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Influenciadores

Homens e direitistas: estudo traça o perfil dos influenciadores de notícias no Brasil e no mundo

Instituto Reuters, em Oxford, analisou mais de 40 mil nomes mencionados por usuários de redes sociais em 24 países

Homem com microfone gravando podcast

Foto: @felirbe / Unsplash




Nos últimos anos, criadores de conteúdo e influenciadores digitais passaram a disputar com os veículos tradicionais a atenção do público nas redes sociais. Mas quem são essas novas vozes que dominam o ecossistema de notícias?

O relatório Mapping News Creators and Influencers in Social and Video Networks, publicado nesta terça-feira (28)  pelo Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo, na Universidade de Oxford, oferece a primeira radiografia global desses protagonistas — e revela que o Brasil está entre os países onde eles exercem maior poder de influência.

Com base em mais de 40 mil nomes mencionados por usuários de redes sociais em 24 países, o estudo identifica padrões e características desse novo grupo, visto por muitos como ameaça à confiança e a sustentabilidade econômica da mídia tradicional.

A pesquisa combina dados do Digital News Report e de monitoramentos de plataformas como X (Twitter), YouTube, TikTok e Instagram, traçando um panorama das figuras que hoje moldam a forma como as pessoas se informam e discutem política, sociedade e cultura.

O mapeamento revela que a maioria desses influenciadores de notícias é masculina (85%) e politicamente situada à direita, indicando um domínio de vozes conservadoras no debate público digital.

Influenciadores de notícias: onde o Brasil se destaca

O Brasil aparece entre os seis países com maior volume de menções a influenciadores de notícias — atrás apenas de Estados Unidos, Índia, Indonésia, Tailândia e Quênia — e se destaca pelo alto grau de politização do conteúdo.

Em contextos nos quais a confiança na mídia tradicional é instável e o uso de redes é intenso, essas figuras alcançam um público que muitas vezes ultrapassa o das redações consolidadas.

Segundo o relatório, 54%  brasileiros usam redes sociais para se informar, uma das taxas mais altas do mundo.

Entre os mais jovens, o número é ainda maior, com o TikTok e o Instagram ganhando terreno sobre o YouTube e o X.

Essa predominância digital ajuda a explicar por que criadores independentes — que misturam notícia, opinião e entretenimento — têm níveis de engajamento superiores aos de veículos tradicionais.

Focos dos influenciadores: política e sociedade

Ao contrário de mercados europeus, onde os meios tradicionais ainda dominam o fluxo de informação, o público brasileiro é fortemente moldado por figuras individuais que falam diretamente com suas audiências, aponta o estudo do Reuters.

O relatório não apresenta um ranking nominal, mas identifica grupos de influenciadores com base em seus perfis e temas dominantes.

As contas mais influentes combinam formatos de “explicadores”, “analistas políticos” e “comentadores culturais”, com linguagem próxima e estética de rede. Eles são divididos em grupos com perfis distintos.

  • Comentadores políticos: geralmente homens, com presença marcante em X e YouTube, comentando pautas diárias e se posicionando de forma opinativa.
  • Explicadores e educadores digitais: traduzem temas complexos de economia, ciência e direitos, com linguagem acessível e vídeos curtos.
  • Híbridos: misturam jornalismo, entretenimento e crítica social, muito ativos no TikTok e no Instagram.

No Brasil, a influência desses criadores é alta em proporção ao tamanho do mercado digital, diz o documento.

Enquanto nos Estados Unidos e Índia há mais nomes em destaque e a audiência é mais dispersa, no Brasil, poucos influenciadores concentram grande parte da atenção pública, ampliando seu poder de moldar a agenda e de polarizar o debate.

A comparação internacional mostra ecossistemas distintos: nos Estados Unidos, dominam comentaristas políticos e jornalistas independentes. No Reino Unido, profissionais ligados a veículos ainda mantêm força.

Na Alemanha e França, o público confia mais em veículos tradicionais. Quênia e Índia reúnem criadores-ativistas ligados a causas sociais. Influenciadores mais relevantes da Indonésia e Tailândia mesclam política e entretenimento em formatos leves.

Em comum, todos apresentam predominância masculina e concentração em torno de poucos nomes, o que limita a diversidade de perspectivas, aponta o estudo.

Influência nacional e ecossistema fragmentado

A atenção do público brasileiro é essencialmente doméstica: os influenciadores de notícias que lideram o debate informativo são quase sempre nacionais, reforçando uma dinâmica de conversação interna.

Essa característica difere de países de língua inglesa, onde nomes norte-americanos são amplamente seguidos fora de suas fronteiras.

No Brasil, a comunicação política e social se organiza em torno de influenciadores locais com forte apelo identitário, regional ou ideológico. O resultado é um ecossistema vibrante, porém fragmentado, no qual a proximidade com o público não necessariamente se traduz em pluralidade de visões.

Influenciadores de notícias: perfil de gênero e ideologia

Entre os mais de 40 mil nomes de influenciadores mapeados pelo Reuters, 85% são homens, e há predominância de vozes de direita — assimetria observada também no Brasil, onde a polarização política ampliou o alcance de comunicadores conservadores e libertários.

Embora o ecossistema dos influenciadores seja descrito como “democrático” e acessível, na prática ele reproduz desigualdades de gênero e de representação semelhantes às do jornalismo tradicional.

O papel das plataformas

O levantamento constatou que as plataformas exercem papéis distintos. X e YouTube concentram comentaristas políticos e analistas que se apresentam como independentes.  Instagram e TikTok abrigam formatos híbridos, explicadores e projetos de jornalismo visual.

No Brasil, YouTube e Instagram lideram o consumo de vídeos informativos, enquanto o TikTok mistura atualidades com humor e storytelling, alcançando audiências que raramente consomem noticiários convencionais.

A credibilidade desses atores não depende de formação jornalística, mas da capacidade de gerar confiança e identificação com a audiência. A linguagem é direta, emocional e orientada ao engajamento.

Impacto e risco de desinformação

O estudo reconhece o potencial informativo e criativo desses influenciadores de notícias, mas alerta para riscos de desinformação.

Em muitos contextos, inclusive no Brasil, o público nem sempre distingue entre fontes jornalísticas profissionais e contas pessoais de grande alcance, o que facilita a circulação de conteúdos enganosos ou imprecisos — especialmente em períodos eleitorais e crises.

Influenciadores de notícias: o desafio para as redações

O mapeamento reforça a necessidade de o jornalismo levar em conta essa nova realidade, aprendendo com estratégias de engajamento, formatos visuais e proximidade com o público — sem abrir mão de apuração, transparência e responsabilidade editorial.

Em países como o Brasil, onde os influenciadores de notícias são peças centrais da conversação pública, entender quem são, como atuam e por que influenciam tornou-se essencial para o futuro da informação e da democracia.

O estudo completo pode ser visto aqui.

 

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