Em resumo
- Monitoramento internacional da imprensa mostra queda consistente da quantidade de notícias sobre clima.
- Pesquisadores alertam para a perda de visibilidade do tema fora dos períodos de conferências climáticas como a COP30.
Mesmo com os picos gerados por eventos como a COP30, a redução da quantidade de notícias sobre clima na imprensa mundial constatada pelo projeto MeCCO, da Universidade do Colorado, sinaliza uma desconexão preocupante entre a cobertura jornalística e a gravidade da crise ambiental.
A COP30, cúpula climática da ONU que será realizada a partir desta segunda-feira (9) em Belém, obriga a imprensa global a dar mais atenção a questões como a mudança climática, o desmatamento e o financiamento para mitigar os efeitos do aquecimento global – mas apesar da gravidade da crise, a quantidade de notícias sobre o tema ao longo dos anos é cada vez menor.
A constatação é do MeCCO (Media and Climate Change Observatory), projeto sediado no Universidade do Colorado reunindo pesquisadores de 15 instituições. Há mais de 20 anos o projeto monitora mensalmente a cobertura de imprensa de sete regiões do mundo, envolvendo 59 países, incluindo o Brasil.
A cobertura do tema na mídia em 2024 caiu 16% em relação a 2023. Os níveis de 2024 ficaram em sétimo lugar nos 21 anos de monitoramento.
E este ano a situação não é diferente.
Dois meses antes da COP em Belém, mais notícias sobre clima na imprensa
A cobertura da mídia de setembro sobre mudanças climáticas ou aquecimento global em jornais em todo o mundo aumentou 22% em setembro deste ano em comparação a agosto. Essa é uma tendência normal, devido à aproximação da COP.
No entanto, comparando-a à que foi registrada em setembro de 2024, houve uma queda de 16% nas sete regiões geográficas analisadas pelo projeto.
O conteúdo sobre clima produzido pelas agências internacionais de notícias, que alimentam jornais, sites, rádios e TVs, recuou 9% em relação a agosto e 33% em comparação a setembro de 2024.
A queda global do tema no noticiário é preocupante, dizem os pesquisadores, pois a conscientização e mobilização da população dependem da cobertura da imprensa.
A redução sugere que o mundo se habituou ao perigo das mudanças climáticas após um pico de conscientização.
A desaceleração segue as reduções contínuas nos últimos três anos desde 2021, que foi o ano até o momento com a maior quantidade de cobertura de mídia impressa globalmente.
A pesquisa do MeCCO revela queda de 10% em 2022 e de 4% em 2023, mantendo-se, porém, acima da década anterior.
COP: a conferência do clima na imprensa
As conferências do clima da ONU podem não produzir os avanços práticos no nível que todos esperam, mas sua realização representa um estímulo à causa do clima por colocar as mudanças climáticas em evidência.
Todo ano há um aumento significativo das menções à sustentabilidade ambiental e ao clima em novembro, coincidindo com a realização anual das COPs, sendo mais acentuada nos países-sede e nas regiões onde estão situados.
Este ano não está sendo diferente. E a “janela de visibilidade” foi até expandida pois a Cúpula de Líderes aconteceu na semana anterior à da abertura da conferência.
E a escolha do Rio de Janeiro pelo príncipe William para sediar a cerimônia de premiação do Earthshtot Prize gerou cobertura no Brasil, no Reino Unido e em vários outros países, colocando em evidências as iniciativas destinadas a combater as mudanças climáticas.
No entanto, os pesquisadores do projeto da Universidade do Colorado observam que a atenção da mídia durante as COPs tende a ser mais concentrada em negociações e anúncios de políticas, deixando de lado questões mais amplas relacionadas às mudanças climáticas.
Apesar disso, o MeCCO reconhece que a visibilidade proporcionada por esses eventos é fundamental para manter o tema em pauta e aumentar a conscientização.
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