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Disney retoma exibição do talk show de Jimmy Kimmel após pressão de Hollywood – mas não em toda a ABC

Jimmy Kimmel em seu programa noturno, cancelado após comentários sobre Charlie Kirk

Jimmy Kimmel em seu show noturno (foto: Instagram)

A volta do talk show de Jimmy Kimmel, suspenso da rede ABC / Disney na semana passada devido a opiniões sobre o assassinato de Charlie Kirk, acontece com restrições, com parte das afiliadas locais deixando de levar o programa ao ar sob suspeitas de preocupação com ameaças de órgão regulador.

Uma carta aberta assinada por mais de 400 estrelas e profissionais de Hollywood, incluindo nomes como Ben Affleck, Jennifer Aniston, Robert De Niro, Tom Hanks, Ben Stiller e Meryl Streep, pode ter sido a gota d’água para a Disney revogar a suspensão do talk show Jimmy Kimmel Live!, que volta nesta terça-feira (23) à programação da rede ABC.

“Passamos os últimos dias tendo conversas ponderadas com Jimmy, e chegamos à decisão de retornar ao programa”, disse a corporação em um comunicado nesta segunda-feira.

A decisão encerra uma suspensão controversa, motivada por comentários do apresentador sobre o assassinato do ativista Charlie Kirk e a reação de Donald Trump e dos conservadores –  mas as tensões continuam.

Talk show de Kimmel não volta em toda a rede

Os grupos Sinclair Broadcast e Nexstar Media, que controlam dezenas de emissoras locais afiliadas à ABC nos EUA, decidiram desafiar a Disney e disseram que não vão exibir o talk show de Kimmel, preenchendo o horário com jornalismo local.

A justificativa pública é que os comentários do apresentador foram “inaceitáveis” e “divisivos”.

Mas o motivo pode não ser só ideológico. Os dois grupos dependem da FCC (Comissão Federal de Comunicações) para concretizar negócios em curso que envolvem expansão de operações digitais, aquisição de novas licenças de transmissão, fusões e aquisições.

Brendan Carr, presidente da FCC e aliado próximo de Trump, classificou os comentários como “a conduta mais doentia possível” e sugeriu que a agência poderia agir contra a ABC e sua controladora, a Disney,  “complicando” aprovações regulatórias.

Outras afiliadas menores, especialmente em estados conservadores, também anunciaram que vão substituir o programa por conteúdo local ou reprises.

Por que a Disney suspendeu o talk show

Na edição do dia 15 de setembro do Jimmy Kimmel Live!, um dos mais populares talk shows políticos do país, Kimmel criticou a reação da direita ao assassinato do ativista conservador ligado  ao movimento MAGA (Make America Great Again), liderado pelo presidente Trump, que a seu ver tentou capitalizar a morte politicamente.

Ele criticou ainda a forma como Trump lamentou a morte de Kirk, sugerindo que não foi a reação de uma adulto perdendo um amigo.

Supostamente por pressão dos grupos de emissoras afiliadas, a Disney anunciou dois dias depois a suspensão do programa por tempo indeterminado, o que foi comemorado por Donald Trump em uma postagem na rede Truth Social.

“Parabéns à ABC por ter finalmente a coragem de fazer o que tinha de ser feito.”

Reações de estrelas de Hollywood e de colegas de Kimmel

As reações negativas foram imediatas. No dia seguinte, os principais apresentadores de talk-shows, incluindo Stephen Colbert, cujo programa foi cancelado e sairá do ar para sempre em fevereiro, abordaram a censura a Kimmel com ironia e indignação.

A onda de inconformismo foi crescendo, até entre expoentes do partido Conservador, como o senador Ted Cruz. Ele disse que a ameaça de Carr contra a rede ABC era ‘perigosa’ e sugeriu ser um ato semelhante ao de um grupo mafioso.

Mas o fator decisivo para a Disney parece ter sido a carta das estrelas de Hollywood.

A carta, organizada pela União Americana de Liberdades Civis, afirma que a suspensão do programa de Kimmel na ABC marca “um momento sombrio para a liberdade de expressão em nossa nação”.

O texto acusa a empresa de “ceder à intimidação política” e alerta para o risco de censura corporativa.

“Em uma tentativa de silenciar seus críticos, nosso governo decidiu ameaçar os meios de subsistência de jornalistas, apresentadores de talk shows, artistas, criativos e artistas.

Isso vai contra os valores sobre os quais nossa nação foi construída e nossas garantias da Constituição.”

Sindicatos como SAG-AFTRA e WGA também se posicionaram, exigindo a volta imediata do programa.

Donald Trump não respondeu a perguntas de jornalistas sobre o retorno de Kimmel, nem comentou a decisão da Disney em sua rede social, onde costuma se manifestar sobre questões públicas.

Kimmel volta sem pedir desculpas?

A volta de Jimmy Kimmel está cercada de expectativas. Ele não falou diretamente sobre o caso.

Mas segundo fontes próximas ao apresentador, citadas pela mídia americana, Kimmel se recusou a pedir desculpas e pretende abordar o episódio em seu monólogo de abertura.

A Disney teria tentado negociar termos mais neutros para o retorno, mas acabou cedendo diante da pressão pública e do risco de boicote por parte da comunidade artística.

Antes de Kimmel, talk show de Colbert também foi cancelado

Kimmel é o segundo apresentador de talk-show “cancelado” nos EUA nos últimos dois meses.

Em julho, o The Late Show with Stephen Colbert, na CBS também saiu do ar, só que para sempre, após críticas do apresentador ao acordo firmado pela Paramount Global, empresa-mãe da CBS, com Donald Trump para encerrar uma ação judicial bilionária.

A rede pagou US$ 16 milhões ao presidente e dessa forma colocou fim ao processo acusando a CBS de ter editado uma entrevista com Kamala Harris para favorecer a então candidata democrata.

Colbert, conhecido por suas críticas mordazes a Trump, chamou o acordo de “suborno”. Três dias depois, a CBS anunciou o fim do programa, alegando “reestruturação financeira”.

A temperatura subiu ainda mais após o assassinato de Charlie Kirk, que desencadeou uma “caça às bruxas” para silenciar ou punir opiniões sobre caso que desafiem a narrativa de Donald Trump e do movimento MAGA, colocando-o como vítima de uma suposta violência da esquerda.

Acadêmicos compararam este momento ao do macarthismo, uma era sombria da história de liberdade de expressão dos EUA. Na década de 50, sob a liderança do senador Joseph McCarthy, celebridades e artistas foram perseguidos por serem apontados como simpatizantes do comunismo e adversários do governo.

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