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Rússia já condenou quase 70 jornalistas exilados e estrangeiros à revelia, com direito a prisões ‘simbólicas’

Presidente Rússia Vladinir Putin censura guerra Ucrânia

Presidente Vladimir Putin, em mensagem de fim de ano à nação (Divulgação Kremlin)

A Rússia predeu, julgou e condenou 66 jornalistas que vivem exilados ou estrangeiros desde o início da guerra na Ucrânia. Ações preocupam organizações de imprensa.

Enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, se empenha em convencer Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky a encerrarem a guerra, organizações denunciam o agravamento de violações e táticas de intimidação a jornalistas dentro do território russo que acontecem desde o início da invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Nos últimos 44 meses, 66 jornalistas estrangeiros ou russos exilados foram alvo de “prisões”, julgamentos e condenações no país, mesmo sem estarem presentes.

Os dados são da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e da Fundação Justiça para Jornalistas (JFJ).

Jornalistas condenados e ‘presos’ de forma simbólica

Quatro destas ações aconteceram em apenas 48h neste mês.

No dia 2 de outubro, Ekaterina Kotrikadze e Valeria Ratnikova, jornalistas da TV Rain foram “presas” acusadas de disseminar informações falsas sobre o exército e violar a lei do “agente estrangeiro”. No entanto, a prisão foi um ato simbólico, uma vez que as duas estavam na Holanda, onde vivem.

No mesmo dia, Anna Mongayt, outra jornalista da TV Rain que vive na Holanda, foi condenada a cinco anos de prisão devido a publicações que fez no Telegram.

Já no dia seguinte, Ilya Azar, que vive na Letônia, foi condenada a quatro anos de prisão por supostamente organizar atividades para uma “organização indesejável”.

De acordo com a RSF, o número apresentado exclui os inúmeros processos que estão pendentes, “que alimentam ainda mais a insegurança e a precariedade dos jornalistas no exílio”.

“Mesmo quando um caso é suspenso, ele pode ser reaberto a qualquer momento”, explica a organização.

Este tipo de procedimento penal não tem transparência. Além da ausência física dos profissionais de imprensa, muitas vezes eles sequer são notificados do processo, o que os impede de organizar uma defesa, afirma a RSF.

Ataque da Rússia a jornalistas exilados preocupa

A RSF afirma que as prisões e condenações à revelia são uma forma de criminalizar o jornalismo.

“Uma prisão ou condenação à revelia impossibilita qualquer retorno à Rússia, pois entrar no país, mesmo que brevemente, significa prisão imediata”, explica.

Jeanne Cavalier, chefe do escritório da RSF para a Europa Oriental e Ásia Central, classifica o método como uma “arma política do Kremlin”. “Eles criminalizam seu retorno, ameaçam suas famílias e buscam incutir medo”, diz.

“A RSF apela aos governos europeus para que respondam a essas medidas e tratem a proteção do jornalismo no exílio como uma questão de segurança nacional.”

Vida no exílio e familiares também são prejudicados

Além de não poderem voltar ao país,  os jornalistas exilados que são alvo deste tipo de procedimento ficam impedidos de realizar atividades bancárias ou administrativas no país, mesmo que virtualmente.

Segundo a RSF, os familiares destas pessoas que continuam em território russo também viram alvo do governo.

Quando passam por controles de fronteiras em aeroportos, por exemplo, seus computadores e celulares são revistados. Além disso, sua correspondência costuma ser interceptada e verificada.

Fora do território, alguns jornalistas recebem negativas ao tentar renovar passaportes em embaixadas, por exemplo, o que também os impede de conseguir vistos para viver fora.

Países que cooperam com a Rússia ainda podem extraditá-los, alegando preocupações de segurança.

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