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ONGs se reúnem em Atlanta para exigir libertação de jornalista salvadorenho preso em protesto contra Trump

Mario Guevara, jornalista salvadorenho, foi preso nos EUA em junho e continua detido

Mario Guevara, jornalista salvadorenho, foi preso nos EUA em junho e continua detido (Foto: reprodução Instagram)

  • O que aconteceu: Um grupo de organizações de direitos civis liderado pelo Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) exigiu que Mario Guevara, jornalista de El Salvador radicado nos EUA há mais de 20 anos e preso desde 14 junho, seja libertado imediatamente.
  • Ele foi detido durante a cobertura de um protesto anti-Trump em Atlanta e segue preso mesmo após ordem judicial de soltura, em um dos casos mais emblemáticos da repressão à imprensa do atual governo dos EUA. 

Familiares do jornalista salvadorenho, junto com organizações locais e internacionais, reuniram a imprensa na capital da Georgia nesta terça-feira (22) para protestar contra a decisão do governo de Donald Trump, que está mantendo Mario Guevara preso apesar de a justiça ter determinado sua libertação.

CPJ e outras organizações exigem libertação do jornalista preso nos EUA

Mário Guevara vive nos EUA legalmente desde que fugiu de El Salvador em 2004, após sofrer ameaças por seu trabalho como repórter político no jornal La Prensa Gráfica. Nos EUA, fundou o site MGNews e em 2023 recebeu um prêmio Emmy pelo seu trabalho. 

A prisão aconteceu quando ele fazia a transmissão ao vivo de um protesto contra a administração do presidente Donald Trump.

Ele é atualmente o único profissional de imprensa preso em solo americano por acusações relacionadas à atividade jornalística. 

Guevara está sob custódia do ICE (autoridade imigratória dos EUA) e corre o risco de ser deportado apesar de seu status de residente legal. 

Vídeo mostra a prisão do jornalista em junho

A prisão de Guevara ocorreu mesmo ele estando identificado com colete de imprensa e transmitindo ao vivo um protesto contra Donald Trump em sua página Facebook, que tem 780 mil seguidores.

A transmissão é interrompida quando ele é abordado, dizendo que era um membro da imprensa e pedindo para terminar a reportagem. 

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Arquivamento das acusações e situação atual

No dia 25 de junho, três acusações iniciais de reunião ilegal, obstrução e de estar como um pedestre na via pública reservada a automóveis foram arquivadas por falta de provas.  

Em 10 de julho, as três acusações restantes que foram apresentadas depois que Guevara já estava sob custódia do ICE — direção imprudente, desobediência aos sinais de trânsito e uso ilegal de um dispositivo de telecomunicações — também foram arquivadas devido a evidências insuficientes e falta de fundamentos legais. 

Ainda assim, o jornalista segue preso. 

Entidades denunciam abuso de poder e censura

A entrevista coletiva para a imprensa em Atlanta reuniu representantes do grupo de defesa Free Press, da Georgia First Amendment Foundation, da American Civil Liberties Union (ACLU) da Geórgia, o advogado de Guevara, Giovanni Diaz, os filhos do jornalista (Oscar e Katherine Guevara) e o Diretor Regional do CPJ, Américas, José Zamora – filho de Jose Rúben Zamora, veterano editor da Guatemala que responde a uma série de processos em seu país. 

FotoL Divulgação CPJ

Katherine Jacobsen, coordenadora do CPJ para EUA, Canadá e Caribe, afirmou que a detenção de Guevara representa uma grave forma de censura e abuso da autoridade do ICE .

Nora Benavidez, da Free Press, alertou para o clima de medo e repressão que enfraquece a democracia, reforçando que o caso de Guevara é apenas a ponta do iceberg da repressão à liberdade de expressão sob o governo Trump. 

Familiares e entidades alertam para riscos à democracia

Andrés M. López-Delgado, advogado da ONG União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), ressaltou que as proteções da Primeira Emenda da Constituição dos EUA se aplicam independentemente do status de cidadania.

Ele expressou preocupação com o efeito da detenção sobre o trabalho jornalístico:

“Jornalistas não deveriam precisar se preocupar em serem deportados ou sofrerem outras retaliações quando estão apenas tentando fazer seu trabalho.”

Katherine Guevara, filha do jornalista, relatou a dor da família:

“Estamos presos em um pesadelo. Não se trata apenas de um jornalista. Trata-se do tipo de país que queremos ser.”

Donald Trump completou seis meses no poder no último domingo, 20 de julho. A organização Repórteres Sem Fronteiras fez um balanço das violações da liberdade de imprensa desde então, salientando a influência sobre outros países. 

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