Rupert Murdoch encerrou a semana passada demonstrando que a idade –  94 anos – não é obstáculo para seguir como uma das figuras mais influentes da história da mídia e da política global. 

Em poucos dias, o conglomerado de mídia News Corp. divulgou resultados financeiros robustos, anunciou o lançamento de um novo jornal impresso nos Estados Unidos e o empresário foi notícia pelos desdobramentos de um embate judicial com Donald Trump, ex-aliado político e agora adversário nos tribunais.

Tudo isso enquanto disputas familiares e especulações sobre seu sucessor continuam em curso.

Rupert Murdoch: influência global e raízes australianas

Nascido na Austrália, Murdoch herdou do pai o controle de um pequeno jornal e o transformou em um império global.

Ele é dono da Fox Corporation, que detém a rede de TV que se firmou como expoente da direita americana, e da News Corp., dona de títulos influentes no Reino Unido, na Austrália e nos EUA, como The Sun, The Times, The Australian, Herald Sun, Sky News Australia, Wall Street Journal e New York Post. 

Fora das redações, Murdoch também ocupa espaço no noticiário como figura pública: é figura proeminente em eventos globais como o Fórum Econômico de Davos, fez amizade com líderes globais e já se casou cinco vezes, incluindo uma união com Jerry Hall, ex-companheira de Mick Jagger.

A mais recente união aconteceu em 2024, quando ele já tinha 93 anos. 

Murdoch e a cultura pop

Sua trajetória inspirou personagens da cultura pop, como o patriarca da série Succession.

Embora os criadores não confirmem oficialmente a referência, é difícil dissociar a trama de sua história pessoal, que envolve poder, dinheiro, influência e uma novelesca disputa familiar.

Em um setor da mídia dominado hoje por jovens empreendedores que criaram as grandes plataformas digitais, Murdoch continua ativo e relevante, desafiando o tempo, adversários , a família e até o status quo da política em um dos estados mais progressistas dos EUA.

Novo jornal na Califórnia e resultados da News Corp

Em 4 de agosto, sua News Corp anunciou o lançamento do The California Post, jornal impresso que começará a circular em Los Angeles em 2026. Conservador e com estilo sensacionalista, inspirado no New York Post, o título surge em um momento de fragilidade do Los Angeles Times.

A aposta tem um viés político: um veículo alinhado à direita ou a eleitores indecisos em um estado majoritariamente democrata pode buscar influenciar debates eleitorais futuros.

O New York Post segue uma linha editorial conservadora e frequentemente alinhada a pautas republicanas nos Estados Unidos.

É conhecido por seu estilo sensacionalista e por críticas contundentes a figuras e a políticas associadas ao campo progressista, incluindo questões migratórias ambientais, temas críticos na Califórnia. 

Resultados financeiros robustos

O anúncio do novo jornal coincidiu com a divulgação de resultados positivos da News Corp: no quarto trimestre fiscal de 2025, a empresa registrou receita de US$ 2,11 bilhões, alta de 1% em relação ao ano anterior, e lucro líquido de US$ 86 milhões, um aumento de 28%.

No acumulado do ano fiscal, a receita foi de US$ 8,45 bilhões, avanço de 2%, com lucro de US$ 648 milhões — crescimento de 71%. O grupo também aprovou um programa de recompra de ações de US$ 1 bilhão.

Em termos de riqueza pessoal, Murdoch ocupa hoje a 87ª posição na lista de bilionários da Forbes, com cerca de US$ 22,6 bilhões — distante de nomes como Elon Musk (1º), Jeff Bezos (3º) ou Mark Zuckerberg (4º).

Mas, como lenda e como influência, permanece no topo absoluto.

Embate de Murdoch com Donald Trump

Uma das curiosidades sobre o magnata da mídia é que ele não parece ter alinhamentos automáticos.

Murdoch não hesitou em confrontar Trump, contrariando outros empresários de mídia, sobretudo os líderes das plataformas digitais, que em sua maioria (exceto Elon Musk) preferem evitar atritos com o ex-presidente. 

Desde janeiro, o empresário discordou da política tarifária do novo presidente dos EUA. Alguns de seus jornais, como o The Wall Street Journal, criticaram as medidas, gerando reclamações de Trump.

A tensão aumentou em julho, quando o mesmo jornal publicou uma reportagem associando ainda mais Trump ao pedófilo Jeffrey Epstein. Um caderno com mensagens de aniversário enviadas a Epstein teria uma atribuída a Trump, com a ilustração de uma mulher nua.

A matéria intensificou a pressão para o presidente dos EUA libere arquivos do processo envolvendo Epstein, que podem comprometer a ele e a outras celebridades e políticos. 

Trump negou ter escrito a mensagem e reagiu com um processo por difamação de US$ 10 bilhões contra Murdoch, contra a News Corp e contra jornalistas que participaram da reportagem.

Os advogados exigiram inicialmente um depoimento imediato do magnata devido à sua idade avançada.

Mas na semana passada as duas partes firmaram um acordo aceitando adiar o testemunho pessoal, desde que os advogados de Rupert Murdoch mantenham o tribunal atualizado sobre seu estado de saúde.

Disputa de herança e sucessão na News Corp

Mesmo tendo transferido o comando executivo da News Corp. a um dos filhos, Lachlan Murdoch, em 2023, Rupert continua exercendo forte influência. A decisão de publicar uma reportagem tão devastadora sobre Trump dificilmente teria sido tomada sem o seu aval. 

E quando ele se for? Em 2024, o empresário tentou mudar as regras do truste familiar, que controla participações na News Corp e na Fox, para dar poder exclusivo a Lachlan após a sua morte. Pelas regras originais, quatro de seus seis filhos têm um voto cada no conglomerado. 

A tentativa foi interpretada  como uma manobra para assegurar que a linha editorial da Fox News e dos veículos da News Corp. não seria mudada. 

Só que a ideia acabou barrada por Prudence, James e Elisabeth.  Eles uniram contra o quarto irmão, recorreram à Justiça e venceram.

James era o sucessor natural até romper com o pai na época da pandemia e criticar duramente a propagação de fake news sobre a covid-19 e sobre mudanças climáticas.

 A disputa deixou cicatrizes: nenhum dos três compareceu ao quinto casamento de Murdoch, em 2024.

A batalha permanece aberta, levantando dúvidas sobre o rumo ideológico do grupo quando o patriarca deixar a cena — algo que dificilmente ocorrerá por aposentadoria real voluntária.

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O que dizem os que analisam os rumos do clã Murdoch

Em entrevista à revista Fortune, um biógrafo de Murdoch,  Michael Wolff disse acreditar que os três irmãos com direito a voto acabarão se unindo contra Lachlan depois que o pai morrer, retirando-o do comando da News Corp e da Fox e provocando a implosão do império Murdoch na forma atual.

Nem todos concordam com esse desfecho, no entanto. E dinheiro pode ser o motivo.

A jornalista Claire Atkinson, que está escrevendo um livro sobre o clã Murdoch e também foi ouvida pela Forbes, acha que os bons resultados financeiros do grupo sob o comando de Lachan podem fazer com que os irmãos aceitem mantê-lo na liderança.

Mas em uma coisa todos que acompanham a história de Rupert Murdoch concordam: ele não dá sinais de que vai deixar o comando de fato até o fim. E pode ainda preparar alguma manobra final para encerrar sua trajetória de forma surpreendente, como um bom roteirista de série imaginaria. 

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