Em resumo
- RSF se juntou à FPA em processo na Suprema Corte de Israel que pede acesso de jornalistas a Gaza.
- Organizações alegam que Israel viola liberdade de imprensa e direito à informação, e processo será julgado no dia 23 de outubro
Desde o início da guerra em Gaza, Israel impede o acesso de jornalistas estrangeiros, motivando um processo que chega agora à Suprema Corte para exigir autorização, com o apoio da Repórteres Sem Fronteiras.
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) se juntou ao processo movido pela Associação de Imprensa Estrangeira (FPA) na Suprema Corte de Israel para que o país autorize a entrada de jornalistas na Faixa de Gaza.
A audiência está marcada para 23 de outubro.
Mesmo 10 dias após o início do acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, jornalistas ainda estão sendo impedidos de entrar em Gaza. Os profissionais especializados em cobertura de guerra, integrantes de equipes de veículos como BBC, CNN, AP, AFP e Reuters não têm autorização para entrar de forma independente na região desde outubro de 2023.
Para reforçar os vários apelos ignorados por Israel, a RSF entrou como amicus curiae na ação, trazendo novos fatos e argumentos legais para apoiar a FPA, entidade que representa cerca de 400 correspondentes internacionais em Israel e na Palestina.
O principal ponto das organização é que Israel está violando a liberdade de imprensa e o direito à informação.
O diretor de advocacy e assistência da RSF, Antoine Bernard, apontou que ao mesmo tempo em que tanto o impedimento de entrada de jornalistas, quanto a morte dos profissionais que já estavam no território resulta em uma violação sem precedentes da liberdade de imprensa
“A Suprema Corte tem a oportunidade de finalmente defender os princípios democráticos básicos diante da propaganda, desinformação e censura generalizadas, e de pôr fim a dois anos de destruição meticulosa e desenfreada do jornalismo em Gaza e nos arredores.”
Ataques continuaram após cessar-fogo
Mesmo com acordo de cessar-fogo em vigor, ataques israelenses a Gaza continuaram. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que lançou 153 toneladas de bombas na Faixa de Gaza no último domingo (19).
Os ataques foram motivados por uma suposta violação anterior do acordo feita pelo Hamas. Israel afirma que o grupo terrorista matou dois soldados das IDF.
Acusações de violações ao cessar-fogo foram feitas pelos dois lados, com outros bombardeios sendo registrados em Gaza após a vigência do acordo.
O jornalista palestino Saleh Aljafarawi foi uma das pessoas mortas em Gaza após o acordo de cessar-fogo. Fontes ouvidas pela Al Jazeera afirmam que ele foi alvo de membros de uma milícia israelense.
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Entrada de jornalistas em Gaza proibida desde o início da guerra
A proibição de entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza, imposta por Israel, vem sendo alvo de protestos desde o início da guerra, com manifestos seguidos de órgãos de imprensa, organizações não-governamentais e correspondentes internacionais.
As notícias locais são fornecidas apenas por jornalistas palestinos, muitos deles sem condições ideais de trabalho, equipamentos de proteção individual e experiência em cobertura de conflitos armados.
Neste período, apenas alguns poucos jornalistas puderam entrar na região, em sua maioria israelenses. Além disso, eles foram obrigados a trabalhar de forma integrada às Forças de Defesa Israelenses (IDF), sem liberdade para apurar as informações sobre o que está acontecendo no local.
As mortes de profissionais de imprensa na guerra já passam de 210, com o conflito em Gaza tendo se transformado no mais fatal da era moderna, segundo a Repórteres Sem Fronteiras.
Uma das justificativas de Israel para negar o acesso tem sido o perigo que os profissionais de imprensa podem enfrentar no local.
Mas as associações e veículos internacionais rejeitam esse argumento, afirmando que cabe a elas decidir sobre o envio de equipes e medidas de segurança.
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O que diz a Associação de Jornalistas de Israel
Em uma nota na última sexta-feira, a organização saudou o acordo de cessar-fogo, e renovou ‘o apelo urgente a Israel para que abra imediatamente as fronteiras e permita o acesso livre e independente dos meios de comunicação internacionais à Faixa de Gaza”.
“Nos últimos dois anos, a FPA e os seus membros pediram, através de todos os canais, para serem autorizados a entrar em Gaza para informar sobre a realidade da guerra.
Estas exigências foram repetidamente ignoradas, enquanto os nossos colegas palestinos arriscaram as suas vidas para fornecer reportagens incansáveis e corajosas a partir de Gaza.”
Em outra nota, quando o processo exigindo a entrada de jornalistas em Gaza completou um ano, a Associação apontou as condições difíceis dos que ficaram no território tentando contar a história do conflito.
“Nossos colegas em Gaza, incluindo membros desta associação, tiveram as suas vidas destruídas. Jornalistas palestinos foram alvos diretos. Locais onde habitualmente se reuniam foram bombardeados.
Pelo menos 200 deles foram mortos por ataques de Israel, mais do que em qualquer outro conflito na história moderna”.
Campanha para desacreditar jornalistas palestinos
A Associação critica líderes israelenses e militares que ” fizeram de tudo para desacreditar o trabalho dos colegas [jornalistas] palestinos e, em grande medida, o trabalho da imprensa estrangeira como um todo”.
“Esta campanha de deslegitimação criou e amplificou condições de trabalho perigosas para os jornalistas, levando à normalização do incitamento, assédio e ataques à imprensa estrangeira tanto de civis israelenses quanto de membros das forças de segurança de Israel”.
A Associação repetiu o slogan que resume a defesa da liberdade de imprensa em campanhas de organizações não governamentais: “jornalismo não é crime”.
E alfinetou a comunidade internacional pela demora em permitir o acesso.
“Este atraso contínuo e institucionalizado no processo é um sinal de vergonha para Israel e os seus aliados, que muitas vezes optaram por não se manifestar em defesa das liberdades básicas de imprensa”.

