-
O que aconteceu: Centenas de palestinos participam do funeral de cinco jornalistas da Al Jazeera mortos por Israel em Gaza
-
Repercussão: Líderes mundiais e entidades de direitos humanos e liberdade de imprensa condenaram ataque israelense contra tenda onde jornalistas estavam, em frente a um hospital
O funeral dos jornalistas da rede Al Jazeera, que morreram em um bombardeio do exército israelense no domingo (10), tornou-se um ato de protesto contra Israel. Autoridades globais e organizações de defesa da liberdade de imprensa condenaram o país pelo ataque deliberado a profissionais de imprensa.
Funeral dos jornalistas mortos em Gaza
O ataque que vitimou os jornalistas da Al Jazeera matou sete pessoas, incluindo os repórteres Anas al-Sharif, uma das faces mais conhecidas do jornalismo na Palestina, e Mohammed Qreiqeh, além dos operadores de câmera e assistentes Ibrahim Zaher, Moamen Aliwa e Mohammed Noufal.
O repórter freelance Mohammed al-Khaldi também está entre os mortos. Há ainda uma sétima vítima.
Os corpos foram transportados do hospital al-Shifa, onde estava a tenda atacada pelo exército israelense, até o cemitério Sheikh Radwan, no centro de Gaza.
An outpouring of grief and condemnation has followed the Israeli assassination of five Al Jazeera staff in Gaza, including prominent correspondent Anas al-Sharif.
🔗: https://t.co/MEM8sQ9wbi | #JournalismIsNotACrime pic.twitter.com/A1hFL9E9pj
— Al Jazeera English (@AJEnglish) August 11, 2025
A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) informou que outros três jornalistas ficaram feridos.
Condenações e acusações de ataque direcionado
A Al Jazeera Media Network condenou o que chamou de “assassinato direcionado” por forças israelenses.
O governo de Israel justificou o ato afirmando que Al-Sharif era integrante do Hamas, líder de uma célula terrorista.
“O exército israelense admitiu seus crimes”, disse a emissora, descrevendo o ataque como “agressão flagrante e premeditada contra a liberdade de imprensa”.
Al-Sharif era “um dos jornalistas mais corajosos de Gaza”, afirmou a Al Jazeera, acrescentando que o ataque foi “uma tentativa desesperada de silenciar vozes em antecipação à ocupação de Gaza [anunciada por Israel]”.
O primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al Thani, afirmou que “o ataque deliberado de jornalistas por Israel na Faixa de Gaza revela como esses crimes vão além do que se pode imaginar, em meio à incapacidade da comunidade internacional e de suas leis de interromper essa tragédia”.
Reações da ONU e de autoridades internacionais
O Escritório de Direitos Humanos da ONU condenou o ataque, chamando-o de “grave violação do direito internacional humanitário”.
“Israel deve respeitar e proteger todos os civis, incluindo jornalistas”, disse em publicação nas redes sociais, observando que pelo menos 242 jornalistas palestinos foram mortos em Gaza desde outubro de 2023.
“Pedimos acesso imediato, seguro e irrestrito a Gaza para todos os jornalistas”, acrescentou.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, Josef Hinterseher, disse que seu governo ficou consternado com as mortes, e que Israel tem questões a responder.
Ele afirmou que o país deve explicar por que ignorou o status protegido do jornalista alvo do ataque— Anas al-Sharif — e por que o ataque também matou seus colegas.
O gabinete do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que ele está “profundamente preocupado” com o repetido direcionamento de jornalistas em Gaza.
A comissária europeia para Igualdade e Gestão de crises, Hadja Lahbib, disse estar “horrorizada” com a morte dos jornalistas da Al Jazeera em Gaza, incluindo Anas al-Sharif.
“Um golpe direto na liberdade de imprensa”, escreveu nas redes sociais.
“Os civis devem ser protegidos, o acesso garantido e a imprensa salvaguardada. Sempre.”
Acusações contra Israel e apelos à ação internacional
O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) disse estar “chocado” com as mortes.
“O padrão de Israel de rotular jornalistas como militantes sem fornecer provas confiáveis levanta sérias questões sobre sua intenção e respeito pela liberdade de imprensa”, afirmou a diretora regional do CPJ, Sara Qudah.
“Os responsáveis por essas mortes devem ser responsabilizados.”
A RSF também condenou o que descreveu como o “assassinato reconhecido pelo Exército israelense” de al-Sharif, chamando-o de “um dos jornalistas mais famosos da Faixa de Gaza e voz do sofrimento imposto por Israel aos palestinos”.
O grupo disse que o ataque lembrou a morte, em 2023, do jornalista da Al Jazeera Ismail al-Ghoul, também rotulado como “terrorista” por Israel.
A organização alertou para “assassinatos de profissionais da mídia” e pediu que o Conselho de Segurança da ONU intervenha.
A morte de al-Sharif ocorre mais de um ano após Israel bombardear a casa de sua família em um campo de refugiados, matando seu pai de 65 anos.
Acusaões de terrorismo sem evidências
O grupo afirmou que Israel tentou justificar a morte usando a “tática bem conhecida” de acusar seu alvo — neste caso, al-Sharif — “de ser terrorista, sem apresentar evidências concretas”.
A RSF, que já havia alertado que “acusações infundadas” contra al-Sharif o colocavam “em alto risco de ser alvo” de Israel, culpou a União Europeia, o Reino Unido e os Estados Unidos por “fecharem os ouvidos”.
“O Conselho de Segurança da ONU deve realizar uma reunião de emergência com base na Resolução 2222 de 2015 sobre a proteção de jornalistas em conflitos armados”, disse a RSF.
“Sem uma ação forte da comunidade internacional para deter o Exército israelense, alvo de quatro queixas apresentadas pela RSF ao Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra cometidos contra jornalistas em Gaza, corremos o risco de ver mais desses assassinatos de profissionais da mídia.”
Leia também | RSF apresenta quarta queixa ao Tribunal de Haia por crimes de guerra de Israel contra jornalistas