A censura imposta pelo regime iraniano durante a guerra entre Irã e Israel atingiu um novo patamar, com a criação de uma força-tarefa estatal para monitorar e amedrontar jornalistas e cidadãos críticos que utilizam as redes sociais para expressar suas opiniões, denunciou o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ).
Relatos colhidos pelo CPJ indicam um ambiente de intimidação generalizada, com ameaças diretas a jornalistas e a seus familiares, além de detenções por manifestações online e acesso à internet e ao WhastApp bloqueados.
Em 17 de junho, o judiciário anunciou que uma “força-tarefa especial foi estabelecida dentro da Procuradoria de Teerã para monitorar o ciberespaço, usuários de mídia social, agências de notícias oficiais e meios de comunicação” para identificar aqueles que violaram a ordem do procurador-geral e encaminhá-los para “agências de acusação especializada”.
Prisões por conteúdo falso no Irã em guerra
Quatro dias antes, a Procuradoria-Geral do Irã disse que as pessoas que “utilizavam o ciberespaço para minar a segurança psicológica da sociedade publicando conteúdo falso” seriam tratadas “de acordo com os regulamentos”.
Citando relatos da imprensa local, o COJ informou que 16 pessoas foram presas em Isfahan no dia 14 de junho por supostamente apoiarem Israel online.
No dia seguinte, outra detenção ocorreu em Rafsanjan, com bloqueio de contas e confisco de celular.
Leia também | Blogueiro australiano que escreveu sobre protestos pró-Palestina é deportado dos EUA
Jornalistas do Irã relatam censura na guerra com Israel
Dois jornalistas iranianos, que falaram com o CPJ sob condição de anonimato, citando medo de retaliação, disseram que receberam avisos horas após o primeiro ataque de Israel ao Irã na sexta-feira.
“Fomos convocados para uma reunião de emergência pelo fundador e diretor do nosso jornal”, disse um jornalista de um jornal privado com sede em Teerã ao CPJ.
“Fomos informados de que qualquer comentário pessoal ou reportagem em nossas contas de mídia social resultaria em demissão imediata.”
Na terça-feira, a jornalista disse ao CPJ que estava trocando Teerã pelos EUA.
“Não podemos relatar nada”, disse ela ao CPJ. “Somos jornalistas que, nesta situação, são incapazes de praticar jornalismo.”
Ameaças do regime iraniano a jornalista exilado
Um jornalista freelancer exilado que estava comentando sobre a guerra nas mídias sociais disse ao CPJ que foi ameaçado por um agente de inteligência em 13 de junho.
“Meu interrogador entrou em contato comigo no WhatsApp e avisou que se eu denunciar qualquer coisa ou dar voz ao povo, minha família no Irã seria presa”, disse o jornalista, que fugiu do Irã três semanas antes após repetidas prisões por seu jornalismo.
O jornalista parou de postar com seu nome verdadeiro nas mídias sociais depois disso.
Em maio, antes da guerra, seis diretores e fundadores de canais de imprensa independentesforam condenados por acusações que incluíam a publicação de notícias falsas.
Em junho, a BBC da Grã-Bretanha disse que as famílias de seus jornalistas iranianos haviam sido assediadas na República Islâmica por causa de suas notícias.
Leia também | Tribunal de Nova York condena dois iranianos por tentarem assassinar jornalista do Irã exilada nos EUA
Repressão digital: controle do ciberespaço se intensifica
Toda a transmissão no Irã é controlada pelo estado e muitas pessoas usam redes privadas virtuais (VPNs) para acessar notícias independentes através das mídias sociais — embora elas também estejam sendo interrompidas, de acordo com o Comitê.
Tornou-se difícil para os iranianos acessar a Internet desde que o ministério das comunicações restringiu o acesso em 13 de junho, citando “condições especiais”. O WhatsApp também foi bloqueado.
“Estamos profundamente preocupados com a contínua intimidação de jornalistas iranianos”, declarou Sara Qudah, diretora regional do CPJ.
“Ao direcionar a imprensa e restringir o acesso a reportagens independentes, as autoridades iranianas não estão apenas suprimindo informações críticas em casa, mas também isolando seus cidadãos do fluxo global de notícias.
Isso reflete um padrão de longa data de repressão da mídia no país.”
Histórico de perseguição à imprensa iraniana
O Irã ocupa o sétimo lugar entre os países que mais prendem jornalistas, com 16 detidos em dezembro de 2024, segundo o CPJ.
O histórico inclui condenações por “publicação de notícias falsas” e casos de assédio contra famílias de jornalistas que atuam no exterior.
O CPJ informou ter solicitado um posicionamento à missão iraniana nas Nações Unidas, mas não obteve resposta até o momento.
Leia também | Irã aperta censura após ataque de Israel: limite de acesso à Internet e punição por conteúdos ‘contra segurança psicológica’