Em resumo
- Entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza está proibida por Israel desde o início da guerra
- Associação de correspondentes internacionais em Israel emitiu nota exigindo permissão para equipes e profissionais após o acordo de cessar-fogo
Em sua nota oficial contra a proibição de entrada de jornalistas em Gaza, a Foreign Press Association of Israel critica também o Supremo Tribunal Federal pela demora em marcar audiência para ouvir os argumentos da entidade.
A Associação de Imprensa Estrangeira em Israel elevou o tom contra o governo de Benjamim Netanyahu e contra o Supremo Tribunal Federal, exigindo a entrada imediata de jornalistas na Faixa de Gaza.
Em uma nota divulgada nesta sexta-feira (10), quando o acordo de cessar-fogo foi confirmado, a Foreign Press Association in Israel (FPA, na sigla em inglês), afirmou:
“Não há razão para esperar tanto tempo. Chega de desculpas e táticas de atraso”.
Há uma sessão marcada no Supremo para o dia 23 de outubro, em que a Associação apresentará seus argumentos para justificar o pedido de acesso, mas o grupo não quer esperar até lá.
E afirmou na nota que o Judiciário está “há mais de um ano permitindo ao Estado atrasar a sua resposta”.
Entrada de jornalistas em Gaza proibida desde o início da guerra
A proibição de entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza, imposta por Israel, vem sendo alvo de protestos desde o início da guerra, com manifestos seguidos de órgãos de imprensa, organizações não-governamentais e correspondentes internacionais.
As notícias locais são fornecidas apenas por jornalistas palestinos, muitos deles sem condições ideais de trabalho, equipamentos de proteção individual e experiência em cobertura de conflitos armados.
As mortes de profissionais de imprensa na guerra já passam de 210, com o conflito em Gaza tendo se transformado no mais fatal da era moderna, segundo a Repórteres Sem Fronteiras.
Uma das justificativas de Israel para negar o acesso tem sido o perigo que os profissionais de imprensa podem enfrentar no local.
Mas as associações e veículos internacionais rejeitam esse argumento, afirmando que cabe a elas decidir sobre o envio de equipes e medidas de segurança.
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O que diz a Associação de Jornalistas de Israel
Na nota desta sexta-feira, a organização saúda o acordo de cessar-fogo, e renova ‘o appelo urgente a Israel para que abra imediatamente as fronteiras e permita o acesso livre e independente dos meios de comunicação internacionais à Faixa de Gaza”.
“Nos últimos dois anos, a FPA e os seus membros pediram, através de todos os canais, para serem autorizados a entrar em Gaza para informar sobre a realidade da guerra.
Estas exigências foram repetidamente ignoradas, enquanto os nossos colegas palestinos arriscaram as suas vidas para fornecer reportagens incansáveis e corajosas a partir de Gaza.”
Em outra nota, quando o processo exigindo a entrada de jornalistas em Gaza completou um ano, a Associação apontou as condições difíceis dos que ficaram no território tentando contar a história do conflito.
“Nossos colegas em Gaza, incluindo membros desta associação, tiveram as suas vidas destruídas. Jornalistas palestinos foram alvos diretos. Locais onde habitualmente se reuniam foram bombardeados.
Pelo menos 200 deles foram mortos por ataques de Israel, mais do que em qualquer outro conflito na história moderna”.
Campanha para desacreditar jornalistas palestinos
A Associação critica líderes israelenses e militares que ” fizeram de tudo para desacreditar o trabalho dos colegas [jornalistas] palestinos e, em grande medida, o trabalho da imprensa estrangeira como um todo”.
“Esta campanha de deslegitimação criou e amplificou condições de trabalho perigosas para os jornalistas, levando à normalização do incitamento, assédio e ataques à imprensa estrangeira tanto de civis israelenses quanto de membros das forças de segurança de Israel”.
A Associação repetiu o slogan que resume a defesa da liberdade de imprensa em campanhas de organizações não governamentais: “jornalismo não é crime”.
E alfinetou a comunidade internacional pela demora em permitir o acesso.
“Este atraso contínuo e institucionalizado no processo é um sinal de vergonha para Israel e os seus aliados, que muitas vezes optaram por não se manifestar em defesa das liberdades básicas de imprensa”.
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