• O que aconteceu: Em dois discursos realizados no mesmo dia em Roma, o Papa Leão XIV tratou dos dilemas éticos da era digital, incluindo preocupações com o uso da inteligência artificial.
  • Ele abordou diretamente a missionários digitais suas opiniões sobre riscos da IA e também falou a jovens que acabaram de se tornar católicos sobre superficialidade e autenticidade nas redes sociais. 

Ao falar no Vaticano durante o Jubileu dos Missionários Digitais na terça-feira (29) o Papa Leo XIV expressou sua visão sobre a inteligência artificial, afirmando que sua adoção marca uma nova era e que a dignidade humana deve ser o limite da inovação tecnológica.

Papa e inteligência artificial: discurso no Vaticano propõe ética centrada no humano

O discurso mais enfático sobre os impactos das novas tecnologias foi feito na Basílica de São Pedro, diante de comunicadores, influenciadores católicos e missionários digitais, em que o pontífice foi recebido como um “pop star”. 

Em tom pastoral e crítico, o Papa Leão XIV destacou a centralidade da ética frente ao avanço da inteligência artificial (IA).

“Hoje estamos em uma cultura onde a dimensão tecnológica está presente em quase tudo, especialmente à medida que a adoção generalizada da inteligência artificial marcará uma nova era na vida dos indivíduos e da sociedade como um todo.”

Para o pontífice, o desafio é garantir que a criatividade humana não perca seu centro ético.

“Nada que venha da criatividade humana deve ser usado para minar a dignidade dos outros.”

Ele acrescentou que ciência e tecnologia afetam até mesmo “como nos relacionamos com Deus, como nos relacionamos uns com os outros”.

Leão XIV convocou os presentes a promoverem uma cultura tecnológica que permaneça humana:

“Nossa missão — sua missão — é nutrir uma cultura de humanismo cristão. E devemos fazer isso juntos. Esta é a beleza da ‘rede’ para todos nós.”

O Papa advertiu ainda que não se trata apenas de produzir conteúdo digital, mas de criar encontros reais “e de corações.”

Esse processo, segundo ele, começa com o reconhecimento da própria vulnerabilidade e da necessidade de conversão, sendo uma tarefa comunitária e contínua.

Autenticidade cristã frente à lógica algorítmica

Aos missionários digitais, Leão XIV propôs um gesto simbólico com base no Evangelho: “Vão e remendem as redes”, disse, evocando a cena em que Jesus chama seus primeiros apóstolos.

Ele detalhou o significado desse chamado para os tempos atuais:

“Teçam outras redes: redes de relacionamentos, de amor, de partilha gratuita, onde a amizade seja profunda e autêntica; redes onde nenhuma ‘bolha’ silencie as vozes dos mais fracos; redes que libertem e salvem; redes de verdade.”

A fala também criticou a lógica dominante das plataformas:

“Não se trata de focar no número de seguidores, mas de experimentar a grandeza do Amor infinito em cada encontro.”

O Papa pediu que os influenciadores cristãos sejam “agentes de comunhão”, capazes de superar a divisão, a polarização e o individualismo.

E concluiu com um apelo para que a presença cristã no ambiente digital supere as distorções da comunicação:

“Centrem-se em Cristo, para superar a lógica do mundo, das fake news, da frivolidade, com a beleza e a luz da Verdade.”

Jovens, redes sociais e superficialidade digital

Mais cedo naquele dia, na Praça de São Pedro, o Papa se dirigiu a milhares de jovens franceses recém-batizados após a missa de abertura do Jubileu da Juventude.

Embora a inteligência artificial não tenha sido tema direto desse discurso, Leão XIV retomou a preocupação com a autenticidade na cultura digital.

“Obrigado por usarem suas plataformas digitais para espalhar a fé.

Mas cuidado para não negligenciarem os relacionamentos humanos em busca de cliques e seguidores. Não se deixem enganar pelas fake news e pela frivolidade dos encontros online.”

O discurso reforçou a importância da vida interior como âncora espiritual frente à volatilidade da comunicação digital.

O Papa exortou os jovens a cultivarem profundidade, escuta e coragem diante dos desafios contemporâneos da fé.