Com um processo que começou em 2023 e chegou esta semana à reta final, a Austrália está prestes a estabelecer um marco legal no combate à pornografia não consensual gerada por inteligência artificial (IA), usada para criar imagens conhecidas como deepfakes

Anthony Rotondo, um homem de 43 anos, está sendo processado pela eSafety — a agência reguladora de segurança eletrônica do país — por criar e divulgar imagens deepfake de mulheres australianas. Ele pode enfrentar uma multa de até US$ 450 mil.

A audiência do processo foi realizada nesta segunda-feira (26), e o veredito deve ser anunciado nos próximos dias.

O processo, o primeiro do tipo na Austrália, destaca os desafios jurídicos trazidos pelo avanço da tecnologia de inteligência artificial. Um porta-voz da eSafety afirmou que a penalidade proposta reflete “a gravidade das violações e os impactos significativos nas mulheres visadas”.

Entenda o o processo por criação de deepfakes com IA

As imagens produzidas por Rotondo foram publicadas no site MrDeepFakes, atualmente fora do ar. A identidade das mulheres envolvidas foi preservada.

Apesar de ordens judiciais para remover o conteúdo, Rotondo inicialmente se recusou a cumprir as determinações, o que levou à abertura do processo pela eSafety, que pode servir de exemplo para desestimular a produção de deepfakes com uso da IA, segundo o órgão. 

Em dezembro de 2023, ele foi multado por desacato ao tribunal após admitir que desobedeceu a ordens judiciais. Posteriormente, forneceu suas credenciais para que o conteúdo fosse removido.

Avanço de deepfakes na mira da Austrália 

Deepfakes são imagens ou vídeos falsos gerados por inteligência artificial, capazes de reproduzir rostos e vozes de forma extremamente realista.

Embora tenham aplicações legítimas, seu uso em pornografia não consensual tem se tornado uma ameaça crescente à privacidade e à integridade de vítimas — majoritariamente mulheres.

De acordo com a comissária de segurança online da Austrália, Julie Inman Grant, 99% dos conteúdos pornográficos deepfake têm como alvo mulheres e meninas. O impacto psicológico dessas exposições pode ser devastador.

Em resposta à proliferação desse tipo de material, o governo australiano aprovou leis federais em 2024 que criminalizam expressamente o uso de deepfakes para fins sexuais sem consentimento.

A eSafety informou que, apenas entre 2023 e 2024, recebeu mais de 7.270 denúncias de abusos relacionados a imagens manipuladas, incluindo deepfakes. A agência também emitiu solicitações para remoção de conteúdo em 947 locais, abrangendo 191 plataformas e serviços diferentes.