O presidente Donald Trump fechou nesta terça-feira (1) um acordo com a Paramount e receberá uma indenização de US$ 16 milhões (R$ 87,4 milhões) da empresa de mídia, encerrando uma disputa judicial iniciada após a exibição de uma entrevista com Kamala Harris.
O processo, que alegava edição enganosa da entrevista veiculada em outubro de 2024 no programa 60 Minutes, da CBS, tornou-se um dos casos mais controversos envolvendo a mídia no último ciclo eleitoral.
A Paramount, dona da CBS, manteve sua posição de que a entrevista obedeceu aos padrões do bom jornalismo, mas disse que preferiu pagar a indenização a Trump para evitar uma longa batalha judicial.
Indenização da Paramount a Trump: acusações de edição e viés midiático
Trump acusou a CBS, emissora pertencente à Paramount, de manipular a entrevista de Harris para minimizar falas polêmicas sobre sua política externa em relação ao Oriente Médio.
Segundo a ação, a edição teria omitido hesitações e contradições da candidata democrata — algo que Trump considerou “propaganda eleitoral disfarçada de jornalismo”.
A queixa foi protocolada no Texas, em um tribunal federal sob jurisdição de um juiz indicado por Trump em 2019.
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Termos do acordo e da indenização Paramount Trump
O acordo prevê que os US$ 16 milhões pagos pela Paramount serão destinados à futura biblioteca presidencial Donald J. Trump e ao pagamento de honorários advocatícios.
Em nota pública divulgada por seus advogados, Trump afirmou:
“Este é um passo importante para responsabilizar a mídia por seu viés crônico. A verdade venceu.”
Apesar do pagamento, a Paramount não reconheceu culpa ou má conduta editorial. Em nota enviada à imprensa, a empresa declarou:
“Mantemos que a entrevista com a vice-presidente Harris foi editada de acordo com padrões rigorosos de jornalismo.
Aceitamos o acordo para evitar distrações legais prolongadas.”
Liderança da CBS abalada por indenização da Paramount a Trump
Antes mesmo da oficialização do acordo, dois nomes-chave da CBS renunciaram: Wendy McMahon, presidente da CBS News, e Bill Owens, produtor executivo do 60 Minutes.
As demissões ocorreram entre os dias 26 e 28 de junho, ainda durante a negociação do acordo, e foram interpretadas internamente como sinais de protesto ou desgaste pela forma como a cúpula da Paramount lidou com o processo.
Em entrevista ao New York Times, um funcionário sênior da emissora (em condição de anonimato) disse que “o clima na redação era de frustração e medo de ingerência política”.
Os efeitos na imprensa e no mercado
Além do pagamento financeiro, a Paramount comprometeu-se, como parte informal do acordo, a publicar transcrições integrais de futuras entrevistas com candidatos presidenciais — exceto quando houver impedimentos legais ou de segurança.
Organizações de defesa da liberdade de imprensa, como a PEN America e a Columbia Journalism Review (CJR), criticaram duramente o acordo.
Em editorial, a CJR classificou a ação judicial como uma “tática de intimidação política contra a imprensa livre”.
A movimentação também ocorre em meio a negociações delicadas: a Paramount busca aprovação do governo federal para a fusão com a Skydance Media, e analistas avaliam que o acordo pode ser um esforço para aplacar críticas e favorecer o clima regulatório junto a uma eventual nova administração Trump.
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