A organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras apresentou sua quinta queixa contra Israel ao Tribunal Penal Internacional (TPI), com evidências de crimes de guerra que teriam sido praticados pelas forças militares de Israel contra jornalistas palestinos na Faixa de Gaza.
A nova denúncia reúne casos de 25 jornalistas mortos e cinco feridos entre maio de 2024 e agosto de 2025. Segundo a RSF, na grande maioria dos casos, os jornalistas foram alvo por causa de seu trabalho jornalístico ou atingidos durante o trabalho.
A primeira queixa contra Israel foi apresentada à Corte de Haia em de outubro de 2023. As seguintes foram em dezembro de 2023, maio e setembro de 2024.
Em janeiro de 2024, a RSF também obteve a inclusão de crimes militares israelenses contra jornalistas na investigação sobre a Palestina liderada pelo promotor do TPI.
Mas nenhuma das investigações teve desdobramento e a situação só vem piorando, segundo Antoine Bernard, diretor de Assistência da RSF:
“Acusações difamatórias das autoridades israelenses contra jornalistas palestinos são agora usadas rotineiramente para legitimar ataques direcionados. […]
Apelamos ao TPI, em particular, a se manter firme apesar das ameaças, pressões e sanções, e a cumprir seu dever, nada além de seu dever, e todo o seu dever. Crimes contra jornalistas devem ser punidos.”
Parentes de jornalistas palestinos também viram vítimas de ataques em Gaza
A Repórteres Sem Fronteiras salienta que alguns dos ataques incluídos na nova denúncia ao Tribunal Penal Internacional visaram as casas dos jornalistas, adicionando seus familiares à lista de vítimas.
O filho de 18 meses e o marido de Ola al-Dahdouh – uma jornalista de 28 anos morta por um ataque israelense em 31 de maio de 2024 – foram feridos e seu tio foi morto.
Vários membros da família de Mohammed Issa Abu Saada – um jornalista de 31 anos alvo por um míssil israelense e morto instantaneamente em 6 de agosto de 2024 – e Fatima Hassouna – uma jornalista de 25 anos morta por um ataque em sua casa em 16 de abril de 2025 – também perderam suas vidas, incluindo a irmã dela, grávida.
A esposa e os três filhos de Mohammed Jaber al-Qarinawi, um jornalista de 30 anos, igualmente perderam a vida em ataques de Israel.
O irmão de Hassan Hamad – um jornalista de 19 anos morto por um ataque em sua casa em 6 de outubro de 2024 – ficou ferido no bombardeio.
Mísseis também têm sido disparados contra locais frequentados por jornalistas, como restaurantes e cafés que oferecem acesso raro à Internet no enclave sitiado, tendas que abrigam profissionais de imprensa e, mais recentemente, o Hospital Al-Nasser, diz a organização.
Os jornalistas Yahya Sobeih, Moamen Abu Alouf e o cinegrafista Ahmad al-Louh foram mortos em um “bombardeio duplo”, nos quais uma primeira bomba é seguida logo por uma segunda com o objetivo aparente de atingir não apenas os trabalhadores de resgate, mas também os jornalistas que foram cobrir a perda de vidas causada pelo primeiro ataque.
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Alegações de terrorismo usadas para justificar jornalistas como alvos
As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) acusaram os jornalistas Anas al-Sharif, Moamen Abu Alouf e Hossam Shabat de terrorismo sem produzir nenhuma evidência confiável, na avaliação da RSF.
A organização sustenta que a IDF empreende uma campanha de difamação contra profissionais de imprensa palestinos, referindo-se a um comunicado conjunto de quatro relatores especiais das Nações Unidas, emitido em agosto.
O documento afirma que essas acusações constituem “uma tática bem conhecida e vergonhosa das IDF para silenciar a verdade sobre crimes hediondos cometidos em Gaza”.
De acordo com a contagem da RSF, pelo menos 210 jornalistas foram mortos desde que Israel lançou sua ofensiva contra Gaza.
A organização diz ter evidências sólidas para acreditar que os militares israelenses visaram 56 deles por causa de seu trabalho ou no curso de seu trabalho jornalístico.
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