- O que aconteceu: ONU é pressionada a agir após assassinato de seis jornalistas em Gaza por Israel
- RSF afirma que houve “carnificina” e cobra ação urgente com base na Resolução 2222 do Conselho de Segurança
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) exigiu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para interromper o que classifica como “carnificina” de jornalistas em Gaza, após um ataque israelense que matou seis profissionais da mídia, cinco deles da rede Al Jazeera.
RSF exige ação imediata da ONU
O pedido da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) de uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU é baseado na Resolução 2222 de 2015 sobre a proteção de jornalistas em conflitos armados. para interromper o que chamou de “carnificina” na Faixa de Gaza.
O apelo foi feito após um ataque israelense no domingo, 10 de agosto, que matou seis profissionais da mídia em Gaza.
Cinco deles trabalham ou trabalharam para o canal de TV Al Jazeera e um era jornalista freelancer.
O alvo principal, de acordo com o exército israelense, era o repórter Anas al-Sharif, acusado — sem que tenham sido apresentadas provas sólidas — de “ligação com o terrorismo”.
“RSF condena fortemente o assassinato de seis profissionais da mídia pelo exército israelense, mais uma vez sob o pretexto de acusações de terrorismo contra um jornalista”, declarou o diretor-geral da organização, Thibaut Bruttin.
Ele destacou que o exército israelense já matou mais de 200 jornalistas desde o início da guerra. “A comunidade internacional não pode mais fechar os olhos e deve agir para pôr fim a essa impunidade.”
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O ataque em Gaza
O ataque ocorreu na noite de 10 de agosto, quando um bombardeio atingiu uma tenda que abrigava um grupo de jornalistas perto do Hospital al-Shifa, em Gaza.
Além de Anas al-Sharif, uma das faces mais conhecidas da TV árabe, morreram o repórter Mohammed Qraiqea, o cinegrafista Ibrahim al-Thaher, o assistente de câmera e motorista Mohamed Nofal, o freelancer Moamen Aliwa (que já havia trabalhado para a Al Jazeera) e outro jornalista freelancer, Mohammed al-Khaldi, criador de um canal de notícias no YouTube.
O ataque também deixou feridos os repórteres independentes Mohammed Sobh, Mohammed Qita e Ahmed al-Harazine.
Um padrão repetido
A RSF afirmou que a ação repete uma tática já usada pelo exército israelense contra jornalistas da Al Jazeera, rede internacional de mídia mantida pelo governo do Catar, país que chegou a tentar intermediar um acordo de paz entre Israel e o Hamas.
Em 31 de julho de 2024, os repórteres Ismail al-Ghoul e Rami al-Rifi foram mortos em um ataque direcionado, após uma campanha difamatória contra al-Ghoul, acusado — assim como al-Sharif — de “afiliado a terroristas”.
Hamza al-Dahdouh, Mustafa Thuraya e Hossam Shabat, todos ligados ao canal do Catar também estão entre as vítimas desse método, segundo a organização.
Enquanto isso, a imprensa estrangeira continua proibida de entrar em Gaza, apesar de apelos seguidos de correspondentes internacionais, organizações de mídia e ONGs de direitos humanos e de liberdade de imprensa.
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Atenção ignorada
Desde outubro de 2024, a RSF alertava para o risco iminente de um ataque contra Anas al-Sharif, após acusações feitas pelo exército israelense.
Ele próprio escreveu sobre as ameaças, e deixou uma carta contundente para ser divulgada se fosse assassinado.
This is my will and my final message. If these words reach you, know that Israel has succeeded in killing me and silencing my voice. First, peace be upon you and Allah’s mercy and blessings.
Allah knows I gave every effort and all my strength to be a support and a voice for my…
— أنس الشريف Anas Al-Sharif (@AnasAlSharif0) August 10, 2025
A organização afirma que a comunidade internacional, incluindo União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos, ignorou esses avisos.
Tentativas frustradas no Tribunal de Haia
A RSF lembrou que, desde outubro de 2023, apresentou quatro queixas ao Tribunal Penal Internacional (TPI) solicitando investigações sobre o que descreve como crimes de guerra cometidos pelo exército israelense contra jornalistas em Gaza.
Nenhuma dessas ações conseguiu até agora mobilizar medidas concretas dos organismos internacionais.
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