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Junta militar de Mianmar anuncia que imprensa será ‘autorizada’ a cobrir as eleições

Protesto em Mianmar, um dos países com regime autocrático no mundo

Protestos em Mianmar, após golpe militar de 2021 (Foto: Pyae Sone Htun/Unsplash)

A Repórteres Sem Fronteiras instou o governo de Mianmar a não apenas permitir a cobertura liver das eleições, mas também libertar mais de 50 jornalistas que seguem presos no país.

O regime militar de Mianmar, um dos países que mais reprime a imprensa no mundo, anunciou que a mídia local será “autorizada” a cobrir as eleições gerais programadas para ocorrer entre dezembro de 2025 e janeiro de 2026.

Por trás dessa reforma, supostamente uma medida de abertura, a junta está de fato preparando as condições para controlar a cobertura de uma votação que já começou a bloquear, denuncia a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

“O anúncio da junta — um regime considerado um dos Predadores da Liberdade de Imprensa de 2025 — de que veículos locais e estrangeiros serão autorizados a cobrir as eleições vem com condições restritas, já que as autoridades militares especificaram que o credenciamento oficial deve ser obtido”, aponta a entidade.

Restrições para imprensa cobrir as eleições em Mianmar

Em julho de 2025, a junta militar que governa o país desde 2021 adotou uma lei sobre interferência eleitoral que prevê pesadas sentenças de prisão para qualquer pessoa que divulgue informações destinadas a “destruir uma parte do processo eleitoral”, sem especificar o que isso representa na prática.

De acordo com a RSF, o secretário do Conselho de Imprensa Independente de Mianmar (IPCM), Toe Zaw Latt, denunciou a lei como um texto projetado para “intimidar jornalistas, para torná-los com medo de criticar ou fazer reportagens livremente”.

As eleições planejadas pela junta militar foram descritas como uma “fraude” pelo Relator Especial da ONU, Tom Andrews, e por vários especialistas internacionais, que citam a falta de independência no processo eleitoral e a contínua repressão da oposição, destacou a RSF.

Para Cédric Alviani, diretor da RSF na região Ásia-Pacífico, “ao fingir permitir a cobertura da mídia enquanto reprime jornalistas por mais de quatro anos, a junta de Mianmar está expondo a profundidade de sua hipocrisia”.

“Ninguém se engane: esta medida é simplesmente uma tática para legitimar novas restrições.

Se a junta realmente deseja mostrar até mesmo uma aparência de mudança positiva, deve libertar imediatamente os 51 jornalistas detidos, abrir verdadeiramente o país à mídia internacional e encerrar sua política de controle sistemático sobre a imprensa.”

Jornalismo independente praticamente desapareceu em Mianmar

Mianmar ocupa o 169º lugar entre 180 países e territórios no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF de 2025. O país é o segundo maior carcereiro de jornalistas do mundo, logo atrás da China.

Desde o golpe de fevereiro de 2021, o jornalismo independente quase desapareceu de Mianmar sob a violenta repressão do regime, em uma situação dramática descrita pela RSF e documentada por diversas organizações internacionais.

Em resposta à repressão, a RSF tem fornecido assistência de emergência a mais de 350 jornalistas por meio do Projeto de Liberdade de Imprensa de Mianmar – uma iniciativa que apoia jornalistas exilados  do país (estimados em cerca de 300 somente na Tailândia) e aqueles que ainda trabalham clandestinamente no território. 

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