O blogueiro e autor australiano Alistair Kitchen, ex-aluno da Universidade Columbia, foi deportado dos EUA após ser detido no Aeroporto Internacional de Los Angeles por 12 horas e interrogado sobre textos a respeito de protestos pró-Palestina .
Kitchen afirma que foi interrogado por agentes de imigração sobre suas opiniões políticas e textos publicados em seu blog Kitchen Counter, nos quais abordava os protestos pró-Palestina nos EUA, especialmente na universidade onde estudou.
“Um dos agentes me disse: ‘Nós dois sabemos por que você está aqui. É por causa do que você escreveu sobre os protestos em Columbia’”, relatou Kitchen à ABC Austrália.
Ele contou que os agentes acessaram seu celular, encontraram textos sobre os protestos e também evidências de uso anterior de drogas.
Segundo as autoridades, isso justificou a negativa de entrada por omissão no formulário de viagem.
Detenção ocorreu durante escala em Los Angeles
Segundo Kitchen, ele partiu de Melbourne com destino a Nova York em 12 de junho de 2025 para visitas pessoais, com uma conexão em Los Angeles.
Na cidade onde protestos violentos contra a política imigratória do governo Donald Trump eclodiram há duas semanas, ele foi conduzido à triagem secundária por agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP).
Ele permaneceu detido por cerca de 12 horas antes de ser deportado de volta à Austrália.
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O que disse a autoridade dos EUA
A CBP negou que a deportação tenha sido motivada por razões políticas.
Em nota, afirmou que Kitchen foi barrado por fornecer informações falsas em sua autorização de viagem (ESTA).
No entanto, o próprio Kitchen sustenta que foi interrogado principalmente sobre suas opiniões políticas e reportagens.
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CPJ denuncia retaliação contra blogueiro deportado por textos sobre protestos nos EUA
O caso ganhou repercussão internacional. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) classificar a deportação como uma retaliação direta ao trabalho de Kitchen.
“A deportação de Alistair Kitchen é um claro caso de retaliação relacionada à sua cobertura jornalística, e essa ação envia uma mensagem intimidadora aos jornalistas: que devem apoiar as narrativas do governo ou enfrentar represálias”, afirmou Katherine Jacobsen, coordenadora do CPJ para EUA, Canadá e Caribe.
Ela acrescentou:
“Profissionais de mídia estrangeiros atuando em solo norte-americano estão protegidos pela Primeira Emenda, e cabe às autoridades — da CBP à Casa Branca — garantir que jornalistas possam trabalhar e circular livremente, sem medo de retaliação”.
Interrogatório incluiu perguntas sobre Israel e Palestina
Kitchen, que voltou a viver na Austrália em 2024 após um período em Nova York, contou ao jornal The Guardian que os agentes o questionaram sobre sua visão acerca da solução de um Estado versus dois Estados no conflito entre Israel e Palestina.
O CPJ já havia emitido, no início deste ano, seu primeiro alerta de viagem para jornalistas que entram nos EUA, alertando sobre a possibilidade de buscas em dispositivos eletrônicos.
A organização também publicou relatórios anteriores sobre os desafios à liberdade de imprensa impostos pelos poderes de revista da CBP durante o primeiro governo Trump.
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Repercussão na Austrália e histórico do blogueiro
Kitchen, que já publicou artigos em veículos como New York Magazine, Meanjin e Sydney Morning Herald, descreveu a experiência como “intimidante” e “profundamente preocupante”.
Ele acredita que sua deportação reflete um ambiente de crescente repressão a vozes críticas, especialmente em temas ligados ao Oriente Médio.
Na Austrália, o Departamento de Assuntos Exteriores e Comércio (DFAT) confirmou que está em contato com Kitchen e acompanha o caso.
Blogueiro deportado protestos EUA: contexto político e social
A deportação de Kitchen ocorre em meio a uma onda de protestos contra políticas migratórias nos EUA, especialmente em Los Angeles, onde manifestações contra deportações e ações do ICE têm se intensificado.
A resposta do governo Trump incluiu o envio da Guarda Nacional e a imposição de toques de recolher em várias cidades, o que gerou críticas de organizações de direitos civis e da comunidade internacional.
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