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Brasileiros estão entre os que mais culpam a mudança climática por tragédias ambientais, revela estudo

Rua de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, com carros amontoados após passagem de tornado

Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, foi fortemente atingida por um tornado no dia 7 de novembro (foto: redes sociais)

Estudo publicado na Nature Climate Change envolvendo pessoas de 68 países, incluindo brasileiros, identificou o quanto o público compreende que as mudanças climáticas influenciam a ocorrência de eventos meteorológicos mais severos e frequentes.

Um estudo internacional publicado na revista Nature Climate Change constatou que o que realmente impulsiona o apoio público a políticas climáticas não é meramente a exposição a eventos meteorológicos extremos como o tornado no Paraná, mas sim a crença de que esses eventos estão diretamente ligados às mudanças climáticas.

Esta conclusão, baseada em pesquisas em 68 países (incluindo o Brasil) com mais de 71 mil  participantes, sugere que a chamada “atribuição pessoal” de eventos extremos à crise climática é o fator crucial para angariar suporte a ações de mitigação por parte do poder público e de empresas, assim como para impulsionar mudanças de hábito.

O Brasil se destaca como um dos países com maior consciência e atribuição de tragédias ambientais às alterações climáticas. Tornados não são novidade no país, mas a intensidade e frequência desses eventos é apontada pela comunidade científica como influenciada por elas.

Reprodução Nature Climate Change

Os participantes de países sul-americanos, especialmente no Brasil e na Colômbia, foram os que mais fortemente concordaram que a ocorrência de eventos climáticos extremos foi afetada pelas alterações climáticas nas últimas décadas.

Ciência da atribuição e tragédia climática no Texas

O estudo sobre o valor da atribuição foi conduzido pelo consórcio TISP (Trust in Science and Science-related Populism).

Participaram dele pesquisadores afiliados a diversas universidades e instituições de pesquisa como a ETH Zurich (Suíça), a Harvard University (EUA), a Universidade de Cambridge (Reino Unido), a Universidade de Stellenbosch (África do Sul), e a Universidad Complutense de Madrid (Espanha).

A ciência da atribuição é uma das principais vertentes da ciência climática, pois permite levar ao mundo real o que os acadêmicos estudam e pesquisam, principalmente por meio da mídia.

Mas nem sempre ela é exposta como deveria, pois quando ocorrem eventos climáticos como deslizamentos de terra, enchentes e tornados como o que deixou vários mortos em Rio Bonito do Iguaçu nesta sexta-feira (7), informações prestadas pelas autoridades se concentram nos impactos imediatos da tragédia, busca por sobreviventes e medidas de reconstrução.

Eventos extremos e percepção da crise climática

A pesquisa publicada na Nature Climate Change aponta que, para cinco dos sete tipos de eventos climáticos extremos examinados (como inundações, ondas de calor, secas), a simples exposição da população não levou a um apoio às políticas climáticas.

Ou seja, o mero fato de uma comunidade ser atingida por um desastre não se traduz automaticamente em maior cobrança ou aceitação de políticas de mitigação, que muitas vezes envolvem mudança de hábito como usar menos o carro e reduzir o consumo de certos alimentos.

Apenas para incêndios florestais houve uma associação positiva. Mas mesmo essa relação se tornou estatisticamente não significativa em análises mais aprofundadas.

Em países mais expostos a chuvas fortes, o apoio foi menor, possivelmente porque as pessoas muitas vezes não conseguem associar chuvas extremas às alterações climáticas — como ocorreu na recente tragédia climática no Texas.

Essa complexidade sublinha a necessidade de que a experiência de eventos extremos seja acompanhada da atribuição subjetiva para que se converta em apoio político, salienta o estudo.

Alta consciência climática na América Latina

A alta atribuição na América Latina foi associada pelos pesquisadores à elevada crença nas alterações climáticas causadas pelo homem e pela alta experiência pessoal auto-relatada de eventos extremos na região.

Adicionalmente, o estudo aponta que as pessoas em países latino-americanos estavam entre as mais propensas a relatar que as alterações climáticas as prejudicarão e às futuras gerações, e que deveriam ser uma alta prioridade para seus governos.

Reprodução Nature Climate Change

Embora a atribuição subjetiva seja alta, o texto menciona uma nuance para alguns países latino-americanos:

“A relação entre atribuição subjetiva e apoio político foi mais fraca em alguns países latino-americanos, o que pode ser devido a um efeito de teto”.

Isso quer dizer que o apoio a políticas climáticas já é alto nesses países. A maioria das pessoas já apoia intensamente as políticas, tornando a relação com a atribuição menos variável, mas não menos significativa em termos de conscientização.

Medidas de mitigação e apoio da população

O apoio geral a políticas climáticas foi substancial em todos os países estudados na pesquisa conduzida pelo TISP.

As políticas analisadas incluíram aumentar impostos sobre alimentos intensivos em carbono (como carne bovina e laticínios), aumentar impostos sobre combustíveis fósseis, expandir a infraestrutura de transporte público, aumentar o uso de energia sustentável (como eólica e solar) e proteger áreas florestais e terrestres.

Mediadas como proteção de áreas florestais e terrestres e o aumento do uso de energia sustentável foram as mais populares, enquanto o aumento de impostos sobre carbono recebeu o menor apoio.

 Veja a pesquisa completa aqui.

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