- O que aconteceu: O fim do The Late Show da CBS após críticas de Stephen Colbert ao acordo da Paramount com Donald Trump para por fim a processo judicial contra a CBS levanta suspeitas de pressão política.
- Decisão da emissora, sob justificativa de “reestruturação financeira” agrava crise editorial que provocou saídas de executivos.
O fim do tradicional programa Late Show pela CBS marca o encerramento de uma era na TV americana e revela os efeitos da pressão política sobre a emissora após críticas públicas de Stephen Colbert ao acordo da Paramount com Donald Trump.
Fim do Late Show na CBS surpreende público e mídia
“Tudo isso vai acabar.” Com essa frase, Stephen Colbert anunciou ao vivo o fim do Late Show, encerrando não apenas seu próprio programa, mas também uma era de mais de três décadas na televisão americana.
O anúncio, feito na abertura do programa de 17 de julho, pegou muitos de surpresa e gerou uma onda de reações entre fãs, jornalistas e políticos.
A atração será encerrada em maio de 2026, após uma última temporada que promete ser histórica.
Justificativa oficial contrasta com crise política nos bastidores
A justificativa oficial da CBS foi “reestruturação financeira”, mas os bastidores revelam uma trama muito mais complexa — envolvendo política, disputas corporativas e uma crise de identidade editorial.
Colbert, conhecido por suas críticas mordazes ao presidente Donald Trump, recentemente atacou publicamente a Paramount Global (empresa-mãe da CBS) por um acordo de US$ 16 milhões com Trump, que encerrou um processo bilionário movido contra a emissora.
A ação judicial alegava que a CBS havia editado uma entrevista com Kamala Harris para favorecer a então candidata democrata. Embora Harris tenha perdido as eleições, Trump manteve o processo como forma de pressão política.
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Colbert critica acordo e sofre retaliação interna
O acordo foi interpretado por Colbert como um “suborno”, e sua crítica à Paramount gerou desconforto interno. Três dias depois, o cancelamento do Late Show foi anunciado por ele, despertando surpresa e vaias dirigidas aos que tomaram a decisão.
Senadores como Adam Schiff e Elizabeth Warren manifestaram preocupação com o que chamaram de “retaliação política disfarçada de decisão comercial”.
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Saída de executivos amplia crise editorial na CBS
A crise na CBS se aprofundou com a saída de Wendy McMahon, CEO do departamento de notícias. Ela renunciou em maio alegando divergências com a Paramount sobre o acordo com Trump.
Bill Owens, produtor executivo do 60 Minutes, também pediu demissão, citando perda de independência editorial.
A Paramount, por sua vez, busca aprovação do governo Trump para uma fusão bilionária com a Skydance Media — o que aumentou a pressão por alinhamento político e editorial dentro da emissora.
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Legado de Colbert e última chance no Emmy 2025
Aos 61 anos, Stephen Colbert é uma figura central na cultura americana. Começou como correspondente no The Daily Show, criou o icônico The Colbert Report (2005–2014) e assumiu o Late Show em 2015, substituindo David Letterman.
Ao longo da carreira, entrevistou personalidades como Barack Obama, Hillary Clinton, Meryl Streep, Joaquin Phoenix, o Papa Francisco e até Elon Musk.
É vencedor de nove Emmys, dois Grammys e três Peabody Awards, e já foi listado entre as 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time.
Mesmo diante do encerramento, Colbert continua em alta. O Late Show está indicado ao Emmy 2025 na categoria de Melhor Talk Show, ao lado de The Daily Show e Jimmy Kimmel Live.
A cerimônia será realizada no próximo dia 14 de setembro, em Los Angeles, e pode coroar Colbert com mais uma estatueta antes da despedida.
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Papel de Trump e crise de independência editorial
O contexto político nos Estados Unidos também contribui para o clima de tensão.
A CBS, que já foi símbolo de jornalismo independente, agora enfrenta acusações de ceder à pressão governamental para facilitar fusões e evitar retaliações.
A saída de Colbert é vista por muitos como um reflexo direto da polarização e da fragilidade da liberdade editorial.
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