A disseminação de fake news online foi apontada como a maior ameaça global de 2025 em uma pesquisa conduzida pelo Pew Research Center em 25 países, abrangendo diferentes níveis de renda, continentes e contextos políticos.
O estudo revela que em média mais de sete em cada 10 entrevistados (72%) consideram a desinformação na internet como uma grande ameaça global — índice superior ao das preocupações com terrorismo, economia, mudanças climáticas e doenças infecciosas.
Analisando apenas as respostas de cada país, em sete deles – Alemanha, Holanda, Polónia, Suécia, Reino Unido, os Estados Unidos e a Coreia do Sul – mais pessoas vêem a propagação de informações falsas como uma ameaça do que qualquer outra questão avaliada.
O Brasil aparece entre os cinco países que destoam dessa tendência. Embora a preocupação com as fake news também seja elevada entre os brasileiros, a principal ameaça percebida pela população dentre as cinco opções oferecidas é a disseminação de doenças infecciosas, reflexo do trauma da Covid-19.
Mas no conjunto dos entrevistados nos 25 países, ela figura como a menor preocupação. As principais, depois da desinformação, são as condições econômicas, o terrorismo e as mudanças climáticas.
O gráfico mostra como as percepções mudaram desde que o acompanhamento passou a ser feito.
Fake news, a maior ameaça global
O Pew observa que, embora o medo global sobre a desinformação online tenha se mantido estável em relação à pesquisa anterior, de 2022, houve aumentos significativos em alguns países.
Na Polônia, a proporção de pessoas que consideram a desinformação uma grande ameaça subiu 20 pontos percentuais. Também foram registradas altas na Suécia (+10), Hungria (+9), França (+6) e Alemanha (+6).
Apenas a Grécia apresentou queda, passando de 79% para 72%.
A percepção varia também conforme a faixa etária e a ideologia política. Segundo o Pew, em muitos países os adultos com 50 anos ou mais tendem a considerar a desinformação mais preocupante do que os jovens.
No Brasil e na Turquia, no entanto, ocorre o oposto: os mais jovens demonstram níveis mais altos de preocupação com as fake news.
O instituto também identificou padrões consistentes de polarização política. Nos Estados Unidos, 82% dos liberais consideram a desinformação uma grande ameaça, em comparação com 60% dos conservadores.
Diferenças semelhantes aparecem na Alemanha, Suécia, Reino Unido e Países Baixos, especialmente entre apoiadores de partidos populistas de direita.
Israel foi a única exceção: lá, pessoas de direita demonstraram mais preocupação com a desinformação do que os de esquerda.
Economia, ameaça para 70% do público
A segunda maior preocupação global apontada pela pesquisa foi a condição da economia internacional, considerada uma grande ameaça por 70% dos entrevistados.
O Pew Research Center explica que a percepção de risco econômico está fortemente associada à avaliação que as pessoas fazem da economia de seus próprios países.
Em 21 dos 25 países pesquisados, o índice de preocupação com a economia global aumentou desde 2017. A Alemanha teve um dos crescimentos mais expressivos, com alta de 38 pontos percentuais.
Grécia e Austrália foram os únicos países em que a economia apareceu como o principal risco, segundo o Pew.
O centro também identificou diferenças relevantes entre países de alta e média renda. A mediana da preocupação foi de 75% nos países de renda média, contra 65% nas economias avançadas.
Terrorismo: países de renda média têm mais medo
O terrorismo foi citado como grande ameaça por uma mediana de 69% dos entrevistados. O Pew Research Center aponta que essa preocupação permanece significativa, especialmente em países que enfrentam instabilidade política ou episódios recentes de violência extremista.
Quatro países se destacaram com os maiores índices: Índia, Israel, Nigéria e Turquia. Em Israel, a percepção de ameaça é especialmente alta: 96% dos judeus israelenses veem o terrorismo como um grande risco, contra 61% dos árabes israelenses.
Segundo o Pew, a preocupação com terrorismo é geralmente mais forte em países de renda média (mediana de 79%) do que em países de alta renda (mediana de 60%).
O instituto também observa que a ameaça é percebida com mais intensidade por adultos mais velhos, pessoas com menor escolaridade e por aqueles que se identificam com a direita política.
Mudanças climáticas: França é o país mais preocupado
As mudanças climáticas foram apontadas como uma grande ameaça por 67% dos entrevistados, conforme o Pew Research Center.
Embora não tenha liderado o ranking em nenhum país, o centro destaca que a preocupação com o clima aumentou em relação a pesquisas anteriores, especialmente desde 2013.
Ainda assim, é surpreendente que não seja a preocupação número um nenhum dos 25 países. E isso pode estar associado ao problema número um: a desinformação online.
O negacionismo nas redes sociais e também propagado por veículos de imprensa tradicionais, avessos a medidas como redução do uso de combustíveis fósseis, pode estar influenciando a percepção sobre o tamanho da crise ambiental mesmo diante de eventos climáticos severos.
O fato objetivo é que apesar da frequência crescente desses eventos, o clima continua sendo visto como uma ameaça secundária quando comparado à desinformação, ao terrorismo e à economia.
Entre os países com maior crescimento na percepção de risco climático estão França (+24 pontos), Turquia (+23), México (+22), Reino Unido (+18), Quênia (+15) e Nigéria (+13).
Os dados também mostram que a preocupação é mais forte entre pessoas que se identificam com a esquerda.
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Doenças infecciosas: o maior medo dos brasileiros
Por fim, a propagação de doenças infecciosas foi considerada uma grande ameaça por uma mediana de 60% dos entrevistados. O Pew Research Center destaca que, embora o índice tenha caído desde o pico da pandemia de Covid-19, ele continua elevado em diversos países.
Em três deles — Brasil, Argentina e África do Sul — as doenças infecciosas foram apontadas como a principal ameaça, superando a desinformação. Na Turquia e no México, aparece empatada com outros riscos.
Nos casos do Brasil e da Argentina, o Pew sugere que o impacto duradouro da pandemia e a fragilidade dos sistemas de saúde influenciam diretamente essa percepção.
A preocupação com doenças é particularmente alta em países de renda média, com mediana de 85%, enquanto em países de alta renda caiu para 53%.
O instituto observa ainda que, desde 2020, o temor relacionado a doenças infecciosas diminuiu de forma constante nas economias avançadas.
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