Mais de quatro décadas após o assassinato de quatro jornalistas holandeses em El Salvador, um tribunal declarou culpados três ex-altos oficiais militares por sua participação no crime.

A sentença representa o primeiro caso em que uma condenação criminal foi obtida por um crime contra a humanidade documentado no Relatório da Comissão da Verdade das Nações Unidas após o conflito.

O crime ocorreu em 17 de março de 1982, quando Koos Koster, Jan Kuiper, Joop Willemsen e Hans ter Laag, jornalistas da emissora pública holandesa IKON, foram mortos em Chalatenango enquanto cobriam as eleições para a Assembleia Constituinte.

Cinco dias antes do ataque, os membros da equipe foram interrogados pela Polícia do Tesouro Salvadorenho, o que demonstrou que suas atividades estavam sendo monitoradas.

Contexto do assassinato de jornalistas holandeses em El Salvador

Segundo a IFJ, o julgamento concluiu que o crime foi um ato deliberado, planejado pela liderança militar salvadorenha e executado pelo Batalhão Atonal.

O objetivo, de acordo com a sentença, foi silenciar o trabalho jornalístico e enviar uma mensagem de intimidação à imprensa internacional que cobria os abusos cometidos durante o conflito armado no país.

É também a primeira vez que comandantes militares de alta patente são condenados judicialmente por graves violações de direitos humanos cometidas naquele período.

Quem são os responsáveis condenados?

A sentença responsabiliza penalmente três ex-altos oficiais militares: José Guillermo García, ex-ministro da Defesa; Francisco Antonio Morán, ex-diretor da Polícia de Fazenda e Mario Adalberto Reyes Mena, ex-comandante da 4ª Brigada de Infantaria.

Os três foram condenados a 15 anos de prisão, perderam seus direitos civis e deverão indenizar as famílias das vítimas.

Desculpas públicas às famílias dos jornalistas assassinados 

Além das sentenças impostas, o tribunal ordenou que o Estado salvadorenho emitisse uma declaração oficial de desculpas públicas às vítimas e suas famílias, reconhecendo a demora em fazer valer a justiça.

Organizações como a Fundação Comunicándonos e a Associação Salvadorenha de Direitos Humanos (ASDEHU) celebraram o veredito como um marco fundamental na luta contra a impunidade e reafirmaram seu compromisso de prosseguir com outros casos emblemáticos, como o assassinato de Monsenhor Óscar Arnulfo Romero. 

A Federação Internacional de Jornalistas comemorou em nota “este histórico avanço na luta por verdade e justiça para os quatro jornalistas e suas famílias, bem como para os profissionais de imprensa em geral, a quem a memória de Koos, Jan, Joop e Hans une de ambos os lados do Atlântico”.