Pelo menos 27 atos de violência contra jornalistas foram registrados em Los Angeles nos dois primeiros dias de manifestações que tomaram conta da cidade americana, segundo informações verificadas pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em parceria com o Los Angeles Press Club.
Os ataques ocorreram durante protestos deflagrados em resposta a operações em locais de trabalho por autoridades federais visando imigrantes, e a violência contra a imprensa partiu tanto de forças de segurança quanto de manifestantes.
De acordo com a RSF, 24 incidentes foram cometidos por forças de segurança, enquanto três foram realizados por indivíduos presentes nas manifestações.
Violência contra jornalistas ‘inaceitável’
Em imagens perturbadoras que circularam pelo mundo, a repórter australiana Lauren Tomasi aparece sendo atingida por balas de borracha enquanto transmitia ao vivo.
Outro vídeo mostra policiais em equipamentos militares empurrando agressivamente o repórter Mekahlo Medina.
A polícia também atacou uma equipe de TV da KCBS/KCAL com balas de Paintball.
here is LASD shooting at media with paint ball bullets pic.twitter.com/D84lceOSOM
— Abraham Márquez (@abemarquez3) June 8, 2025
“A onda de violência contra jornalistas nas ruas de Los Angeles neste fim de semana é inaceitável”, afirmou Clayton Weimers, Diretor Executivo da RSF USA.
“Esses protestos são de grande interesse público e a única forma de garantir que o público seja informado é permitindo que os jornalistas façam seu trabalho livremente.”
Vários profissionais da mídia relataram ter sido alvos de munições menos letais, como balas de borracha, bolas de pimenta e latas de gás lacrimogêneo.
Outros tiveram que fugir quando a polícia atacava na direção em que estavam, ignorando os gritos alertando que eram profissionais de imprensa.
I thought I would be safe if I positioned myself with all the cable news crews off to the side away from all of the protesters. But nope. I was wrong. The feds shot pepper balls at us, forcing us down Alameda Street with everyone else. @lataco.bsky.social
— Shot On 35mm (@shoton35mm.bsky.social) 8 de junho de 2025 às 08:26
Entre os jornalistas atingidos pelas forças de segurança estão também Ryanne Mena, do Southern California News Group, e os freelancers Anthony Cabassa, Sean Beckner-Carmitchel, Ben Camacho, Nick Stern e Lexis Olivier-Ray, do LA Taco.
Homeland Security agents shot me and other journalists with pepper ball bullets yesterday in Los Angeles pic.twitter.com/2JX28M69QO
— @ryannemena.bsky.social (@ryannemena) June 7, 2025
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Presidente Trump envia Guarda Nacional e aumenta o risco para jornalistas em Los Angeles
A RSF destacou que o envio de soldados da Guarda Nacional pelo presidente Donald Trump para ajudar a polícia local agravou a violência já em curso contra os profissionais da imprensa.
A organização reforçou que o Código Penal da Califórnia (13652(b)(6)) obriga as autoridades estaduais e locais a “minimizarem o possível impacto incidental” das armas de dispersão sobre os jornalistas.
Já os policiais federais têm o dever constitucional de defender a Primeira Emenda, que protege o direito da imprensa de relatar questões de interesse público.
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Manifestantes também atacam a imprensa em Los Angeles
Além das ações das forças de segurança, manifestantes também atacaram jornalistas. Em pelo menos três casos, profissionais da mídia foram ameaçados ou afastados por manifestantes individuais.
Um vídeo online mostra manifestantes ameaçando e afastando uma equipe de TV da KTTV Fox 11 e o jornalista independente Aldo Buttazzoni.
Também foi relatado que uma van de notícias da Fox 11 foi arrombada e vandalizada.
Atualmente, os Estados Unidos ocupam a 57ª posição no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF 2025.
Nos últimos cinco anos, o país caiu 12 posições no ranking e enfrentou um aumento alarmante de violações à liberdade de imprensa.
A RSF insta em seu comunicado que as autoridades locais, estaduais e federais o respeito aos profissionais da mídia, garantindo o exercício seguro e livre do jornalismo.
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