Londres – Mais de 60% dos jornalistas exilados que receberam apoio da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) desde 2021 são provenientes de apenas três países: Afeganistão, Rússia e Irã.

O levantamento, divulgado pela RSF para marcar o Dia Mundial do Refugiado (20 de junho), alerta para a necessidade urgente de proteger esses profissionais, cobrando apoio para o reassentamento e condições para que eles continuem a trabalhar no exílio. 

Desde janeiro de 2021, a RSF já prestou auxílio a 1.270 profissionais de mídia, um número que continua a aumentar.

A preocupação com jornalistas exilados

A RSF expressa séria preocupação com a situação dos jornalistas no exílio. A jornada é cheia de perigos e ameaças, exigindo apoio e proteção, afirma a organização.

Antoine Bernard, Diretor de Advocacia e Assistência da RSF, reitera que os jornalistas exilados “incorporam uma luta corajosa e determinada pela liberdade de imprensa e pelo jornalismo independente”.

Ele enfatiza que eles são “frequentemente as únicas fontes de informação sobre os países que tiveram que deixar, e seu conhecimento da nação e sua situação permite que exponham  as práticas predatórias dos regimes que os forçaram a fugir”.

A luta dos exilados afegãos

O Afeganistão é a principal origem dos exilados, respondendo por mais de 43% dos profissionais de mídia apoiados pela RSF desde 2021, totalizando 550 jornalistas exilados.

Desde o retorno do Talibã ao poder, em agosto de 2021, o cenário midiático foi dizimado, e a repressão contra os jornalistas aumentou drasticamente.

Muitos buscam refúgio temporário, especialmente no Paquistão, que se tornou particularmente inóspito.

Desafios no Paquistão para os que fugiram do Talibã

O processo de visto no Paquistão, por exemplo, foi reduzido para um mês, e as renovações estão sujeitas a restrições administrativas exaustivas.

Isso expõe os jornalistas exilados afegãos ao risco de prisão, detenção, deportação e assédio policial.

Relatos anônimos de jornalistas ilustram a gravidade da situação: a polícia busca casas para verificar se não há afegãos sem visto válido.

Se encontrados, são submetidos a checagem biométrica e deportados imediatamente.

Exilados russos resistem à propaganda estatal

A Rússia é a segunda maior fonte de jornalistas exilados assistidos pela RSF, com 141 profissionais auxiliados.

Esses jornalistas independentes estão na linha de frente contra a desinformação, a censura e a propaganda do Kremlin.

O governo russo planeja investir mais de 660 milhões de dólares nos próximos cinco anos em infraestrutura de controle digital, de acordo com a organização.

O objetivo é isolar seus cidadãos de qualquer informação independente.

Novas leis para regular a “Runet” (a internet russa) foram impostas para silenciar as últimas vozes dissidentes, forçando mais profissionais de mídia ao exílio, aponta o levantamento. 

Ameaças transnacionais aos jornalistas exilados iranianos

Do Irã, considerado uma das maiores prisões de jornalistas do mundo, 86 jornalistas exilados receberam apoio da RSF.

A repressão diária, que inclui prisões arbitrárias e sentenças duras em julgamentos injustos por tribunais revolucionários, força muitos à fuga, situação agora agravada pela guerra com Israel

No entanto, mesmo no exterior, jornalistas exilados iranianos não estão seguros.

Há décadas, a repressão iraniana tem como alvo sistemático jornalistas que cobrem o Irã de fora do país em tentativas de silenciá-los.

Apesar disso, eles continuam a trabalhar de locais como Estados Unidos, França, Alemanha, Suécia e Reino Unido, enfrentando inúmeros ataques e atos de intimidação, tanto online quanto offline.

Apelos urgentes para salvaguardar profissionais exilados

A RSF também manifesta preocupação com centenas de repórteres do Sudão, Mianmar, China e Nicarágua, que foram forçados a fugir para países vizinhos ou distantes.

Diante do crescente número de jornalistas em perigo, a RSF apela aos estados democráticos para que introduzam vistos de emergência e concedam permissões de residência de longo prazo a jornalistas em perigo, garantam acesso a programas de reassentamento e proteção individual, e facilitem a capacidade dos jornalistas exilados de continuarem trabalhando. 

Além disso, devem proteger os jornalistas exilados de medidas que os forçariam a retornar aos seus países de origem, investigar ataques a jornalistas refugiados de maneira transparente e esclarecer na legislação que jornalistas ameaçados podem ser reconhecidos como refugiados.

A importância vital dos jornalistas exilados

A RSF reiterou que “defender jornalistas exilados é sinônimo de proteger o acesso a informações confiáveis e preservar um poderoso antídoto contra a propaganda e a desinformação”.