• O que aconteceu: A Corporation for Public Broadcasting (CPB) anunciou o início oficial de seu processo de fechamento após o corte total de financiamento federal determinado por Donald Trump, atingindo toda a mídia pública dos EUA. 
  • Acusada de viés “antiamericano”, a CPB é responsável por mais de 1,5 mil estações de rádio e TV com programação educativa e informação vital em situações de emergência. 

Donald Trump conseguiu aprovar na Câmara e no Senado a suspensão total das verbas previamente aprovadas para financiar a Corporation for Public Broadcasting (CPB), o que levará ao fim de rádios e emissoras de TV de serviço público que atendem a milhões de americanos.

Trump e o desmonte da CPB

Os planos para o desmonte da Corporation for Public Broadcasting (CPB), que por quase seis décadas financiou a rede de rádios e TVs de serviço público nos EUA, foram anunciados oficialmente no dia 1º de agosto. 

Com o corte de US$ 1,1 bilhão aprovado pelo Comitê de Apropriações do Senado — dominado por parlamentares conservadores —, a organização anunciou que demitirá a maioria de seus funcionários até 30 de setembro de 2025, mantendo apenas uma equipe técnica até sua extinção formal no início de 2026.

Esta equipe se concentrará em atividades de ordem legal, nas distribuições finais e na resolução de obrigações financeiras de longo prazo, incluindo a garantia da continuidade dos direitos musicais e royalties essenciais para o sistema de mídia pública.

“Apesar dos esforços extraordinários de milhões de americanos que ligaram, escreveram e pediram ao Congresso para preservar o financiamento federal para o CPB, agora enfrentamos a difícil realidade de fechar nossas operações”, disse Patricia Harrison, presidente e CEO da CPB.

Criada em 1967 durante o governo Lyndon B. Johnson, a CPB sempre desempenhou um papel essencial no ecossistema de mídia pública dos EUA. 

Ela distribuía recursos federais para emissoras como a PBS (Public Broadcasting Service), a NPR (National Public Radio) e diversas estações locais independentes.

Embora sem produzir conteúdo próprio, a CPB era o alicerce financeiro para programas jornalísticos, culturais e educativos, bem como rádios que fazem chegar a populações remotas informações de saúde pública e alertas em emergências como tornados e enchentes. 

Projetos como o “Ready To Learn”, voltado a crianças em situação de vulnerabilidade, dependiam dos fundos repassados pela organização.

Colapso da mídia pública nos EUA

As consequências da decisão são amplas. Estações em regiões rurais e comunidades de baixa renda correm risco de fechamento ou privatização.

Em muitos desses locais, a mídia pública é a única fonte de informação local confiável, e permite acesso gratuito a programas educativos, como o lendário Vila Sésamo. 

Em parceria com a Netflix, o programa continuará a ser produzido, mas outros semelhantes poderão simplesmente acabar ou  perder distribuição nacional em canais gratuitos, ficando restritos a quem pode pagar assinaturas. 

“A mídia pública tem sido uma das instituições mais confiáveis da vida americana, fornecendo oportunidades educacionais, alertas de emergência, discurso civil e conexão cultural com todos os cantos do país”, disse Harrison.

“Somos profundamente gratos aos nossos parceiros em todo o sistema por sua resiliência, liderança e dedicação inabalável em servir o povo americano”, completou. 

Outras instituições também sofrem cortes

A U.S. Agency for Global Media (USAGM), agência federal que financia redes como a Voice of America (VOA) e a Radio Free Europe/Radio Liberty, também sofreu cortes drásticos em 2025. As operações em diversas regiões com censura à imprensa foram reduzidas ou encerradas.

Essas redes têm como missão promover jornalismo livre e combater a desinformação, especialmente em países como Cuba, Irã e regiões da Ásia Central.

O esvaziamento de suas atividades representa um retrocesso na política externa e na defesa da liberdade de imprensa.

Mobilização contra os cortes

Milhões de americanos têm se mobilizado contra os cortes.

Cartas ao Congresso, abaixo-assinados e campanhas nas redes sociais pressionam pela reversão da decisão. Entidades como a Public Media Alliance e a Free Press alertam para o risco de desmonte completo da mídia pública. 

Além da perda cultural e educativa, especialistas temem o aumento da desinformação, da polarização e da influência estrangeira no vácuo deixado por uma mídia pública que operava com independência assegurada por lei. 

Futuro incerto sem a CPB

Com o fim da CPB, emissoras buscam alternativas como financiamento comunitário, parcerias com universidades e campanhas de doação. No entanto, é incerto se conseguirão manter a qualidade e o alcance das produções sem o suporte da instituição.

O colapso da CPB marca um ponto de inflexão na história da comunicação nos EUA, reforçando o papel da decisão política na definição dos rumos da mídia e do acesso à informação.