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Irlanda e Holanda anunciam boicote ao Eurovision em protesto contra participação de Israel

Troféu do festival de música Eurovision 2026

O festival de música Eurovision, tradicionalmente celebrado como um símbolo de união cultural entre países europeus e nações convidadas e realizado pelas emissoras públicas locais, enfrenta uma crescente onda de boicotes à sua edição 2026 em meio à tensão política provocada pela participação de Israel.

A emissora irlandesa RTÉ foi a primeira a anunciar oficialmente que não participará do concurso caso Israel esteja incluído. Em comunicado no dia 11 de setembro, a rede, classificou como “inconcebível” a presença de Israel diante da “contínua e horrível perda de vidas em Gaza” e expressou preocupação com o assassinato de jornalistas e a proibição de acesso à imprensa na região.

No dia seguinte,  a Holanda se juntou ao boicote. A emissora AVROTROS declarou que “não pode continuar a justificar a participação de Israel na situação atual, dado o sofrimento humano contínuo e grave em Gaza”.

A nota também denunciou “provas comprovadas de interferência do governo israelense” durante o concurso de 2025, alegando que Israel utilizou o evento “como um instrumento político” — o que, segundo a emissora, contraria os valores fundamentais da radiodifusão pública, como paz, igualdade e liberdade de imprensa.

A final da edição 2026 será realizada na Suécia, que venceu o Eurovision em 2025, em meio a protestos contra a guerra em Gaza.

Hollywood também sinaliza boicote a Israel

A pressão contra instituições culturais israelenses não se limita à Europa. Em Hollywood, mais de 4.000 profissionais da indústria cinematográfica — incluindo atores, diretores e roteiristas — assinaram uma carta aberta pedindo boicote a instituições israelenses ligadas ao cinema, como festivais e produtoras.

Entre os signatários estão estrelas como Emma Stone, Mark Ruffalo, Tilda Swinton, Riz Ahmed e Susan Sarandon — pediu o boicote a instituições culturais israelenses ligadas ao cinema.

O documento, promovido pelo grupo Film Workers for Palestine, acusa essas entidades de “branquear o genocídio e o apartheid contra o povo palestino”.

No Eurovision, artistas representam seus países

Criado em 1956, o Festival Eurovisão da Canção é uma competição musical anual organizada pela União Europeia de Radiodifusão (UER).

Cada país participante é representado por uma emissora pública — como a BBC (Reino Unido), RTVE (Espanha) ou RTÉ (Irlanda) — que seleciona um artista ou grupo musical por meio de concursos nacionais ou escolha interna.

Os artistas competem em nome de seus países, desfilando com as bandeiras, e o vencedor é escolhido por uma combinação de votos do público e de jurados especializados.

Israel participa do Eurovision desde 1973, graças à sua filiação à UER, e já venceu o concurso quatro vezes.

Apesar de o país não estar localizado na Europa, sua participação é permitida por estar dentro da chamada “Área Europeia de Radiodifusão”.

Foto: Yuval Raphael, representante de Israel no Eurovision 2025 (foto: divulgação Eurovision)

Na final de 2025, realizada em maio, o país foi obrigado a alterar a letra da canção originalmente inscrita e interpretada por Yuval Raphael— intitulada October Rain — por conter referências ao ataque do Hamas e às vítimas do conflito, o que foi considerado excessivamente político pela organização.

Mas não houve boicote, apesar de algumas ameaças.

Espanha, Islândia e Eslovênia sinalizam possibilidade de boicote

Para a edição de 2026, a história pode ser diferente, com possibilidade de ausências de outros países além da Irlanda e da Holanda.

Na Espanha, o Ministro da Cultura, Ernest Urtasun, afirmou que “não podemos normalizar a participação de Israel em eventos internacionais como se nada estivesse acontecendo.

Em entrevista à TVE, declarou que “não se trata de um artista individual, mas de alguém que participa em nome dos cidadãos desse país”, e acusou o governo israelita de práticas genocidas. A emissora RTVE confirmou que está avaliando todos os cenários possíveis, incluindo a retirada do concurso.

A Islândia, por meio da emissora pública RÚV, também indicou que sua participação está “em risco” caso Israel seja mantido no alinhamento.

A Eslovênia, representada pela RTVSLO, já havia sinalizado em julho, durante a Assembleia-Geral da União Europeia de Radiodifusão, que boicotaria o evento se Israel fosse autorizado a competir.

Um festival sob pressão

Com os anúncios de boicote se acumulando em menos de uma semana, o Eurovision 2026 corre o risco de se tornar um dos mais politicamente conturbados da história recente do concurso. A tensão crescente reacende debates sobre o papel da cultura em tempos de conflito e sobre os limites da neutralidade em eventos internacionais.

A União Europeia de Radiodifusão declarou estar em diálogo com seus membros para avaliar os próximos passos, mas ainda não tomou uma decisão definitiva sobre a presença de Israel.

Em situações anteriores, a UER já tomou medidas semelhantes: em 2022, a Rússia foi oficialmente excluída do Eurovision após a invasão da Ucrânia, sob forte pressão de países participantes e da opinião pública.

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