Em resumo
- Em discurso na abertura dos debates gerais da Assembleia da ONU, realizada a menos de dois meses para a COP30, Lula conclamou líderes a assumirem suas responsabilidades.
- António Guterres, secretário-geral da ONU, destacou que os países precisam escolher o caminho da justiça climática.
A 80ª Assembleia Geral da ONU, realizada em Nova York a poucas semanas para a COP30 em Belém, foi utilizada pelo presidente Lula e pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para reforçar compromissos ambientais e a importância de acordos que podem ser selados durante a conferência em Belém,
O discurso do presidente Lulz Inácio Lula da Silva na abertura do debate geral da 80ª Assembleia Geral da ONU em Nova York, foi feito a menos de dois meses para o início da COP30, conferência que se aproxima rodeada de incertezas sobre a infraestrutura de Belém como cidade-sede e sobre a situação geopolítica que pode dificultar acordos efetivos para a crise do clima.
Lula falou na ONU sobre as mudanças climáticas, reforçou a importância da justiça social, destacou as ações ambientais do Brasil e abordou a cúpula da ONU na Amazônia, conclamando líderes mundiais “a provarem a seriedade de seus compromisso com o planeta”.
Pouco antes, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, também abordou a COP30 e os desafios ambientais que estão na pauta do encontro, que tem como objetivo firmar acordos multilaterais destinados a reduzir impactos ambientais e liberar recursos para mitigar os efeitos do aquecimento global.
Embora o discurso do presidente brasileiro tenha sido enfático, as organizações não-governamentais Observatório do Clima e 350.org avaliaram o discurso de forma ambígua.
As duas organizações reconheceram pontos positivos, como a defesa da justiça climática, a cobrança de metas globais e a retomada da proposta de criação de um Conselho de Mudança Climática na ONU, sinalizando disposição em enfrentar impasses históricos das negociações.
Mas também apontaram fragilidades. O Observatório ressaltou que Lula dedicou pouco tempo ao tema e deixou de fora os combustíveis fósseis, frustrando a expectativa de liderança climática às vésperas da COP30.
Já a 350.org chamou atenção para a contradição entre a retórica internacional e a defesa recente do petróleo na Amazônia, que ameaça a credibilidade do Brasil como anfitrião do encontro.
A organização não-governamental Instituto Climainfo fez um resumo do que eles falaram no palco global da ONU. Confira.
A fala de Lula na ONU em 2025
Sobre a COP30
“O ano de 2024 foi o mais quente já registrado. A COP30 será a COP da verdade. Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta.
Sem ter o quadro completo das Contribuições Nacionalmente Determinadas (as chamadas NDCs), caminharemos de olhos vendados rumo a um verdadeiro abismo.”
Sobre a Amazônia
“Em Belém, o mundo vai conhecer a realidade da Amazônia. O Brasil já reduziu pela metade o desmatamento na região nos últimos dois anos.
Para os milhões de habitantes da floresta, fomentar o desenvolvimento sustentável é o objetivo do fundo Florestas Tropicais para Sempre, que o Brasil pretende lançar para remunerar a conservação.”
Sobre Financiamento e justiça climática
“O Brasil assumiu o compromisso de reduzir entre 59% e 77% todas as suas emissões de gases de efeito estufa, em todos os setores da economia. Como país em desenvolvimento, enfrentamos a mudança do clima ao mesmo tempo em que combatemos outros desafios, como a pobreza e a desigualdade.
Aqueles que enriqueceram com padrões de vida obtidos ao longo de 200 anos de industrialização precisam assumir maior responsabilidade e oferecer mais recursos e tecnologias. Não se trata de caridade. Trata-se de justiça.
E a corrida por minerais críticos, essenciais à transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos. “
Sobre multilateralismo e Clima
“Chegou o momento de passar da fase de negociação para a etapa da implementação. O mundo deve muito ao regime criado pela Convenção do Clima, mas é necessário trazer o combate à mudança do clima para o coração da ONU, para que receba a atenção que merece.
Defendemos um conselho vinculado à Assembleia Geral, com legitimidade e força para monitorar compromissos climáticos — um passo fundamental rumo a uma reforma mais abrangente da organização, que contemple também a ampliação do Conselho de Segurança.”
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O que disse António Guterres, Secretário-Geral da ONU
Sobre as expectativas para a COP30
“Todos os países precisam intensificar e fazer mais à medida que nos aproximamos da conferência do clima da ONU no Brasil.
Acelerando a ação em energia, florestas, metano e descarbonização da indústria. Definindo um roteiro confiável para mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático até 2035 para os países em desenvolvimento.
Apoiar transições justas, dobrar o financiamento para adaptação para pelo menos US$ 40 bilhões ainda este ano e implementar rapidamente ferramentas já comprovadas para desbloquear bilhões a mais em financiamento concessional, além de capitalizar o fundo de perdas e danos com contribuições significativas.”
Sobre justiça climática
“Devemos escolher a justiça climática. A crise climática está se acelerando, mas também as soluções. O futuro da energia limpa já não é uma promessa distante, ele já está aqui.
Nenhum governo, indústria ou interesse especial pode detê-lo. Mas alguns estão tentando, prejudicando economias, mantendo preços altos e desperdiçando uma oportunidade histórica.”
Sobre a transição para energia limpa
“Os combustíveis fósseis são uma aposta perdida. No ano passado, quase toda a nova capacidade de geração de energia veio de renováveis, e o investimento está disparando. As renováveis são a fonte mais barata e rápida de nova energia.
Elas criam empregos, impulsionam o crescimento, protegem as economias da volatilidade dos mercados de petróleo e gás e podem nos libertar da tirania dos combustíveis fósseis. Mas não no ritmo atual. O investimento em energia limpa continua desigual — redes e sistemas de armazenamento do século XXI não estão sendo implementados com rapidez suficiente.
Subsídios públicos, pagos com dinheiro do contribuinte, ainda fluem para os combustíveis fósseis numa proporção de 9 para 1 em relação à energia limpa. Enquanto isso, as emissões, as temperaturas e os desastres continuam aumentando, e os menos responsáveis sofrem mais.”
Sobre planos climáticos nacionais
“A ciência diz que ainda é possível limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C, mas a janela está se fechando. A Corte Internacional de Justiça já afirmou a obrigação legal dos Estados.
Precisamos aumentar a ação e a ambição, especialmente por meio do fortalecimento dos planos climáticos nacionais. Amanhã receberei líderes para anunciar novas metas. O G20 — os maiores emissores — deve liderar, guiado pelo princípio das Responsabilidades Comuns, porém Diferenciadas.”
Sobre a reforma financeira
“Tudo isso exige que governos, instituições financeiras internacionais, filantropias, sociedade civil e setor privado trabalhem juntos. Para oferecer espaço fiscal aos países em desenvolvimento e liberar novas fontes inovadoras de financiamento em grande escala, incluindo impostos de solidariedade em setores de altas emissões e trocas de dívida.
Temos as soluções e as ferramentas, mas precisamos escolher a justiça climática e a ação climática.”
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