A bomba de Hiroshima completa 80 anos neste 6 de agosto, data lembrada em cerimônias pelo mundo como símbolo do impacto devastador da guerra e do perigo das armas nucleares – mas mesmo diante da visibilidade em torno da tragédia, persistem nas redes sociais teorias conspiratórias que questionam a veracidade dos ataques.

Algumas alegam que Hiroshima não foi atingida por uma bomba nuclear, mas por napalm. Outras negam a existência do Projeto Manhattan ou afirmam que os vídeos dos testes nucleares são forjados.

Alimentadas por algoritmos e celebridades da mídia digital, teorias conspiratórias sobre a bomba de Hiroshima encontram terreno fértil para se espalhar e desafiam o esforço coletivo de preservar a história 80 anos depois.

Desconstruindo as teorias conspiratórias sobre a bomba de Hiroshima, que faz 80 anos

Periodicamente, quando esse tipo de desinformação ganha visibilidade, agências internacionais de checagem publicam análises para desfazer as falsidades.

Foi o que fizeram recentemente a Full Fact, do Reino Unido, e a AP Fact Check, dos Estados Unidos, após a viralização de um post no Facebook e de um episódio do podcast de Joe Rogan que reacenderam quatro teorias conspiratórias sobre a bomba lançada pelos EUA para colocar fim à Segunda Guerra Mundial. 

1. A bomba atômica não foi inventada pelo escritor H.G. Wells

A Full Fact desmentiu uma teoria que circulou em um post do Facebook (já removido pela plataforma) afirmando que o escritor H.G. Wells teria inventado a bomba atômica.

A confusão vem do livro “The World Set Free” (1914), em que Wells descreve uma bomba lançada por aviões. A obra realmente influenciou o físico Leo Szilard, mas não se trata de uma invenção literal da bomba.

Szilard desenvolveu o conceito de reação em cadeia, crucial para a criação da arma nuclear, anos depois. A afirmação de que Wells criou a bomba ignora a base científica e técnica do Projeto Manhattan, responsável pela sua concretização.

2. O Projeto Manhattan foi uma fantasia

Outra teoria apresentada no post analisado pela Full Fact afirma que o Projeto Manhattan nunca existiu, sendo apenas uma ficção sem registros concretos. 

No entanto, o programa de pesquisa e desenvolvimento liderado pelos EUA durante a Segunda Guerra Mundial é amplamente documentado e estudado, e foi retratado com rigor histórico no filme Oppenheimer. 

Há registros oficiais, fotografias, cartas e testemunhos que comprovam sua existência.

Entre eles estão a carta enviada por Albert Einstein ao presidente Franklin Roosevelt em 1939, e sua infraestrutura ainda preservada em locais como Los Alamos.

A teoria ignora todo esse acervo histórico e científico.

3. Hiroshima foi atacada com napalm, não com bomba nuclear

A mesma publicação no Facebook também afirmou que Hiroshima foi atingida por bombas de napalm, como as usadas em Tóquio em março de 1945 (e posteriormente na guerra do Vietnã) e não por armamento nuclear, outra tese usada pelos que tentam desacreditar a existência da bomba atômica. 

A Full Fact refutou essa alegação com base em evidências médicas e científicas.

Sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki apresentaram sintomas claros de envenenamento radioativo.

Museu em Hiroshima exibe maquete mostrando onde a bomba foi lançada

Estudos posteriores revelaram índices elevados de câncer e doenças ligadas à exposição a urânio-235 e plutônio-239 — elementos usados nas bombas, incompatíveis com armas convencionais.

4. Os vídeos dos testes nucleares são forjados

Algumas teorias conspiratórias em torno das bombas atômicas como as que foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki há 80 anos parecem adormecidas até uma celebridade dar visibilidade a elas.  

A AP Fact Check desmentiu uma teoria difundida em julho de 2023, durante um episódio do podcast “The Joe Rogan Experience”, em que o investidor Marc Andreessen questionou a autenticidade dos vídeos de testes nucleares divulgados pelos EUA, alegando que nenhuma câmera teria resistido à explosão – e colocando em dúvida a existência dessas armas. 

O trecho viralizou nas redes sociais, interpretado por muitos como evidência de uma farsa.

A AP explicou que os testes são registrados por câmeras posicionadas a grandes distâncias, muitas delas protegidas por estruturas reforçadas. Também foram usados aviões para capturar imagens, hoje disponíveis em acervos públicos.

Influenciadores, algoritmos e a nova face da desinformação

Essas teorias não são novas, mas seu alcance foi multiplicado pelas redes sociais. A estrutura algorítmica das plataformas prioriza conteúdo que gera engajamento, mesmo que distorça eventos históricos.

Além disso, vozes com grande audiência — como a de Joe Rogan — ajudam a dar legitimidade a narrativas infundadas. 

Estudos sobre desinformação mostram que a automação com bots e perfis falsos também contribui para a disseminação de teorias conspiratórias, reforçadas pelo uso da IA para criação de imagens convincentes.