Aproveitando o clima do Halloween, sete especialistas acadêmicos apontaram as obras de arte mais assustadoras e perturbadoras que já viram.
De retratos grotescos a criaturas inquietantes, são pinturas que ficaram marcadas na memória deles por muito tempo após serem vistas pela primeira vez.
Arte assustadora no Halloween: L’inhumation Précipitée (Enterro precipitado), de Antoine Wiertz (1854)
Chloe Ward, professora de história da arte britânica, Queen Mary University of London
Dificilmente há algo mais apavorante do que a ideia de ser enterrado vivo. Na pintura de Antoine Wiertz, uma vítima de cólera, dada como morta, recobra os sentidos no interior da cripta.
Erguendo a tampa do caixão, ele vislumbra um crânio humano na penumbra. Uma aranha corre em direção à abertura, enquanto um rato se esgueira para um caixão adjacente.

Seu rosto se contorce de horror ao perceber: ele despertou para um pesadelo pior do que a morte.
Na Europa dos séculos XVIII e XIX, o medo do sepultamento prematuro era generalizado e, embora mais raro do que se imaginava, a ansiedade não era totalmente infundada.
Durante epidemias, corpos eram enterrados às pressas e havia poucas técnicas precisas para confirmar a morte.
Para se resguardar da terrível possibilidade de ser enterrado vivo, algumas pessoas determinavam que suas artérias fossem cortadas ou suas cabeças decepadas antes do enterro.
A morte instantânea era preferível ao horror do sepultamento em vida que Wiertz retratou de forma tão assustadora.
O poder feminino em Judith Murdering Holofernes (Judith decapitando Holorfernes), de Artemisia Gentileschi (1620)
Pippa Catterall, professora de história e políticas públicas, University of Westminster
O impacto visceral dessa pintura é reforçado pela composição. Nossos olhos são atraídos para a cabeça parcialmente decepada do ainda agonizante Holofernes.

A história vem do Livro de Judite, incluído nas bíblias católica e ortodoxa. Para salvar sua cidade desse general assírio, Judite parte para seduzi-lo e assassiná-lo, com a ajuda de sua serva Abra.
O vívido amarelo e azul dos vestidos das mulheres e o vermelho do leito de Holofernes contrastam com o chiaroscuro do fundo (efeito de luz e sombra em forte contraste).
Isso confere à obra uma intensidade claustrofóbica. Gentileschi pintou o tema duas vezes, mas é sua versão de 1620 a considerada mais poderosa.
Nela, o sangue jorra em parábola das feridas de Holofernes, respingando os braços de Judite.
Ainda assim, são a determinação sombria de Judite e as dores de morte de sua vítima que, para mim, transportam o espectador para o momento íntimo de um homicídio brutal.
O horror mitológico de Goya: Saturno Devouring His Son (Saturno devorando seu filho) (1820–23)
Karl Bell, professor de história cultural e social, University of Portsmouth
Pintada na esteira das guerras napoleônicas e durante a revolução espanhola de 1820–23, essa imagem de pesadelo é a mais poderosa das 14 “pinturas negras” de Francisco Goya.
Diz-se que representa Saturno (Cronos, na mitologia grega) devorando um de seus filhos para impedir a profecia de que seria destronado, combinando de forma grotesca os tabus do canibalismo e do filicídio (matar o próprio filho).

O fundo negro absoluto obriga o espectador a fixar o olhar no corpo desmembrado, no corpo estranhamente anguloso de Saturno e na loucura estampada em seus olhos.
O título não é de Goya, e a sugestão de que se trata de uma cena mitológica distante ou de uma alegoria do tempo que destrói a juventude pode ser apenas uma tentativa de nos afastar de um significado mais sombrio.
Por trás desses esforços, a pintura mostra sem rodeios a frieza do poder, o impulso de destruir rivais, o velho a explorar o jovem.
Dois séculos depois, permanece um retrato gelado dos instintos humanos quando a máscara da civilização é arrancada.
O grito da arte moderna: Francis Bacon e o terror que lembra imagens de Halloween (1944)
Daisy Dixon, professora de filosofia, Cardiff University
Bioformas carnosas com pescoços estendidos, como enguias, se contorcem num espaço laranja. São criaturas sem olhos, mas duas exibem bocas cheias de dentes: uma rosna, a outra grita. São simultaneamente humanas e não humanas.
Three Studies for Figures at the Base of a Crucifixion (1944) by Francis Bacon pic.twitter.com/mihYFUb0DY
— Enchiridion (@Enchiridion3D) September 24, 2025
Essas figuras abjetas foram criadas pelo artista irlandês-britânico Francis Bacon em seu tríptico Three Studies for Figures at the Base of a Crucifixion [Três estudos para figuras na base da crucificação], de 1944. O artista concluiu a obra em duas semanas, movido a álcool e em meio a ressacas.
As figuras representam as fúrias da Grécia antiga: divindades vingadoras do submundo. A data de primeira exibição é pungente: o trabalho foi mostrado ao público nos dias finais da Segunda Guerra Mundial na Europa.
O terror salta dessas telas: elas são, ao mesmo tempo, um lembrete visceral de nossa mortalidade e materialidade corporal e uma expressão dos horrores que os humanos infligiram uns aos outros. E não conseguimos desviar o olhar.
Execuções e fantasmas coloniais: o retrato sombrio da guerra por Vereshchagin (1884)
Åsa Harvard Maare, professora de comunicação visual, Malmö University
Esta pintura do russo Vassily Vereshchagin retrata a execução de um grupo de rebeldes, os Kuka, após uma revolta em Malerkotla, Punjab, em 1872.
A reação britânica foi duríssima, executando os Kukas por “explosão em canhões”: os rebeldes eram amarrados às bocas das armas, que então eram disparadas.

Não há indicação de que Vereshchagin tenha testemunhado o episódio específico dos Kuka. É provável que ele tenha visto ilustrações da rebelião indiana de 1857, com composições semelhantes.
O quadro foi exibido na Grosvenor Gallery, em Londres, como parte de uma trilogia sobre métodos de execução em diferentes partes do mundo.
Essa moldura é perturbadora — ao menos para mim — ao colocar a cena brutal em combinação com uma missão quase etnográfica e distanciada.
Há ainda outra leitura incômoda: a tensão entre a obra como denúncia da violência colonial ou como peça de propaganda política contra o domínio britânico.
A pintura original, que estava armazenada na University of California, Berkeley, foi destruída por danos causados por água por volta de 1950. Sobrevive uma fotogravura em tons de cinza, assim como um esboço colorido hoje exibido no Museu Russo, em São Petersburgo.
Pesadelos aracnídeos: Odilon Redon e a aranha tão presente no Halloween (1881)
Frances Fowle, professora de arte do século XIX, University of Edinburgh
Imagine uma aranha gigante de dez pernas e rosto humano sorridente emergindo da sombra no canto do seu quarto.
O francês Odilon Redon criou essa criatura antropomórfica de pesadelo em grande parte a partir da imaginação, mas também inspirado pela experiência de observar a natureza ao microscópio.

Melancólico e introspectivo desde a infância, Redon foi apresentado ao mundo dos insetos pelo botânico Armand Clavaud.
Sua imaginação também foi alimentada por literatura decadentista, como The Flowers of Evil (As Flores do Mal), de Charles Baudelaire (1857), e o poema gótico The Raven (O Corvo), de Edgar Allan Poe (1845).
Trabalhando principalmente com carvão e litografia, ele produziu toda uma série de imagens em preto e branco — criaturas monstruosas e olhos flutuantes gigantes — que expressavam seus medos subconscientes.
Conhecidas como seus “Noirs” (quadros negros), evocam sua obsessão por visões aterradoras, invisíveis à luz do dia. O escritor Joris-Karl Huysmans as definiu como “um novo tipo de fantasia, nascida da enfermidade e do delírio”.
Monstros interiores de Halloween: Cindy Sherman e suas criaturas híbridas (anos 1980)
Catherine Spooner, professora de literatura e cultura, Lancaster University
A artista Cindy Sherman usa o próprio corpo como tela em branco: investe em maquiagem, próteses, perucas e disfarces e fotografa o resultado diante de cenários cuidadosamente montados. As imagens resultantes são muitas vezes deliberadamente desconcertantes.
Em sua série Disasters and Fairy Tales [Desastres e Contos de Fada], dos anos 1980, ela encarna personagens de filmes de horror e contos folclóricos de pesadelo.

A imagem que considero mais difícil de encarar não é a mais sangrenta nem a mais grotesca, mas Untitled #165 (1986), em que uma criatura híbrida — parte humana, parte animal — com um vestido de gingham se esconde com timidez atrás de uma árvore.
O que ela quer? É malévola ou apenas solitária? Essa criatura parece encarnar as coisas sombrias que não queremos reconhecer em nossa psique, que empurramos para longe, mas que permanecem à margem da consciência. Como sugere a autorretratística de Sherman, esses pesadelos não são monstros de outro lugar, mas versões de nós mesmos.
Este artigo foi publicado originalmente no portal acadêmico The Conversation e é republicado aqui sob licença Creative Commons.

 






 
 
 
 
 
