A Meta pretende oferecer uma ferramenta capaz de automatizar completamente a criação e segmentação de anúncios com inteligência artificial até o final de 2026, permitindo que marcas forneçam apenas uma foto do produto e um orçamento e a IA gere o anúncio completo, incluindo imagem, vídeo e texto.
A revelação foi feita nesta segunda-feira (2) pelo Wall Street Journal (WSJ) e não foi confirmada imediatamente pela empresa, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp. Mas declarações recentes de seu CEO, Mark Zuckerberg, apontam para a personalização de conteúdo pago usando IA.
Caso a Meta avance nesse projeto, ele pode representar uma mudança estrutural no modelo tradicional de publicidade. Após a notícia, o valor das ações de grandes conglomerados de propaganda caiu nas Bolsas de Valores.
Como a criação de anúncios com IA da Meta pode afetar a indústria
Assim como os veículos de mídia perderam receita e mergulharam em uma crise profunda de sustentabilidade financeira quando plataformas digitais começaram a vender anúncios diretamente para anunciantes, agências de publicidade podem enfrentar um impacto similar.
Com a Meta oferecendo um sistema no qual a própria IA cria campanhas sob demanda, grandes grupos publicitários podem ver sua relevância reduzida, já que os anunciantes terão acesso direto à tecnologia sem necessidade de intermediários.
Além da automatizar a criação, a Meta pretenderia permitir que os anunciantes personalizem anúncios em tempo real com base em fatores como geolocalização.
Isso significa que um mesmo anúncio pode ser exibido de formas diferentes dependendo da localização do usuário, em paisagens associadas ao lugar em que a pessoa estiver.
Reação de investidores: grupos de propaganda sentem o golpe
Nesta segunda-feira, o grupo Publicis, sediado na França, fechou com queda de 3,64% no valor de suas ações. O WPP recuou em 1,3%, e o Omnicom perdeu 2,93%.
Apesar da reação assustada de investidores, o processo de pode não ser tão simples para grandes corporações que respondem pelo maior faturamento desses grupos.
Segundo o Wall Street Journal, algumas marcas ficariam receosas de ceder mais controle à Meta sobre suas estratégias publicitárias, temendo que os anúncios gerados por IA não mantenham a mesma qualidade e consistência de marca dos criados por humanos.
Além disso, há inquietações sobre a transparência e a segurança da marca nos anúncios criados com IA.
Outra possível consequência seria a facilidade de produzir anúncios de alta qualidade sem a gestão responsável de uma agência regulada por códigos de conduta do setor, favorecendo a criação de propaganda enganosa com peças convincentes, que despertem menos desconfiança.
Quem ganha e quem perde?
Ainda que grandes anunciantes não abram mão da segurança e criatividade de uma agência, ferramentas de criação de anúncios com IA podem ser úteis para pequenos anunciantes que não teriam recursos para pagar uma delas e assim conseguiriam se virar sozinhos.
O recurso da Meta poderia assim afetar mais fortemente as agências menores, assim como aconteceu com veículos de imprensa de porte reduzido que não conseguiram competir com a venda de anúncios pelas plataformas digitais diretamente aos anunciantes, levando a um encolhimento do setor.
Por outro lado, algumas delas – e agências de RP que atuam também em campanhas institucionais – podem ganhar uma ferramenta que permita oferecer criação de anúncios para os seus clientes, aumentando os negócios.
De um jeito ou de outro, a possibilidade de criar anúncios de alta qualidade com IA, dispensando a cadeia normalmente envolvida nessas peças, tem o potencial de mexer com o mercado de agências de publicidade e de comunicação e também as produtoras de vídeo.
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Meta AI atinge 1 bilhão de usuários
Embora a Meta não tenha confirmado a notícia do Wall Street Journal, publicações especializadas buscaram sinais em declarações recentes de executivos da empresa.
Na semana passada, durante a reunião de acionistas, Mark Zuckerberg informou que o assistente de IA da Meta agora tem um bilhão de usuários ativos mensais em toda a família de aplicativos da empresa.
Em abril, a plataforma lançou um aplicativo independente para a ferramenta.
O CEO disse aos acionistas que “o foco para este ano é aprofundar a experiência e tornar a Meta AI líder do mercado, com ênfase em personalização, conversas de voz e entretenimento”.
Ele disse ainda que “haverá oportunidades de inserir recomendações pagas” ou oferecer serviço de assinatura para que os usuários tenham recursos de computação maiores.
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