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Ação de Depardieu contra TV pública por vídeo com comentários sexuais sobre menina é julgada hoje em Paris

Gérard Depardieu em cena do documentário que motivou processo contra a pública TV francesa

Gérard Depardieu em cena do documentário que motivou processo contra a pública TV (reprodução)

Ao mesmo tempo em que responde a processos por agressões sexuais e já enfrentou condenação, o ator francês Gerard Depardieu acionou judicialmente a rede pública de TV francesa contestando uma sequência filmada na Coreia do Norte.

O ator Gérard Depardieu, condenado em maio por agressões sexuais, está de volta ao tribunal nesta quinta-feira (2), mas desta vez como autor de um processo judicial.

O ator francês moveu uma ação contra a emissora pública da França, a France Télévisions, incluindo os jornalistas do programa investigativo Complément d’enquête, e a produtora Hikari, alegando que foi vítima de uma montagem ilícita e enganosa, além de “denúncia caluniosa e reunião ilícita”.

O julgamento ocorre em sessão única, mas o veredito pode ser anunciado posteriormente, como é comum em casos de grande repercussão.

Por que Gérard Depardieu está processando a TV francesa

O caso gira em torno de uma sequência exibida no programa em 2023, com menos de um minuto de duração, filmada em 2018 na Coreia do Norte.

A viagem ocorreu durante as comemorações do 70º aniversário do regime comunista. Depardieu foi ao país acompanhado pelo escritor e cineasta francês Yann Moix, com o objetivo de realizar um documentário, que acabou nunca sendo finalizado ou lançado.

As imagens captadas durante essa viagem foram posteriormente utilizadas no episódio “La chute de l’ogre” (“A queda do ogro”) do programa Complément d’enquête, exibido pela France Télévisions em dezembro de 2023.

Nela, Depardieu aparece fazendo comentários de teor sexual enquanto uma menina passa a cavalo.

 

Segundo o site de notícias francês Midi Libre, em reportagem na época em que o programa foi ao ar, a produção cortou cenas com comentários bem mais pesados do que os que acabaram sendo exibidos.

O que dizem os advogados do ator

Os advogados do ator afirmam que os comentários faziam parte de uma obra de ficção e se referiam a uma mulher adulta fora do enquadramento, não à criança que aparece na imagem.

Os advogados sustentam que a edição do documentário induz o público a acreditar que Depardieu estaria fazendo observações inapropriadas sobre uma menor, o que, segundo eles, configura manipulação de conteúdo com grave prejuízo à imagem do artista.

A France Télévisions e a Hikari negam qualquer irregularidade na produção e afirma que a sequência foi autenticada por um oficial de justiça, que teve acesso ao conjunto completo de imagens e não apenas ao trecho exibido.

A emissora defende a integridade jornalística do programa e sustenta que a reportagem se baseou em documentos e imagens legítimas, sem qualquer alteração que distorcesse os fatos.

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) se manifestou publicamente contra o processo, alegando que ele representa uma ameaça à liberdade de imprensa e pode criar um precedente perigoso ao criminalizar práticas jornalísticas legítimas como o uso de montagens.

Depardieu se defende no tribunal

Segundo a imprensa francesa que acompanha o caso, o escritor Yann Moix prestou apoio à defesa e reafirmou que os comentários foram feitos em tom ficcional, sem qualquer referência à criança.

A advogada da France Télévisions, Juliette Félix, declarou à AFP que a emissora “contesta todo trucagem e montagem ilícita” e que apresentará suas observações diretamente ao tribunal.

O tribunal está ouvindo testemunhas e analisando os registros originais da sequência. A acusação solicitou uma perícia independente dos vídeos, que deve ser considerada durante o julgamento.

Ator francês no banco dos réus em outros casos

Este processo acontece em meio a outras acusações que envolvem Gerard Depardieu, um mito do cinema francês que nos últimos anos teve sua reputação devastada por denúncias.

O ator será julgado por estupro em um processo movido pela atriz Charlotte Arnould, e já foi condenado a 18 meses de prisão com pena suspensa por agressões sexuais contra duas outras mulheres.

Embora o processo atual não trate diretamente de crimes sexuais, ele está inserido em um contexto de crescente escrutínio público e judicial sobre a conduta do artista, cuja carreira tem sido marcada por polêmicas nos últimos anos.

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