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Justiça argentina barra divulgação de áudios de Karina Milei; entidades reagem contra censura prévia

Javier Milei, presidente da Argentina, e Karina Milei no dia da posse em carro aberto

Karina estava ao lado de Javier no desfile da posse (foto: Facebook Karina Milei)

A proibição imposta pelo Judiciário argentino à veiculação de novos conteúdos gravados na Casa Rosada ampliou a tensão entre o governo Javier Milei e setores críticos em torno dos áudios vazados, que veem na medida um ataque à liberdade jornalística.

Entidades jornalísticas, juristas e setores da oposição reagiram com preocupação à medida cautelar emitida pela Justiça Federal argentina, que proíbe a divulgação de novos áudios vazados atribuídos a Karina Milei, irmã do presidente Javier Milei e atual secretária-geral da Presidência.

A decisão foi assinada no dia 1º de setembro pelo juiz federal Alejandro Patricio Maraniello, em resposta a uma solicitação do Ministério da Segurança, que alegou que os áudios foram obtidos por meio de uma “operação ilegal de espionagem” contra o governo.

Os arquivos teriam sido gravados sem autorização durante reuniões internas na Casa Rosada, e começaram a circular por meio do canal de streaming Carnaval, gerando forte repercussão política.

Canal independente provocou reação judicial

O Canal Carnaval — plataforma de mídia independente argentina — ganhou notoriedade por divulgar os áudios que envolvem figuras do governo.

Com forte presença em redes sociais e estilo informal, o canal é conhecido por sua linha editorial crítica ao governo Milei e por produzir conteúdo investigativo voltado à política e aos direitos humanos.

A divulgação dos áudios por Carnaval foi o gatilho direto para a medida judicial, que agora proíbe a publicação de qualquer novo material relacionado ao caso.

Áudios vazados revelam supostas irregularidades na ANDIS envolvendo Karina Milei

Nos áudios já vazados, Karina Milei e outros interlocutores discutem temas relacionados à Agência Nacional de Discapacidade (ANDIS), incluindo supostas negociações irregulares para aquisição de medicamentos e benefícios sociais.

Um dos nomes mencionados é o de Eduardo “Lule” Menem, primo do presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, e figura próxima ao núcleo duro do governo.

Decisão judicial proíbe novos vazamentos

A medida judicial determina que nenhum novo conteúdo relacionado aos áudios pode ser publicado ou retransmitido, sob pena de sanções legais.

O governo solicitou ao Poder Judiciário atacou os jornalistas Ivy Cángaro, Mauro Federico e Jorge Rial, segundo a Federação Argentina de Trabalhadores da Imprensa (Fatpren), solicitando  que seus locais de trabalho e suas casas particulares fossem invadidos.

O argumento é que a ação visa proteger a segurança institucional e impedir a disseminação de material obtido de forma ilícita.

Entidades denunciam censura e violação de direitos

No entanto, a decisão provocou forte reação de entidades como a ADEPA (Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina), que classificou a medida como censura prévia, alertando para o risco de violação da liberdade de imprensa e do direito ao sigilo das fontes jornalísticas.

Em comunicado, a Fatren disse:

“Expressamos nosso enérgico repúdio ao pedido feito pela Ministra da Segurança, Patricia Bullrich, ao Poder Judiciário para invadir as casas dos jornalistas Mauro Federico e Jorge Rial, bem como a medida cautelar que proíbe a difusão de áudios envolvendo funcionários do governo, o que constitui um profundo ataque à liberdade de imprensa e ao direito à informação dos cidadãos”

Essas ações repressivas contra jornalistas, que se somam à repressão contra fotojornalistas e setoristas que cobrem o Congresso e aos ataques digitais contra comunicadores com o claro objetivo de ‘disciplinar’ a imprensa, nos levam a exigir o respeito às leis que protegem a atividade jornalística e garantem que os cidadãos permaneçam informados”.

O constitucionalista Daniel Sabsay afirmou na mídia argentina que a decisão “fere frontalmente o artigo 14 da Constituição Argentina e tratados internacionais de direitos humanos”.

Já o jurista Cristián Cao alertou que se trata de um “precedente gravíssimo” e que a medida ignora princípios básicos do direito à informação.

Oposição acusa governo de tentar blindar Karina Milei

Setores da oposição também se manifestaram. Deputados da Unión por la Patria e da Coalición Cívica acusaram o governo de tentar blindar Karina Milei e silenciar denúncias públicas.

Parlamentares exigem que o conteúdo dos áudios seja investigado pelo Ministério Público, e não encoberto por decisões judiciais.

Figura-chave do governo permanece em silêncio

Karina Milei, conhecida por sua atuação estratégica e influência direta sobre o presidente, não se pronunciou publicamente sobre o conteúdo dos áudios nem sobre a medida judicial.

Ela tem sido uma das figuras mais próximas de Javier Milei desde a campanha presidencial, e é responsável por coordenar articulações políticas e decisões administrativas de alto nível.

Liberdade de expressão em xeque na Argentina

A controvérsia reacende o debate sobre os limites entre segurança institucional e liberdade de expressão, em um momento em que o governo enfrenta críticas por outras ações consideradas restritivas à imprensa, como o fechamento da agência estatal Télam, a suspensão de contas da Televisión Pública e o desmonte da Defensoría del Público.

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