As imagens mais impactantes escolhidas pelos jurados do concurso de fotografia Prix Pictet 2025 mostram que a verdadeira tempestade não está apenas no céu.
O prêmio internacional de fotografia ambiental anunciou os finalistas deste ano com o tema “Storm” — e os trabalhos selecionados revelam que a força destrutiva das tempestades vai muito além de colapsos ecológicos. Elas se manifestam também em guerras, crises políticas e memória histórica.
A edição de 2025 do Prix Pictet traz fotógrafos de diferentes países — da Ucrânia a Gaza, de Veneza ao Congo — que transformaram eventos extremos em imagens poéticas, duras ou desconcertantes.
Fotografias de tempestades reais e metafóricas em destaque
Algumas séries retratam desastres naturais, como secas e enchentes. Outras exploram tempestades simbólicas, como a invasão do Capitólio dos EUA ou a dor das populações em zonas de conflito.
Hannah Modigh – Hurricane Season
A imagem faz parte da série Hurricane Season, em que Hannah Modigh documenta a vida no sul da Louisiana, uma região marcada por tensões sociais e o constante medo de desastres naturais.

Interessada inicialmente na história violenta do estado, Modigh percebeu que o medo de furacões e a agressividade latente tinham origem comum: a sensação permanente de ameaça. O retrato do menino diante de um caminhão e águas represadas sugere essa atmosfera de inquietação disfarçada sob aparente normalidade.
Marina Caneve – Are They Rocks or Clouds?
A imagem de uma estrada parcialmente destruída nas Dolomitas faz parte da série Are They Rocks or Clouds?, que investiga os riscos de novos desastres como os que devastaram a região em 1966.
Marina Caneve evita as imagens tradicionais das montanhas e opta por metáforas visuais da fragilidade geológica, revelando camadas do tempo e a instabilidade das encostas e refletindo sobre a força da natureza e os sinais de colapso ignorados.
Alfredo Jaar – The End
Alfredo Jaar registra a degradação do Great Salt Lake, em Utah, resultado da extração excessiva de água. O lago perdeu 73% de seu volume desde o século 19, pondo em risco um ecossistema vital para milhões de aves migratórias e o equilíbrio climático da região.
A imagem mostra fumaça e salinidade elevada, alertando para o colapso iminente, descrito por cientistas como uma “bomba nuclear ambiental” com impactos devastadores para a saúde, a economia e o meio ambiente local.
Takashi Arai – Exposed in a Hundred Suns
Na série Exposed in a Hundred Suns, Takashi Arai utiliza daguerreótipos para registrar monumentos ligados à história nuclear do Japão, dos EUA e das Ilhas Marshall.
Tendo crescido ouvindo relatos de hibakushas (sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki), ele busca criar “micromonumentos” que desafiem a narrativa oficial, muitas vezes construída por imagens feitas pelos próprios aviões que lançaram as bombas. A imagem convida à reflexão sobre memória, autoria e verdade histórica.
Tom Fecht – Luciferines
Tom Fecht captura um vórtice formado por luciferinas — plânctons marinhos bioluminescentes ameaçados pelo aquecimento dos oceanos. A série Luciferines – Entre Chien et Loup só pode ser realizada em um momento específico do dia: quando o azul do amanhecer encontra os últimos raios da lua.
As formas circulares, quase invisíveis a olho nu, revelam o lado sublime de organismos à beira da extinção, tornando visível o invisível.
Balazs Gardi – The Storm
A imagem foi feita durante a invasão ao Capitólio dos EUA, em 6 de janeiro de 2021. A série The Storm retrata esse episódio como o auge de uma tensão crescente no país após as eleições.
Gardi, que cresceu na Hungria pós-comunista e viu o efeito da propaganda política, vê o evento como um sinal de alerta: mesmo sociedades privilegiadas podem escorregar para distopias autoritárias. A multidão com bandeiras diante do Congresso simboliza o risco de ruptura democrática.
Roberto Huarcaya – Amazogramas
Durante a criação de um fotograma de 30 metros com uma palmeira amazônica no leito do rio Madre de Dios, uma tempestade irrompeu. Quatro relâmpagos atingiram o papel fotossensível, criando traços de energia pura.
Na série Amazogramas, Huarcaya propõe que a tempestade não é apenas destruição, mas um ato da natureza que busca equilíbrio. Aqui, a imagem não é feita pelo fotógrafo, mas pela própria selva.
Belal Khaled – Hands Tell Stories
Fotografada em Gaza, a imagem faz parte da série Hands Tell Stories, iniciada após a casa de Belal Khaled ser destruída. Vivendo em uma tenda ao lado do necrotério lotado do hospital Nasser, o fotógrafo começou a registrar mãos como forma de narrar a dor e a resistência sem palavras.
Cada mão carrega marcas, ausências e persistência. Nesta foto, um gesto simples — segurar garrafas d’água — ganha significado profundo num contexto de colapso humanitário.
Baudouin Mouanda – Le ciel de saison
Durante as enchentes de 2020 em Brazzaville, República do Congo, Baudouin Mouanda não pôde fotografar diretamente as ruas alagadas. Em vez disso, reconstruiu as cenas com os próprios moradores, que posaram com seus objetos em porões inundados.
A série Le Ciel de Saison mistura realidade e encenação para preservar a memória coletiva da tragédia. Nesta imagem, uma mulher e uma menina posam em frente a uma banca de legumes, com água até os joelhos.
Camille Seaman – The Big Cloud
Uma supercélula — tempestade gigantesca capaz de gerar tornados e granizo enorme — paira sobre uma fazenda. A série The Big Cloud mostra o lado sublime e ameaçador dessas formações, que bloqueiam a luz do dia e mudam o horizonte.
Seaman chama atenção para o contraste entre beleza e destruição, lembrando que cada nuvem dessas representa também perdas reais para quem vive sob ela.
Laetitia Vançon – Tribute to Odesa
Em outra metáfora da ideia de tempestade, associando-a a tormentas causadas pelo homem, Laetitia Vançon presta homenagem à resistência dos moradores de Odesa, na Ucrânia. A série Tribute to Odesa mostra como, em tempos de conflito, gestos simples — como nadar, ir à escola, rezar ou dançar — se tornam formas discretas de heroísmo.
Com olhar sensível, a fotógrafa retrata a cidade não pelos combates, mas pela coragem cotidiana de quem escolheu ficar e continuar vivendo, mesmo diante do medo constante.
Patrizia Zelano – Acqua Alta a Venezia
A série Acqua Alta a Venezia retrata livros resgatados por Patrizia Zelano durante a histórica enchente de 2019 em Veneza. A artista fotografou enciclopédias, tratados científicos e obras literárias danificadas pela água, transformando-os em símbolos da fragilidade do conhecimento diante das catástrofes naturais.
As imagens seguem uma narrativa em quatro etapas, ligando visualmente a história da arte desde a Antiguidade até a Idade Média, passando por volumes que se deformam como ondas ou paisagens marítimas em meio à destruição.
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