídia.
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Histórico de hostilidade à imprensa sob Trump
Desde o início de seu segundo mandato, o presidente vem mantendo uma relação ainda mais conflituosa com jornalistas do que no primeiro, classificando veículos como “inimigos do povo” e incentivando ataques verbais — e às vezes físicos — contra profissionais da mídia.
O novo episódio se soma a uma série de ações da gestão Trump para restringir o trabalho da imprensa.
O presidente abriu processos contra órgãos da grande imprensa e cortou o financiamento das grandes redes públicas de informação, como a Voice Of America e a Radio Free Europe / Radio Liberty.
Em março, a Associated Press foi excluída de briefings regulares na Casa Branca.
A nova política no Pentágono, dizem analistas, é mais um reflexo dessa estratégia de limitar o acesso à informação e controlar a narrativa em áreas de poder sensível.
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