A nova edição do relatório anual “State of the Media”, da Cision, publicada nesta semana, analisa como a Inteligência Artificial (IA) está moldando o cenário da comunicação global em 2025, com foco no ponto de vista dos jornalistas sobre o uso das redações e pelas assessorias de imprensa.
Com base em uma pesquisa com mais de 3 mil profissionais da imprensa, o estudo revela como a IA vem sendo usada nas redações, quais os benefícios percebidos e as principais preocupações — tanto no uso interno quanto na forma como a tecnologia é aplicada por profissionais de assessoria de imprensa.
Embora o relatório ofereça orientações para o uso responsável da IA na comunicação corporativa, as inquietações relatadas têm origem sobretudo nas redações, refletindo os impactos percebidos sobre qualidade, veracidade e autenticidade do conteúdo jornalístico.
IA no jornalismo e na assessoria de imprensa: expansão com ressalvas
A pesquisa constatou que a Inteligência Artificial subiu de sexto para quarto lugar entre os principais desafios enfrentados por jornalistas no último ano, sendo citada por 30% dos entrevistados globalmente.
Segundo o relatório, há diferenças marcantes entre regiões. Na Ásia-Pacífico (APAC), especialmente na China, a IA foi apontada como a maior preocupação, apesar de ser amplamente adotada. Já na América do Norte, a resistência ao uso da tecnologia é mais evidente.
O estudo também indica que desafios como a verificação de informações e o combate à desinformação vêm sendo agravados por possíveis erros gerados por ferramentas de IA.
Segundo o relatório, uso da IA nas redações cresce
A pesquisa aponta que mais da metade dos jornalistas (53%) já utilizam ferramentas de IA generativa, como o ChatGPT, em seu trabalho. Outros 14% planejam começar a usá-las. No ano anterior, o índice era de 47%.
De acordo com os dados levantados, as aplicações mais comuns incluem pesquisa de temas, transcrição de entrevistas e resumos de textos. Também são citadas a criação de esboços de conteúdo, sugestões de perguntas para entrevistas e geração de ideias de pautas.
O relatório revela diferenças regionais expressivas: na América do Norte, 49% dos jornalistas não usam IA nem pretendem usar, enquanto na APAC apenas 11% se mantêm afastados da tecnologia.
Apesar do uso crescente, a pesquisa também identificou percepções mistas. Muitos profissionais consideram a IA útil para organizar dados ou iniciar textos, mas alertam para imprecisões factuais que comprometem sua confiabilidade.
Estudo revela percepção dos jornalistas sobre o uso da IA por assessores
O relatório constatou que a maioria dos jornalistas demonstra abertura à ideia de que profissionais de assessoria usem IA para elaborar pitches ou comunicados.
Segundo os dados, apenas 27% são totalmente contrários à prática. Cerca de 29% preferem conteúdos feitos por humanos, mas aceitariam mensagens bem formuladas com apoio da IA. Outros 24% não têm uma opinião definida.
A pesquisa também mostrou que a aceitação varia por região. Jornalistas norte-americanos apresentam maior resistência, enquanto os da APAC — que mais utilizam IA — se mostram mais receptivos à sua aplicação na comunicação corporativa.
Preocupações com o conteúdo gerado por IA predominam
Mesmo com sinais de aceitação, o relatório destaca preocupações significativas dos jornalistas em relação ao conteúdo produzido por IA por parte dos assessores.
Erros factuais lideram a lista de receios, sendo mencionados por 72% dos entrevistados. O aumento no volume de conteúdo sem ganho de qualidade preocupa 58% dos profissionais. A perda de autenticidade e criatividade é citada por 54%, seguida de riscos relacionados a direitos autorais (48%) e viés nos textos gerados (39%).
O relatório indica que essas preocupações são especialmente acentuadas na América do Norte, onde os receios quanto à propriedade intelectual e aos vieses algorítmicos são mais intensos.
Relatório recomenda boas práticas para uso responsável da IA pelas assessorias de imprensa
A Cision oferece recomendações para o uso ético e estratégico da IA na assessoria de imprensa.
O relatório orienta que os profissionais priorizem a autenticidade, preservando a voz única da marca e garantindo informações precisas.
Também sugere que a IA não seja utilizada de forma automática ou acrítica.
Diante das preocupações apontadas pelos jornalistas, o estudo recomenda transparência quanto ao uso da tecnologia e revisão humana cuidadosa de todo conteúdo gerado.
Segundo o relatório, os profissionais podem se inspirar nas redações, utilizando a IA para aumentar eficiência e estimular criatividade, sem substituir a expertise humana.
A conclusão do relatório é clara: a IA está transformando a mídia global. Para jornalistas, ela representa tanto uma ferramenta promissora quanto uma fonte de novos riscos. Para os profissionais de relações públicas, o desafio está em adotar a tecnologia com responsabilidade, reforçando a credibilidade e mantendo relações sólidas com a imprensa.
O Valor da RP para os jornalistas
Além das percepções sobre a inteligência artificial, o estudo oferece insights cruciais sobre o que os jornalistas esperam dos assessores de imprensa e as melhores práticas para uma colaboração eficaz.
Leia o relatório completo aqui
Leia também | Redes sociais superaram mídia tradicional no acesso global a notícias, aponta Instituto Reuters