Em resumo
- Guerra em Gaza completa 2 anos com 210 jornalistas mortos, a maioria palestinos
- Organizações de liberdade de imprensa denunciam ataques deliberados pelo exército de Israel
- Conflito é apontado como o mais letal para jornalistas na era moderna
Completando 2 anos no dia 7 de outubro, quando o grupo Hamas realizou um ataque massivo a Israel, o conflito que devastou a região de Gaza deixou pelo menos 240 jornalistas mortos, em coberturas ou atingidos em suas casas.
A guerra em Gaza, iniciada após o ataque massivo do grupo Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, completa dois anos como “o conflito mais letal para jornalistas nos tempos modernos”, segundo a organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Desde o início da guerra, mais de 210 jornalistas foram mortos, a maioria palestinos, enquanto cobriam os bombardeios, incursões e ataques aéreos no enclave, de acordo com a RSF.
Diante da escalada de violência, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) reforçou sua campanha global “Journalist is Not a Target”, que denuncia ataques deliberados contra profissionais da imprensa e reafirma que jornalistas são civis e que matá-los constitui crime de guerra.
Pelo menos 40 jornalistas mortos em Gaza este ano
O Comitê afirma que mais jornalistas foram mortos em 2024 do que em qualquer outro ano desde que começou a coletar dados, com quase dois terços das vítimas sendo palestinos mortos por Israel.
Das 55 mortes de profissionais de imprensa confirmadas pelo CPJ em 2025, 40 ocorreram na região que compreende Israel e os territórios ocupados.
A ONG também denuncia que 90 jornalistas foram presos por Israel, sendo que 35 continuam detidos, muitos sob detenção administrativa, sem acusação formal
Ataques deliberados à imprensa
A RSF também intensificou sua atuação jurídica: desde o início da guerra, a organização já apresentou cinco queixas formais ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, denunciando crimes de guerra contra jornalistas.
Os documentos apontam evidências de ataques deliberados por parte das forças israelenses, com alvos claramente identificados como imprensa, em violação às convenções internacionais que protegem profissionais de mídia em zonas de conflito.
Pelo menos 56 deles foram intencionalmente alvos do exército israelense ou mortos enquanto exerciam sua profissão, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras.
Alguns desses ataques foram confirmados por Israel, justificando-os sob o argumento de que os jornalistas seriam na verdade membros do grupo Hamas, o que grupos de liberdade de imprensa negam.
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Luto contra mortes de jornalistas
Antecipando-se à data simbólica, mais de 200 veículos de imprensa de 50 países participaram, em 1º de setembro, de um protesto editorial global coordenado pela RSF, Avaaz e a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).
Jornais publicaram capas pretas, emissoras interromperam a programação com mensagens conjuntas, e portais digitais apagaram suas homepages em solidariedade aos profissionais mortos.
“No ritmo em que jornalistas estão sendo mortos em Gaza pelo exército israelense, em breve não haverá ninguém para manter vocês informados”, alertou Thibaut Bruttin, diretor da RSF, durante o protesto.
Apagão informativo’ na zona de conflito
A situação é mais complexa por um inédito bloqueio do acesso de jornalistas internacionais a Gaza por parte de Israel.
A cobertura tem sido feita exclusivamente por profissionais locais, muitas vezes trabalhando sem proteção adequada e sofrendo os efeitos da crise humanitária que dificulta acesso a alimentos.
Vários apelos conjuntos para permitir a entrada de correspondentes e equipes internacionais a Gaza, assinados por jornalistas, veículos e entidades, foram ignorados.
Em casos específicos, alguns foram autorizados a fazer imagens como parte de comboios do exército de Israel, sem liberdade para reportar livremente.
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Em agosto, jornalistas morreram em dois ataques a hospitais em Gaza
Os episódios mais graves contra jornalistas ocorreram em agosto, em dois dias distintos, ambos em hospitais.
No primeiro, um ataque israelense atingiu uma tenda de imprensa na entrada do hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, matando seis jornalistas palestinos.
Entre eles estava Anas al-Sharif, correspondente da emissora, descrito pela RSF como “a voz do sofrimento imposto por Israel aos palestinos de Gaza”.
Poucos dias depois, em 2 um novo ataque atingiu diretamente o interior do hospital Nasser, durante o resgate de feridos de um bombardeio anterior, em uma operação do exército israelense que deixou mais de 20 mortos.
Cinco Jornalistas de agências internacionais que acompanhavam o trabalho das equipes médicas foram mortos no local, incluindo profissionais da Reuters, NBC, Associated Press (AP) e Al Jazeera.
A ONU classificou o episódio como uma “violação grave ao direito internacional humanitário” e reiterou o pedido por proteção aos profissionais da imprensa em zonas de conflito.
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Imprensa na flotilha interceptada por Israel
Como parte dos esforços para romper o bloqueio informativo, uma flotilha internacional com ativistas e jornalistas tentou alcançar Gaza por mar no final de setembro.
Vinte jornalistas estavam a bordo, representando veículos da Europa, América Latina e Oriente Médio.
A embarcação foi interceptada pela marinha israelense em águas internacionais, e todos os profissionais foram capturados e levados para interrogatório em Ashdod.
Organizações de imprensa e direitos humanos condenaram a ação como mais uma tentativa de impedir a cobertura independente da guerra.
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