Gisèle Pelicot, a francesa vítima de violência sexual em série por dezenas de homens enquanto estava dopada pelo marido, firmou um acordo judicial com a Paris Match dois meses depois de processar a revista pela publicação de fotos não autorizadas.

Ela foi registrada por um paparazzo nas ruas da cidade onde mora atualmente, ao lado de um homem apontado pela revista como seu novo companheiro. A ação judicial responsabilizava a Paris Match por  violação de privacidade e uso indevido de imagem. 

Um dos advogados de Pelicot, Stéphane Babonneau, confirmou à Franceinfo TV que um acordo tinha sido alcançado antes do julgamento marcado para esta quarta-feira (11), acrescentando que sua cliente dispensou compensação pessoal. A indenização, de 40 mil euros, será destinada a duas associações de apoio a vítimas de violência escolhidas por ela. 

Paris Match e as fotos não autorizadas de Gisèle Pelicot: ‘não entenderam nada’

Gisèle Pelicot, hoje com 72 anos, tornou-se um símbolo da luta pela responsabilização de crimes sexuais contra mulheres ao abrir mão do direito de anonimato no julgamento que condenou seu marido e mais de 50 homens convidados por ele para violentá-la depois de dopada. 

Na época em que o processo foi movido, outro dos advogados que fazem parte de sua equipe jurídica, Antonio Camus, afirmou que publicação das imagens foi especialmente prejudicial, considerando o histórico de abusos que sua cliente enfrentou por anos.

Durante esse período, o ex-marido de Gisèle Pelicot chegou a acumular cerca de três mil fotos e vídeos da vítima, todos sem consentimento.

“Sofrer perseguição de paparazzi depois de tudo isso significa que não entenderam nada desses quatro meses de julgamento”, afirmou ele.  

ONGs receberão doação da Paris Match 

Metade do valor pago pela Paris Match pela publicação das fotos não autorizadas de Gisèle Pelicot irá para a Isofaculté, sediada em Mazan, a cidade onde ela morava anteriormente. A entidade oferece suporte a mulheres vítimas de violência por meio da terapia com cavalos. 

A outra metade será repassada à Women Safe and Children, uma organização localizada na Île-de-France especializada em acolhimento e apoio jurídico, psicológico e médico a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. 

Apesar do acordo, a audiência prevista para esta quarta-feira no Tribunal Judicial de Nanterre estava programada para ocorrer normalmente para registrar oficialmente a desistência da ação por parte da vítima.