MediaTalks em UOL

Livro de jornalistas sobre saúde de Biden reforça debate sobre transparência e papel da imprensa

Joe Biden faz piadas no jantar para jornalistas na Casa Branca

Foto: Screenshot YouTube @POTUS

Um novo livro sobre o ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden está gerando forte repercussão no país ao revelar não apenas bastidores do governo, mas também possíveis esforços coordenados entre a Casa Branca e familiares para ocultar problemas de saúde do líder democrata, colocando em questão a transparência. 

Intitulado Original Sin: President Biden’s Decline, Its Cover-Up, and His Disastrous Choice to Run Again (“Pecado Original: O Declínio do Presidente Biden, Sua Ocultação e Sua Desastrosa Escolha de Concorrer Novamente”, em tradução livre), a obra traz à tona relatos de declínio cognitivo e físico, reforçados por episódios como a dificuldade de Biden em reconhecer o ator George Clooney durante um evento.

Mais do que isso, o livro sugere que parte da grande imprensa norte-americana pode ter suavizado ou ignorado os sinais de alerta, num possível esforço para evitar um mal maior: a reeleição de Donald Trump.

Conivência ou cautela? O papel da imprensa sob escrutínio

Escrito pelos jornalistas Jake Tapper (CNN) e Alex Thompson (Axios), o livro é resultado de uma apuração que ouviu mais de 200 fontes e atualmente figura entre os mais vendidos nos EUA.

Após o recente anúncio de que Biden enfrenta um câncer de próstata agressivo, as revelações ganharam nova gravidade.

Críticos apontam que os indícios de comprometimento de saúde já estavam presentes há tempos, mas teriam sido abafados ou subestimados tanto pela comunicação oficial quanto por veículos de imprensa influentes.

A suspeita é de que houve um tipo de “pacto de silêncio” entre governo e jornalistas, em nome da estabilidade política.

A repercussão tem sido intensa. Enquanto apoiadores de Biden acusam os autores de oportunismo, opositores questionam como o estado de saúde do ex-presidente passou despercebido por tanto tempo — inclusive durante a campanha eleitoral.

Divisão política e dilemas éticos no jornalismo

A neta de Biden, Naomi, reagiu duramente, chamando o livro de “lixo político fantasioso”. Já Donald Trump aproveitou para criticar duramente a cobertura da imprensa, insinuando conivência deliberada.

A polêmica reacende discussões sobre os limites entre privacidade, responsabilidade pública e o dever da imprensa em escrutinar lideranças políticas.

Para críticos, a mídia teria falhado em um de seus papéis centrais: investigar com rigor e informar com transparência.

Mais do que uma biografia crítica, “Pecado Original” coloca sob holofotes uma questão incômoda: até que ponto a imprensa pode — ou deve — proteger a imagem de um líder em nome da democracia?

Dez revelações do livro sobre Joe Biden

De esquecimentos constrangedores a estratégias de contenção de danos, o livro Original Sin apresenta diversas alegações sobre o período final da presidência de Biden:

  1. Isolamento crescente: Biden teria passado longos períodos sem reuniões presenciais com a equipe, gerando preocupações sobre sua capacidade de liderança e autonomia.
  2. Controle de informação: Assessores e familiares teriam limitado o acesso do presidente a determinados documentos e restringido entrevistas e compromissos públicos.
  3. Desconfiança interna: Membros do Partido Democrata, incluindo figuras de alto escalão, manifestaram dúvidas sobre a aptidão de Biden para concorrer à reeleição em 2024. Essas preocupações teriam sido contidas para evitar rachas partidários.
  4. Pressão para não renunciar: Mesmo diante de sinais de fragilidade, Biden teria sido                       convencido por assessores e familiares a manter-se na disputa pela reeleição, evitando debates públicos sobre sua substituição.
  5. Falta de transparência médica: O livro indica que relatórios médicos oficiais omitiram ou minimizaram sintomas relevantes de saúde, prática que agora é reavaliada à luz do diagnóstico de câncer.
  6. Momentos de confusão e lapsos de memória: Diversos episódios descritos no livro mostram falas desconexas, esquecimentos e necessidade crescente de apoio próximo para tarefas básicas do cargo. Um dos que ganhou mais repercussão foi o não reconhecimento do ator George Clooney, apoiador de longa data do ex-presidente, em um evento de arrecadação de fundos.
  7. Discussões sobre o uso de cadeira de rodas – Assessores internos chegaram a considerar a possibilidade de Biden precisar de uma cadeira de rodas devido ao agravamento de sua condição física, mas decidiram que isso só poderia acontecer após as eleições
  8. Conflitos entre médicos e assessores – O médico de Biden, Dr. Kevin O’Connor, teria alertado repetidamente sobre os riscos à saúde do presidente e pedido mais tempo de descanso, mas enfrentou resistência dos assessores políticos
  9. Decisões delegadas: Em várias ocasiões, segundo os autores, decisões-chave teriam sido tomadas por conselheiros sem participação ativa do presidente, revelando um padrão de governança indireta.
  10. Demora para desistir – Após Biden abandonar a campanha diante do avanço de Donald Trump nas pesquisas, membros do partido Democrata teriam expressado frustração, com alguns afirmando que ele “arruinou” as chances democratas ao esperar tanto tempo para sair

Sair da versão mobile