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Pessoas que vivem em países ricos e democráticos se engajam menos em ativismo climático, revela estudo

Manifestante pedindo compromissos por mais recursos para ação climática durante a COP29 em Baku

Manifestação na COP29 por mais recursos para financiar ação climática (Foto: UN Climate Change - Kamran Guliyev)

  • Nova pesquisa revela que democracias e nações ricas são menos propensas a se engajar no ativismo climático.
  • Populações marginalizadas e de países menos favorecidos, que estão entre os que mais sofrem mais os efeitos do aquecimento global, lideram o engajamento ambiental.

Uma pesquisa internacional publicada nesta semana lança novas luzes sobre a relação entre democracia e ativismo climático. O estudo revela que, paradoxalmente, países mais ricos e democráticos têm níveis mais baixos de engajamento da população na ação climática.

Democracia e ativismo climático: o que explica a relação

Quanto mais rica e democrática uma nação, menor tende a ser o engajamento da população no ativismo climático, apesar de serem países com mais acesso à informação, educação formal e, na maioria dos casos, contando com imprensa livre e independente. 

É o que revela um estudo inédito publicado no dia 7 de julho no Journal of Environmental Psychology, com dados de 88 países e análises que desafiam suposições comuns sobre mobilização ambiental.

O trabalho foi liderado pelos pesquisadores Matthew Hornsey e Angela Pearson, da Universidade de Queensland, na Austrália. 

A pesquisa mostra que países menos favorecidos e menos democráticos apresentam maior disposição para agir — e destaca o papel crucial das vozes marginalizadas na linha de frente da mudança climática.

Essa é uma das bandeiras do Brasil na preparação para a COP30, que acontecerá em novembro em Belém.

Junto com a ONU, o país lançou em junho um chamado global para a participação dos diversos atores da sociedade na busca de soluções. 

Riqueza e ativismo climático: hipótese da precariedade

No entanto, o estudo não encontrou relação significativa entre os níveis de emissões de CO2 per capita e o engajamento em ativismo climático. Tampouco houve correlação direta entre o ativismo e a vulnerabilidade climática, medida por índices de risco.

Isso reforça a ideia de que os fatores estruturais da sociedade e a percepção de risco – e não apenas o efeito direto de eventos climáticos ocorridos no local – têm peso maior na disposição para agir do que apenas impactos ambientais imediatos.

Os autores propõem a “hipótese da precariedade” como explicação: a insegurança material constante em países mais pobres aumenta a percepção de risco climático, o que pode motivar maior engajamento na ação climática coletiva.

Os autores também testaram se os resultados se manteriam consistentes ao considerar apenas intenções de engajamento, excluindo os participantes que já estavam envolvidos em campanhas.

Os padrões se mantiveram parecidos. 

Democracia e ativismo climático: uma relação inversa

Para compreender por que a disposição para participar de ações climáticas varia tanto entre diferentes nações, os pesquisadores analisaram um robusto conjunto de dados que incluiu indicadores sociais, econômicos e políticos de 88 países.

Os dados foram coletados do banco de dados do Climate Change Opinion Survey, conduzido pelo Yale Program on Climate Change Communication em parceria com a Meta (Facebook), que reúne informações de 185 mil participantes de 111 países.

A pesquisa encontrou uma correlação negativa entre o nível de democracia de um país e o envolvimento de sua população com o ativismo climático.

Em vez de promover maior mobilização, ambientes democráticos parecem, em média, reduzir a probabilidade de engajamento direto – o que pode ser explicado pela distância maior dos efeitos do clima, ou interesses econômicos que travam medidas de combate ao aquecimento global, como limitação ao desmatamento e redução do uso de combustíveis fósseis. 

Segundo os autores, esse dado desafia a expectativa de que democracias mais abertas incentivariam a participação cidadã em causas ambientais. Em contraste, os países com classificações mais baixas em índices de democracia mostraram populações mais ativas na causa climática.

Quando a preocupação vira ação nas democracias ricas

Apesar da tendência geral de menor engajamento, o estudo aponta uma nuance importante: quando a preocupação com o clima está presente em países ricos e democráticos, ela tem maior chance de se traduzir em ações concretas.

Isso sugere que o contexto socioeconômico e político pode moderar o efeito da preocupação individual, tornando-a um preditor mais forte de comportamento ativista nessas regiões.

Nesse ponto, o Brasil se destaca em uma outra pesquisa também publicada recentemente: é um dos países onde a população está mais consciente da relação entre eventos climáticos extremos e as mudanças climáticas, a chamada “atribuição”. 

Vozes marginalizadas no ativismo climático global

O estudo também sublinha o protagonismo das populações marginalizadas, frequentemente vistas apenas como vítimas da crise climática. Os autores ressaltam que essas comunidades têm desempenhado um papel fundamental como catalisadoras da mobilização ambiental global.

Essa perspectiva desafia visões paternalistas e amplia a compreensão sobre quem são os verdadeiros agentes da mudança.

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