Em resumo
- Channel 4 provoca controvérsia ao exibir um programa apresentado por uma âncora feita com inteligência artificial
- Emissora diz que aviso apenas no final foi uma forma de provocar o debate sobre o uso da IA
O programa Dispatch, da prestigiada rede britânica Channel 4, utilizou uma âncora feita com IA em uma reportagem sobre a ameaça da inteligência artificial no mundo do trabalho e foi criticado por não ter alertado os espectadores sobre o experimento.
O que parecia ser apenas mais um documentário sobre o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho terminou com uma reviravolta digna de ficção científica no canal britânico Channel 4, com uma inesperada âncora feita com IA.
O programa Dispatches, um dos mais populares da grade da emissora, surpreendeu os espectadores ao revelar, nos segundos finais do programa, que a apresentadora que conduziu toda a reportagem não era humana.
O especial, intitulado Will AI Take My Job? (“A IA vai tomar meu emprego?”), foi exibido em horário nobre na segunda-feira (20) e virou objeto de controvérsia.
Âncora feita com inteligência artificial falando do impacto da IA
Durante os 30 minutos de duração, a âncora — com aparência realista, voz natural e expressões convincentes — guiou os espectadores por uma investigação sobre como a automação está transformando profissões como medicina, direito, moda e música.
Mas a grande revelação veio apenas no encerramento, quando a apresentadora virtual, chamada Aisha Gaban, olhou para a câmera e disse:
“A IA vai impactar a vida de todos nos próximos anos. E para alguns, custará seus empregos. Trabalhadores de call centers? Profissionais de atendimento ao cliente?
Talvez até apresentadores de TV como eu. Porque não sou real. Sou uma âncora de IA, a primeira na TV britânica.”
Did you notice anything different?
This is Britain’s first-ever AI TV presenter in a documentary. Viewers were kept in the dark until the very end. It’s part of a stunt aiming to show just how convincing AI has become, and how quickly it’s improving. pic.twitter.com/APfH4ge3U6
— Channel 4 Dispatches (@C4Dispatches) October 20, 2025
A frase, dita com naturalidade, deixou muitos espectadores atônitos.
Ela completa dizendo que nunca esteve nos lugares em que aparece falando, e que sua imagem foi simplesmente inserida usando as ferramentas de inteligência artificial.
Segundo comunicado do canal, a âncora de IA foi produzida usando prompts para criar um ser humano digital realista, capaz de se apresentar com nuances diante da câmera.
“O resultado é quase indistinguível de uma pessoa real – até o final, quando a verdade é exposta aos telespectadores”, disse o texto, justificando que o objetivo foi testar a percepção do público e provocar debate sobre o uso de inteligência artificial na mídia.
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O que é o Channel 4?
O Channel 4 é uma emissora pública britânica conhecida por seu conteúdo inovador e provocativo. Fundado em 1982, o canal é financiado por publicidade, mas tem uma missão pública de promover diversidade, inovação e experimentação na televisão do Reino Unido.
Ao longo dos anos, ganhou reputação por desafiar convenções e abordar temas sociais com ousadia. E o experimento com a âncora de IA é mais uma dessas iniciativas, dividindo opiniões.
Reações e controvérsias
Enquanto alguns elogiaram a ousadia do canal e a qualidade técnica da apresentadora virtual, outros criticaram a falta de transparência.
Especialistas em ética midiática questionaram se esconder a identidade da IA até o fim do programa foi uma forma de manipulação.
Nas redes sociais, espectadores descreveram a apresentadora como “assustadora” e “sem alma”, enquanto outros se disseram impressionados com o realismo da tecnologia.
O Channel 4, por sua vez, defendeu a decisão como parte de sua missão de “ampliar os limites criativos e provocar reflexão”.
No comunicado à imprensa, a emissora disse ter diretrizes editoriais claras que regem o uso ético da inteligência artificial, e afirma que o programa cumpriu integralmente esses requisitos, incluindo um compromisso com a transparência e divulgação ao público quando a IA é usada.
Segundo a emissora, mais experimentos com IA estão previstos para os próximos meses – mas sem especificar se os espectadores serão informados antes ou somente depois.
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