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De Fox News a NYT: jornalistas credenciados deixam Pentágono após se recusarem a assinar política com novas regras

Jornalistas credenciados divulgaram fotos e vídeos do momento em que deixaram juntos a sede do Departamento de Defesa

Jornalistas credenciados divulgaram fotos e vídeos do momento em que deixaram juntos a sede do Departamento de Defesa ( screenshot @TaraCopp via Twitter)

Pelo menos 37 veículos de imprensa que cobrem o Pentágono se recusaram a assinar a nova política do Departamento de Guerra. Apenas um veículo concordou em assinar o documento.

Veículos de imprensa que cobrem o Pentágono, o Departamento de Guerra dos Estados Unido (antigo Departamento de Defesa), se recusaram a assinar a nova política de cobertura imposta pelo governo de Donald Trump e os jornalistas credenciados deixaram nesta quarta-feira (16) o prédio da instituição em bloco, dia em que o prazo de assinatura chegou ao fim.

Apenas um veículo, o One America News, assinou. Pelo menos outros 37 veículos de imprensa decidiram não formalizar fazer o mesmo.

A lista inclui até mesmo a Fox News, canal conhecido por apoiar o presidente e do qual o atual Secretário de Guerra, Pete Hegseth era comentarista.

O Pentágono havia informado que a não assinatura do documento implicaria na suspensão dos crachás de acesso dos repórteres.

Por volta de 16h, eles devolveram os crachás e iniciaram a saída em conjunto, levando caixas e bolsas com objetos pessoais que mantinham nas salas reservadas aos correspondentes.

Por que os jornalistas não assinaram o documento

Na segunda-feira (13), diversos veículos publicaram pronunciamentos afirmando que não assinariam o documento porque ele fere os direitos garantidos pela primeira emenda da Constituição, que trata de liberdade de expressão e de imprensa.

Na ocasião, Pete Hegseth compartilhou o post no X da revista The Atlantic, do The New York Times e do Washington Post com um emoji de uma mão dando tchau.

A Associação de Imprensa do Pentágono (Pentagon Press Association, no original em inglês) condenou as novas regras impostas pelo Pentágono assim que foram publicadas.

Por meio de nota, a entidade afirmou cobrir jornalisticamente assuntos da área de Defesa é um direito garantido pela primeira emenda da Constituição americana, e tentou negociar sobre as regras, sem sucesso.

De acordo com a organização, “as políticas parecem ter sido concebidas para sufocar a liberdade de imprensa”. Eles também afirmam que as normas têm o potencial de levar a processos judiciais contra os profissionais “por simplesmente fazerem seu trabalho”.

“A política transmite uma mensagem de intimidação sem precedentes a todos dentro do Departamento de Defesa, alertando contra quaisquer interações não aprovadas com a imprensa e até mesmo sugerindo que é criminoso falar sem permissão expressa – o que claramente não é.”

O porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, afirmou na segunda-feira (13) que a assinatura do documento não significa que os veículos concordam com a nova política, apenas que a entendem.

Ele também criticou a postura dos profissionais de imprensa, dizendo que se vitimizaram online.

O que mudou nas regras de cobertura

No fim de setembro, o Pentágono já havia anunciado mudanças nas regras de cobertura da instituição. Na ocasião, foi informado que o Departamento de Defesa precisaria aprovar a publicação de qualquer material jornalístico, contendo informações privilegiadas ou não.

Segundo as normas divulgadas em setembro, as credenciais de todos os jornalistas seriam substituídas por novas e o jornalista que não assinasse um documento concordando com as novas regras estaria sob o risco de perder acesso ao Pentágono.

Na semana passada, um novo documento com orientações foi divulgado.

Desta vez, o órgão voltou atrás sobre a necessidade de concordar com as regras, mas ainda exige que os profissionais assinem um documento dizendo que “entendem” as normas.

Além disso, o novo documento do governo informa que a área de imprensa dentro do Pentágono será transferida.

Os jornalistas da Associação de Imprensa do Pentágono afirmaram terem sido pegos de surpresa por essa alteração e argumentam que a mudança vai deixá-los isolados.

Antes, em maio, o governo Trump restringiu o trabalho e a circulação de jornalistas no Pentágono. Naquele momento, as regras incluiam a limitação de circulação em áreas comuns e impunham escoltas obrigatórias.

Justificativa e contra-argumentos

A justificativa usada pelo Departamento de Defesa para a mudança é a de proteção de informações secretas. Na visão do governo, o acesso de jornalistas poderia causar uma crise de segurança nacional.

A Associação de Imprensa do Pentágono rebate o argumento afirmando que os repórteres sempre usaram credenciais de identificação e nunca circularam por áreas restritas.

“A ideia de que repórteres estão rondando escritórios onde não são permitidos é simplesmente absurda”, diz comunicado divulgado pela organização na última semana.

“Todos os governos desde Eisenhower [nos anos 1950] – incluindo o primeiro governo Trump – permitiu o mesmo nível de acesso”, relembram os jornalistas. “Este acesso da imprensa nunca causou o tipo de crise de segurança nacional temida pela atual liderança do departamento”.

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