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Jornalista é condenada a dois anos na Geórgia por ‘agredir policial’; ONGs denunciam caso político

jornalista Mzia Amaglobeli foi condenada na Geórgia

Mzia Amaglobeli, sentenciada a dois anos de prisão, está detida desde janeiro (foto: IFJ)

  • Mzia Amaglobeli, jornalista reconhecida na Geórgia, foi condenada a dois anos de prisão por suposta agressão a policial
  • Entidades internacionais denunciam o caso como politizado e intimidador contra a imprensa independente

Cofundadora de veículos jornalísticos independentes, Amaglobeli foi presa após um confronto com a polícia durante repressão a protestos e enfrenta deterioração de saúde, enquanto organizações como CPJ e IFJ e até o Parlamento Europeu exigem sua libertação.

Jornalista condenada na Geórgia estava presa desde janeiro 

A jornalista Mzia Amaglobeli, condenada a dois anos de prisão sob a acusação de supostamente ter agredido um chefe de polícia na cidade de Batumi, tornou-se um símbolo da luta contra a repressão à imprensa na Geórgia, que recentemente aprovou uma lei do agente estrangeiro seguindo o modelo utilizado pela Rússia.

Ela é a primeira mulher jornalista na Geórgia a ser reconhecida como prisioneira de consciência, status atribuído por grupos de defesa dos direitos humanos. 

As autoridades afirmam que ela teria dado um tapa no chefe de polícia de Batumi, Irakli Dgebuadze.

Amaglobeli nega a alegação, dizendo que Dgebuadze a insultou e cuspiu na cara dela, provocando uma reação instintiva. Sua defesa diz que nenhuma evidência objetiva apoia a acusação. 

A acusação foi depois reclassificada como “resistência, ameaça ou violência contra autoridade” após revisão judicial.

Amaglobeli está detida desde 14 de janeiro em regime de prisão preventiva. Segundo seus advogados e entidades de defesa da liberdade de imprensa, a ação penal foi uma retaliação ao trabalho jornalístico da profissional. 

Os dois veículos independentes que ela fundou e dirige, Batumelebi e Netgazeti, tiveram suas contas bancárias congeladas pelas autoridades fiscais, em mais um episódio visto como pressão política.

O Parlamento Europeu, em uma resolução aprovada em 19 de junho, exigiu a libertação imediata de Amaglobeli e denunciou o que chamou de ataques sistemáticos à mídia independente pelo governo georgiano. 

Estado de saúde e apelação em andamento

De acordo com seus representantes, a saúde de Mzia Amaglobeli se deteriorou de forma alarmante durante os meses de prisão, com perda progressiva da visão.

A jornalista relatou ter sofrido tratamento desumanizante durante as detenções ocorridas nos dias 11 e 12 de janeiro.

O advogado internacional responsável pelo caso, Caoilfhionn Gallagher, já entrou com apelação contra a decisão judicial.

CPJ, IFJ e outras entidades denunciam perseguição

O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) classificou a sentença como “escandalosa” e afirmou que ela exemplifica táticas autoritárias da Geórgia contra a mídia independente.

A organização pediu que as autoridades não recorram da apelação de Amaglobeli e investiguem alegações de maus-tratos durante sua detenção.

Outras entidades de peso também se manifestaram.

A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), a Federação Europeia de Jornalistas (EFJ) e a Associação Independente de Jornalistas da Geórgia (IAGJ) condenaram a decisão judicial e exigiram a libertação imediata da jornalista.

A presidente da EFJ, Maja Sever, afirmou: “Esta condenação, baseada em uma suposta agressão que todas as testemunhas confiáveis negam, é na verdade um ato de intimidação contra todos os jornalistas georgianos.”

Zviad Pochkhua, presidente da IAGJ, disse que o caso de Amaglobeli faz parte de uma campanha estatal para restringir a liberdade de expressão na Geórgia.

Para o secretário-geral da IFJ, Anthony Bellanger, o julgamento representa “um ataque direto à profissão do jornalismo” e um exemplo de como a liberdade de expressão pode ser sufocada por intimidações.

Autoridades georgianas afirmaram que o processo contra Amaglobeli não está relacionado ao seu trabalho no jornalismo. Eles também acusaram a União Eropeia de interferir nos assuntos internos, destacando ainda mais a tensão política em torno do caso.

Liberdade de imprensa na Geórgia: ‘situação difícil’

No World Press Freedom Index 2025 da organização Repórteres Sem Fronteiras,  a Geórgia caiu da 103ª posição em 2024 para a 114ª em 2025, entre 180 países avaliados.

O índice médio do país é de 50,53, o que posiciona a situação da imprensa georgiana como “difícil”. A RSF A destaca como fatores agravantes a violência contra jornalistas, repressão institucional, controles econômicos e interferências políticas na mídia pública. 

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